O desabamento do império de Eike Batista teve o estrondo mais ruidoso nesta quarta-feira, quando a petroleira OGX , joia da coroa do empresário que há um ano era apontado pela revista Forbes como o sétimo mais rico do mundo, pediu recuperação judicial – processo antes chamado de concordata. Com valor de mercado estimado hoje em R$ 744 milhões e dívidas de R$ 11,2 bilhões – 15 vezes maior – e credores relutantes em renegociar condições de pagamento, não restou alternativa à OGX para evitar uma falência imediata – e a liquidação dos bens da companhia e de Eike – senão recorrer à Justiça.
Na prática, o pedido, o maior da história para uma empresa latino-americana, protege os bens da companhia por ao menos 180 dias e coloca nas mãos de um juiz o plano de salvamento da empresa. A partir do momento em que a recuperação judicial for aceita, a empresa tem 60 dias para apresentar uma proposta de reestruturação de suas finanças. Os credores terão então 30 dias para aprovar (ou não) o plano. Mas esse processo todo pode se prolongar por anos.
No papel, a OGX chegou a ser um colosso avaliado em R$ 75,2 bilhões, colocando Eike, seu principal acionista, entre os maiores bilionários do mundo. Foi celebrado por publicações especializadas em economia – que agora se assombram com a capacidade de perder tanto dinheiro em tão pouco tempo –, governos e no meio empresarial. Na vida real, a festejada ousadia foi prejudicada pelo excesso de risco em negócios com remota possibilidade de fazer dinheiro no ritmo prometido. O que começou a precipitar o fim do império foi a reavaliação das reservas de petróleo em um campo chamado Tubarão Azul a apenas um terço do volume que propagandeava. A partir daí, Eike perdeu o principal ativo no mundo dos negócios: o crédito, tanto pessoal quanto financeiro.
– Conforme foi perdendo confiança de investidores, não conseguiu captar mais dinheiro no mercado para tocar seus projetos ou pagar os juros da dívida. Restou a recuperação judicial e a decepção que quem comprou o sonho de Eike Batista – afirma o analista de mercado Frederico Vontobel, diretor da Vokin Investimentos.
Investimentos no Sul só na promessa
Rio Grande do Sul e Santa Catarina provaram da promessa de contar com projetos de Eike Batista, que não saíram do papel. Eike planejou imponentes construções nos Estados do Sul: em Biguaçu, na Grande Florianópolis, a OSX chegou a comprar terreno para erguer um estaleiro onde construiria plataformas para a produção de petróleo da OGX.
O que surgiu como plano de investimento de R$ 2,5 bilhões e geração de 14 mil empregos terminou em guerra com ambientalistas e moradores. Protestos sucederam-se na área nos dias após o anúncio, e uma audiência pública foi convocada na câmara dos vereadores para debater formas de impedir o projeto. A alegação era de que afetaria demasiadamente o ecossistema local e terminaria com o sossego dos moradores. Sob pressão, o Ibama não autorizou a construção do estaleiro, que acabou indo para o Rio de Janeiro.
No Rio Grande do Sul, a MPX – que se tornou Eneva depois de Eike transferir o controle para a alemã E.ON e ficar com participação minoritária e poder de voto em conselho – recebeu licença ambiental mas não ergueu uma termelétrica em Candiota. Anunciada há seis anos, a usina de Seival, que absorveria R$ 3,1 bilhões, chegou a ser reavivada neste ano, quando se habilitou a disputar o leilão de energia de agosto, mas na última hora não entrou na disputa. Conforme analistas, o preço mínimo pedido pelo governo federal teria sido considerado baixo pelas termelétricas. O governo do Rio Grande do Sul se mantém convicto de que o investimento possa sair no próximo leilão.
A trajetória de Eike Batista
Ele chegou a aparecer em 7º lugar na lista dos homens mais ricos do mundo, mas, em cinco anos, viu a principal empresa do seu conglomerado, a petroleira OGX, entrar com pedido de recuperação judicial com uma dívida estimada em R$ 11,2 bilhões, 15 vezes maior que o valor da companhia.
Conheça a trajetória da OGX e do empresário Eike Batista:
Julho de 2007: joia da coroa
Eike cria a petroleira OGX após captar US$ 1,3 bilhão com fundos de investimentos privados — sobretudo estrangeiros.
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Neste mesmo ano, arremata seus primeiros blocos exploratórios — ao todo são 21 — na rodada de licitações promovida pela ANP
Junho de 2008: DIA HISTÓRICO NA BOLSA
OGX faz a maior oferta de ações da história da bolsa até então. Cada ação sai pelo valor de R$ 11,31. O empresário conseguiu captar R$ 6,7 bilhões com a oferta e o papel disparou 18% no primeiro dia de negociação.
