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Engenharia básica e de detalhamento de projetos navais vão bem no Brasil, mas empresas de projeto conceitual têm espaço restrito

 

Do conceitual ao detalhamento, a engenharia de projetos tem suas nuances e, por todas as suas fases, é um mercado amplo. Para as engenharias básica e de detalhamento, o Brasil conta com diversas empresas nacionais e algumas estrangeiras também estão chegando para abocanhar uma fatia do mercado. Na área conceitual, no entanto, boa parte dos projetos têm sido feitos no exterior e, para as empresas nacionais, esse tem sido um mercado de difícil acesso.

“O que se tem hoje são projetos conceituais que vêm de fora do país e muitas vezes com detalhamento sendo feito no Brasil. É muito difícil uma discussão a respeito de dimensões, de se discutir premissas e novos conceitos de embarcações a serem construídas no Brasil”, afirma o diretor da Oceânica Offshore, Daniel Cueva. A companhia atua hoje mais fortemente no mercado offshore, que conta com projetos sendo executados no país desde as suas primeiras fases. “Trabalhamos muito com consultoria na execução de ensaios para a parte naval e offshore e cerca de 90% desses ensaios são para o setor offshore”, conta.

A engenharia conceitual antecede a básica e a de detalhamento. Quanto mais inicial, mais cara é a engenharia. Segundo Cueva, é um homem-hora mais valioso, porque estão sendo discutidas ideias, conceitos e alternativas. Apesar de custar pouco frente ao valor total do investimento, a engenharia conceitual pode comprometer boa parte do projeto. “Para um navio projetado para cabotagem, não tem sentido pegar um projeto norueguês do Mar do Norte, utilizá-lo aqui e esperar o mesmo efeito. Quanto mais no início, mais se tem a possibilidade de alterar o projeto para se adaptar melhor ao que se quer fazer”, diz ele. Em atuação desde 2003, a Oceânica Offshore foi formada por um grupo de engenharia naval da Universidade de São Paulo (USP) e trabalhava em projetos de pesquisa com universidades. A partir de 2007, a empresa começou a atuar de forma ampla no mercado com foco nas engenharias conceitual e básica.

Para o diretor da PGE (Planejamento e Gerenciamento de Projetos), Marcos Leite, as empresas brasileiras deveriam ter prioridade na produção dos projetos a fim de se obter conteúdo nacional de tecnologia. “Temos participado do planejamento de construção de muitas embarcações em diversos estaleiros e pudemos constatar que a maioria dos projetos navais vêm de fora do país, como Noruega e China. Temos no Brasil grandes empresas projetistas que deveriam ser protegidas por lei que obrigasse a participação delas em todos os projetos navais”, sugere. No mercado há 15 anos, a PGE tem uma divisão interna especializada em planejamento e projeto naval.

A Kromav Engenharia também tem tido maior participação no setor offshore que na construção de navios, de acordo com o diretor da empresa, Ricardo Vahia. No entanto, ele acredita que existem chances de a empresa voltar a atuar mais fortemente na área naval em razão da vinda da IHI Marine United,  divisão  de  construção  naval e offshore  da  Ishikawajima-Harima Heavy Industries para o Brasil. “Acreditamos que vai aumentar a possibilidade de fazermos esse tipo de atividade, porque nós no passado trabalhamos na Ishibras”, diz. A companhia nasceu em 1996 proveniente do departamento de projetos da IVI, fusão da Ishibras com a Verolme.

No último mês de setembro, a Amec, empresa internacional de engenharia e gerenciamento de projetos, adquiriu a participação de 50% da Kromav Engenharia. A Amec é especializada em consultoria, engenharia e gerenciamento de projetos para clientes nos mercados de petróleo e gás, entre outros. Com faturamento anual de £3.3 bilhões, a empresa emprega mais de 29 mil pessoas em cerca de 40 países. A empresa passa a se chamar Amec Kromav, que buscará aliar a especialidade em engenharia da Kromav com a capacidade da Amec em desenvolver projetos de porte em nível internacional, incluindo 50 projetos globais de FPSO.

As empresas internacionais têm vislumbrado o mercado brasileiro e visto no país uma possibilidade de novos negócios. Uma das que se instalou no país esse ano foi a Dinabex, formada pela Dinain Brasil e Abance Brasil, duas das principais empresas de engenharia naval da Espanha que já estão no mercado brasileiro há cerca de um ano. Desde o mês de junho no país, a empresa tem um escritório no Rio de Janeiro e conta com um total de 300 engenheiros e técnicos.

O primeiro contrato inclusive já foi fechado. A empresa será responsável pela engenharia de detalhamento de OSRVs que serão construídos no estaleiro Eisa e que vão operar para a Petrobras.

