Sete Brasil vence licitação para fornecer 21 ativos à Petrobras. Com prazos de 15 anos, contratos somam cerca de US$ 75 bilhões
A Sete Brasil foi a vencedora, no último dia 9 de fevereiro, da licitação da Petrobras para o fornecimento de 21 sondas de perfuração para a exploração da área do pré-sal. Com 28 ativos encomendados pela estatal — já que também é responsável pela construção de sete sondas para exploração em águas ultraprofundas de um primeiro lote licitado no ano passado — a empresa passa a ser a primeira colocada no mundo em frotas de sonda.
Os contratos para as 21 sondas tipo offline, que somam cerca de US$ 75 bilhões, terão duração de 15 anos, que começam a contar a partir da data da primeira entrega, daqui a quatro anos. A última tem previsão de entrega em 2020. Segundo a Sete Brasil, as unidades terão conteúdo local médio de 62%, com uma variação de 55% a 65%, o que resultará na criação de mais de 110 mil empregos diretos e indiretos na construção até 2020.
Empresa de investimentos especializada em gestão de portfólio de ativos voltado para o setor de petróleo e gás na área offshore no Brasil, especialmente relacionados ao pré-sal, a Sete Brasil não é operadora de ativo. O negócio da companhia envolve uma sociedade entre ela, através da expertise de gestão de portfólio e de mitigação de riscos, e um sócio, que vai operar o ativo. “Nós sempre somos sócios de algum operador e essa sociedade contrata junto ao estaleiro a construção de uma sonda, que vai ser de propriedade dessa parceria”, explica o presidente da Sete Brasil, João Carlos Ferraz.
No Estaleiro Atlântico Sul (EAS), em Pernambuco, serão construídas sete sondas, referentes ao primeiro lote licitado pela Petrobras. Nas duas primeiras, a Petrobras atuará como sócia e operadora. Nas outras cinco, a estatal continuará como sócia, mas tem o direito de vender sua participação para um operador de mercado. Para a operação das outras 21 sondas, a companhia se associou a seis parceiros: Etesco, Odebrecht, Odfjell, Petroserv, Queiroz Galvão e Seadrill.
A Sete Brasil também já está em negociação com cinco estaleiros para a construção das unidades.
O estaleiro Keppel poderá ser responsável pela construção de seis sondas. A Sete Brasil tem parceria em três delas com a Queiroz Galvão, em duas delas com a Petroserv e em uma com a Odebrecht. O Enseada do Paraguaçu, que está sendo construído na Bahia, também poderá fazer seis sondas. Os operadores de quatro delas serão a Odebrecht e as outras duas serão operadas pela Etesco. A Odfjell e a Seadrill vão operar, cada uma, três sondas que poderão ser construídas no estaleiro Jurong, no Espírito Santo. Já o estaleiro Rio Grande poderá ser responsável pela construção de três sondas. Neste caso, a parceria da Sete é com a Etesco.
Segundo Ferraz, a empresa também negocia com a OSX duas sondas adicionais, cujo operador ainda não está definido. “Só temos um contrato fechado com a Jurong e um com a Keppel. Com os demais, estamos ainda em fase diferente de negociação”, explica. A previsão da companhia é que os contratos estejam concluídos dentro de dois meses. O prazo para a entrega da primeira unidade é de 48 meses, 58 meses para a segunda e da terceira a sétima a diferença é de oito meses. Para cada lote de sete é repetida essa sequência.
Deste lote de 21, segundo Ferraz, a primeira sonda a ser entregue deverá ser do estaleiro Keppel.
“Não temos obrigação de entregar sondas do estaleiro A, B ou C. Então à medida que a sonda vai ficando pronta, nós a entregamos, não interessa de qual estaleiro ela venha”, destaca o executivo. O executivo destaca também que são os próprios estaleiros que selecionam os projetos de construção. No EAS, por exemplo, será utilizado o projeto da Samsung; já o Enseada do Paraguaçu e o Jurong selecionaram como projetista a LMG. Rio Grande e OSX contam com projetos, respectivamente, da Gusto e da Hyundai. O Keppel utilizará o próprio projeto. Ter licença de instalação concedida foi uma das condicionantes para a pré-qualificação exigida pela Sete Brasil para aceitar as propostas.
O portfólio da Sete Brasil conta com 30 sondas, das quais 28 são as contratadas com a Petrobras. Outras duas, que serão construídas no Jurong e no Keppel, serão unidades spot para gestão de portfólio. “Os 28 contratos que temos com a Petrobras são mais do que suficientes para levantar financiamento para fazer as 30 sondas e talvez até mais do que isso. Mas ter sonda para operar no mercado spot é fantástico sob o ponto de vista de gestão de ativos”, estima Ferraz.