Outubro de 2010: MUITO PETRÓLEO..
A OGX divulga relatório prevendo a produção de 15 mil barris por dia em apenas um poço da área de Waimea, na Bacia de Campos. As ações da empresa chegaram a valer R$ 23,27.
Março de 2012: PERTO DO TOPO
Eike aparece em 7º lugar na lista de homens mais ricos do mundo divulgada anualmente pela revista Forbes.
26 de junho de 2012: NEM TANTO...
Em comunicado, a OGX avisa que a produção máxima em cada um dos poços na Bacia de Campos será de 5 mil barris por dia e não 15 mil, conforme havia previsto. A informação surpreende o mercado.
27 de junho de 2012: LADEIRA ABAIXO
No dia seguinte ao anúncio da menor produção de petróleo, as ações da OGX tiveram queda de quase 30% na Bolsa
outubro de 2012
"Se o mercado não me quer, eu me quero"
Eike compra US$ 1 bilhão em ações da OGX, para acalmar a sangria na queda de valor da companhia.
Março de 2013: LONGE DO TOPOD
epois de perder quase R$ 20 bilhões em um ano, Eike despenca de 7º para 100º na lista dos mais ricos da revista Forbes.
Abril de 2013: QUEDA DE 92%
Cotada a R$ 23,27 em outubro de 2010, a ação da OGX chega a valer R$ 1,99 na Bolsa de Valores.
Maio de 2013: TURBULÊNCIA
Eike Batista coloca à venda um jato executivo modelo Legacy 600, da Embraer, ano 2008. A aeronave tem capacidade para transportar 13 passageiros e preço estimado em R$ 14,5 milhões.
Junho de 2013: SEM FÔLEGO
Sem conseguir um parceiro para operar o empreendimento, Eike põe à venda o Hotel Glória, no Rio de Janeiro, estimado em R$ 80 milhões.
1º de julho de 2013: PLANOS CANCELADOS
A OGX anuncia a suspensão da produção de petróleo do campo de Tubarão Azul em 2014 e cancela plano de exploração de outros áreas.A agência de classificação de risco Standard & Poor's rebaixa a nota da empresa para grau próximo de "calote". Ações da empresa despencam para menos de R$ 0,50 na Bolsa.
2 de setembro de 2013: MENOS RICO
Forbes tira Eike Batista de sua lista de bilionários. Publicação americana confirma no início do mês que fortuna de empresário não passa de US$ 900 milhões.
4 de setembro de 2013: venda de garagem
Em meio à crise, Eike Batista resolveu enxugar o orçamento e tentou vender o iate cinco estrelas Pink Fleet, que tinha custos mensais de R$ 300 mil. Sem comparadores, quis doá-lo para a Marinha, que não se interessou. O navio acabou levado a um estaleiro em São Gonçalo (RJ) para ser desmanchado e vendido como sucata.
9 de setembro de 2013: FATIA REDUZIDA
A empresa de energia de Eike Batista, a MPX, muda de nome e passa a se chamar Eneva. Uma semana depois, a participação do empresário na companhia é reduzido de 29% para 23,29%.
16 de setembro de 2013: silêncio QUEBRADO
O empresário concede entrevista para o The Wall Street Journal. Ao jornal americano, Eike culpa executivos e sorte por colapso e diz que está comendo vidro.
1º de outubro de 2013: CALOTE RECORDE
A OGX, do empresário Eike Batista, confirmou o calote nas parcelas referentes aos juros de US$ 45 milhões de bônus, como já era esperado.
29 de outubro de 2013: PRÓXIMO DO FUNDO
OGX falha em conseguir acordo com credores para reestruturar sua dívida, estimada em US$ 3,6 bilhões.
30 de outubro de 2013: fundo do poço
OGX dá entrada no pedido de recuperação judicial da petroleira. Com valor de mercado estimado em R$ 744 milhões e dívidas de R$ 11,2 bilhões, não restou alternativa à companhia senão recorrer à Justiça.
Na prática, o pedido protege os bens da companhia por ao menos 180 dias e coloca nas mãos de um juiz o plano de salvamento da empresa. A partir do momento em que a recuperação judicial for aceita, a empresa tem 60 dias para apresentar uma proposta de reestruturação de suas finanças. Os credores terão então 30 dias para aprovar (ou não) o plano.
As ações da empresa na Bovespa fecharam o dia negociadas a R$ 0,16
Fonte: Zero Hora (RS)