“Estamos recebendo os primeiros planos para trabalhar. É um desenho de outra empresa e nós  vamos fazer todo o detalhamento com acabamento avançado, que reduz os prazos de construção dos navios”, diz o gerente comercial da Dinabex, Daniel Díaz. O processo deve levar cerca de oito meses para ser concluído.

Quem também acabou de iniciar as operações no Brasil foi a CT Ingenieros (CTI), uma multinacional espanhola de engenharia com quase mil engenheiros e consultores em vários países, com principal foco de atuação na Europa. É uma empresa especializada em desenvolvimento de projetos mecânicos e inovação em seis áreas distintas de atuação, como naval e offshore. Com enfoque multidisciplinar, a companhia atua há 13 anos em todo o ciclo de vida dos produtos, desde o desenvolvimento do projeto básico e do funcional até o comissionamento e entrega técnica.

“Nossa intenção é capitalizar nossa experiência na área de engenharia naval e aproveitar as atuais demandas locais desse setor”, declara o diretor de Desenvolvimento de Negócios da CTI, Jesús Navarro, acrescentando que pretende também se estabelecer em São Paulo ou São José dos Campos visando à atuação na indústria aeronáutica. Atualmente a companhia está baseada no Rio de Janeiro.

 

Independente da área de atuação das empresas, experiência e manutenção dos bons profissionais têm sido considerados diferenciais nesse ramo. Para Navarro, a CTI não tem interesse em fornecer serviços de engenharia no Brasil utilizando recursos do exterior. “Nossa intenção é a de realizar o serviço localmente, porque nosso objetivo de longo prazo é o de desenvolver e qualificar mão de obra brasileira com sólidas raízes locais para atendermos às demandas internas em serviços de engenharia”, afirma ele. Por isso, neste momento a companhia trabalha na prospecção do mercado laboral brasileiro, escolhendo seus líderes técnicos que formarão o núcleo do escritório. Uma vez que o grupo esteja formado, a empresa poderá começar a capitalizar a prospecção comercial, que já está sendo realizada há cerca de um ano e meio.

A Dinabex também tem a intenção de formar engenheiros e projetistas brasileiros, o que será realizado através de transferência de tecnologia. A companhia já tem há cerca de dois meses profissionais espanhóis no Brasil para isso. “A nossa fortaleza é a grande experiência dos nossos profissionais, que estão acostumados a trabalhar nos estaleiros e que entendem os problemas do dia a dia que podem ocorrer em um estaleiro. Não é gente formada que sai da faculdade e está trabalhando em escritório”, salienta Díaz.

Esse também é um diferencial considerado pela Kromav. “A empresa veio de um estaleiro e portanto sabe bem as necessidades do cliente. Nosso pessoal tem muito essa visão de construtibilidade, ou seja, nosso produto tem que ser facilmente construído, montado, soldado”, destaca Vahia. Com a parceria com a Amec, a Kromav pode aumentar em até três vezes mais seu contingente, que hoje é de cerca de 200 funcionários, de acordo com as demandas que surgirem.

Leite, da PGE, acredita que a experiência da equipe e o conhecimento acumulado destacam a empresa no mercado. “Nossos concorrentes são o próprio departamento de planejamento dos estaleiros. Porém, com o hiato que tivemos na construção naval nos últimos 20 anos, a formação de técnicos em planejamento praticamente acabou. Nosso pessoal é antigo, traz todo aquele conhecimento da época boa da construção naval e pode passar para os mais novos toda experiência adquirida”, diz ele, acrescentando que a maioria dos funcionários realizam cursos que fortaleçam seus conhecimentos nas ferramentas necessárias para o desenvolvimento do trabalho.

 

Uma iniciativa da Oceânica Offshore de atualização dos próprios funcionários se transformou em cursos de treinamento aos profissionais do mercado. Duas vezes por ano, a empresa realiza a semana de atualização, que dura de três a cinco dias, em que apresenta palestras com temas que tenham espaço para o desenvolvimento tecnológico. Para o setor naval, por exemplo, já foram realizados seminários voltados para manobra de navios, sistemas de propulsão e posicionamento dinâmico. “Alguns clientes pediram para participar desse treinamento. Daí começamos abrindo algumas vagas e isso foi aumentando até que se tornou um negócio aberto hoje para o mercado”, conta Cueva.

Para se atualizar sobre as tecnologias que estão sendo utilizadas no mercado internacional, a companhia mantém desde 2007 uma parceria com o Maritime Research Institute Netherlands (Marin), organização especializada em P&D para o setor offshore, naval e náutico. Através de um acordo de cooperação entre ambos, os projetos são realizados de forma cooperativa. “Foi uma maneira que encontramos de poder interagir com quem está fora e ver as boas práticas do mercado internacional. Também mandamos engenheiros nossos para lá para acompanhar os projetos. É uma maneira de treinamento”, acrescenta.