A companhia fechou, no último mês de janeiro, uma garantia de contrato no valor de US$ 809 milhões com o Keppel Offshore & Marine para a concepção e a construção de uma plataforma semissubmersível de perfuração. A unidade deve começar a operar no final de 2015 e tem capacidade para perfurar a uma profundidade de 10 mil metros. Com comprimento total de 108 metros, a plataforma poderá receber uma tripulação de até 160 pessoas. O deslocamento operacional é de cerca de 45 mil toneladas.
Com o Jurong, a Sete Brasil também firmou uma garantia de contrato de cerca de US$ 792,5 milhões para engenharia, suprimento e construção de um navio-sonda. Com alojamento para uma tripulação de até 180 pessoas, a embarcação possuirá ampla capacidade de carga e espaço útil, equipamentos de perfuração avançados e um amplo moon pool central. Segundo a Sete Brasil, a posição de perfuração será mantida por um sistema de posicionamento dinâmico com alta redundância, evitando a necessidade de ancoragem. Serão utilizados seis geradores de energia e seis propulsores azimutais. O navio-sonda será capaz de operar a 10 mil pés de profundidade e perfurar poços de até 40 mil pés. A entrega está prevista para o segundo semestre de 2015.
Para construir as 30 sondas, a companhia necessitará de investimentos de aproximadamente US$ 27 bilhões. Metade deste montante, equivalente a US$ 13,5 bilhões, serão provenientes de financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Outros 25%, ou US$ 6,5 bilhões, virão de equity e os outros US$ 7 bilhões de outros financiamentos, divididos entre as agências de crédito de exportação e de bancos comerciais. Estes, no entanto, devem ser os últimos a entrarem no processo. “O prazo de carência dos bancos comerciais é menor. Além disso, por conta da crise de liquidez atual no mercado, preferimos esperar um pouco mais e pagar um custo reduzido mais adiante”, afirma Ferraz.
Para o presidente da Sete Brasil, a opção da Petrobras pela contratação de um grande lote de sondas foi um grande benefício para o programa de construção naval no país. “Em vez de dividir essas 21 sondas em 21 estaleiros, procuramos agrupar isso de uma forma a gerar escala, que traz dois benefícios: aprendizado para o estaleiro e menor custo, devido a maior escala”, exemplifica.
A taxa diária média apresentada pela Sete Brasil à Petrobras foi de US$ 530 mil mas, segundo Ferraz, existe a possibilidade de reduzi-la para até US$ 500 mil. Na contratação das sondas, a Sete Brasil flexibilizou algumas condições, como o acréscimo de um dia para a realização da docagem da embarcação. Ferraz explica que havia no contrato uma previsão de cinco dias ao ano de franquia para que o trabalho, que leva cerca de 30 dias, fosse feito. Com a flexibilização, a Petrobras permite que a docagem seja concluída em seis dias.“Se eu operasse por quatro anos direto e fosse para docagem, teria direito, sem ser penalizado, a 20 dias. Se eu estimo 30 dias, os 10 dias são uma contingência que tenho que colocar no preço. Com o acréscimo, nesse mesmo cenário, eu teria 24 dias para parar e fazer o trabalho”, comenta.
A Sete Brasil tem atualmente capital subscrito com todos os seus acionistas e cotistas de R$ 1,9 bilhão, mas já negocia um aumento de capital, cujo valor deve ser definido ainda no primeiro trimestre. Dois investidores já demonstraram interesse nesta participação. A Luce Drilling, empresa brasileira criada especificamente para investir na Sete Brasil, poderá aportar até R$ 300 milhões. Já a EIG Group, investidor norte-americano com sede em Washington, deve investir até R$ 500 milhões.
O direito de preferência, no entanto, é dos acionistas existentes. Portanto, no processo de aumento de capital, havendo saldo após o exercício de preferência, o primeiro a entrar é a Luce Drilling e o segundo é o EIG Group. No total, a Sete Brasil conta com oito investidores: Petros, Funcef, Valia, Previ, Bradesco, BTG Pactual, Santander e Petrobras.
Além das sondas de perfuração, a Sete Brasil também está analisando outros nichos de mercado onde o pré-sal vai demandar ativos, como FPSOs, navios de transporte e barcos de apoio. “Queremos participar dessa oportunidade gigantesca que é o pré-sal. Qualquer ativo que se encaixe nesse modelo, onde somos sócios de alguém que é expert em operação de ativo, nos atrai”, conclui.