A valorização e manutenção pelas empresas dos bons profissionais decorre principalmente da carência de mão de obra qualificada. Díaz, da Dinabex, avalia que a forte demanda da construção naval tem sido causa da falta de profissionais qualificados e com ampla experiência. Por outro lado, diversas empresas de engenharia naval têm estado saturadas e com pouca capacidade de trabalho.

A escassez de bons profissionais tem sido um dos principais desafios da Kromav. A companhia inclusive contratou uma engenheira naval grega para suprir a carência. A chegada de empresas do exterior ao Brasil, diz Vahia, tem forçado a companhia a se capacitar cada vez mais. Navarro, da CTI, destaca que a empresa é dirigida por engenheiros e não por economistas, o que faz com que, no seu desenvolvimento estratégico, pesem critérios técnicos valorizados pelo staff sobre os resultados meramente financeiros. “Talvez por isso nosso nível de rodízio de funcionários seja extremamente baixo e conseguimos reter talentos dentro de nossa companhia. Essa é a chave de nosso negócio”, afirma.

Um programa de formação interna foi a solução encontrada pela Oceânica Offshore para que a questão de mão de obra não fosse um gargalo. A companhia tem interagido com universidades a fim de buscar alunos ainda na graduação para estagiar na companhia e continuar posteriormente após a conclusão do curso. “Sentimos falta de contrato e não de mão de obra. “Temos tido muito mais dificuldades pela falta de iniciativa de projetos desse tipo no Brasil devido à insistência de se fazer projetos conceituais e básicos de engenharia naval no exterior”, lamenta Cueva. Outra iniciativa da companhia é a diversificação. Segundo o executivo, são realizados dentro da empresa diversos cursos de atualização para engenheiros navais, mecânicos, civis a fim de que as áreas se complementem.

O principal mercado da indústria naval no Brasil são os navios de apoio offshore, observa Díaz, da Dinabex. Por isso, o foco da companhia hoje são os supplies, drill ships, FPSOs, PSVs, Aframax, petroleiros e gaseiros. No setor militar, a companhia objetiva a participação da engenharia de patrulheiros, fragatas, porta-aviões e submarinos. Na Espanha, a empresa, através da Dinain e Abance, já fez a engenharia das plataformas P-26, P-32 e P-47. Atualmente tem trabalhado nos projetos de fragatas da Noruega, além de países, como Austrália, Chile, Malásia e negocia contratos na Índia. No Brasil, a Dinabex está em processo de licitação para módulos de diferentes tipos de barcos, como FPSOs e Aframax.

Entre os trabalhos significativos da Kromav, Vahia destaca o projeto básico do FPSO OSX4 realizado em cinco meses, considerado um tempo recorde. A companhia também participou do projeto de convés do Suezmax João Cândido, construído no Estaleiro Atlântico Sul (EAS). Já a PGE destaca, entre seus principais trabalhos, o reparo na plataforma PX da Petrobras, PSVs para a CBO, Superpesa, Cassinu, Eisa, Mauá e Marinha do Brasil. Desenvolvimento de novos conceitos de plataformas para a Petrobras foram considerados por Cueva projetos que trouxeram aprendizado à companhia.

Enquanto a CTI não fecha contratos no Brasil, Navarro destaca projetos desenvolvidos para o estaleiro Navantia, a maior empresa de Defesa na Espanha. Com uma equipe de aproximadamente 80 engenheiros, a companhia tem colaborado no desenvolvimento de mais de 15 projetos de navios de alto valor tecnológico para a Marinha Australiana, da Venezuela e da própria Marinha Espanhola desde a fase inicial de engenharia até os trabalhos de inspeção da construção, comissionamento e a entrega final das embarcações. Segundo o executivo, alguns dos projetos superaram 250 mil horas de trabalho.

Para Navarro, a engenharia naval brasileira apresenta um enorme potencial de inovação e crescimento. A empresa pretende se consolidar como uma empresa brasileira de referência no mercado, na qual os clientes possam confiar a resolução de suas necessidades de suporte em engenharia ao longo de todo o ciclo de vida de um projeto. “Não temos dúvidas em mergulhar de cabeça no Brasil, aportando nosso melhor conhecimento e tendo o comprometimento de crescer como empresa brasileira, criando conteúdo local e presença a longo prazo nesse mercado”, afirma o executivo.

A Dinabex destaca que a aplicação de recursos para uma empresa estrangeira se estabelecer no Brasil é alta, mas espera conquistar parte do mercado até 2014. “O investimento de uma empresa de origem espanhola no Brasil, como é o nosso caso, é bem elevado. Contratação de pessoal, transferência de tecnologia, cadastro na Petrobras são procedimentos burocráticos, longos e custosos. Pretendemos ser uma parte importante neste mercado durante os próximos dois anos”, espera Díaz.

O faturamento da PGE vem crescendo à medida que novos contratos vão sendo fechados. Segundo Leite, a empresa se prepara para ganhar o mercado como um todo, já que novos estaleiros estão sendo construídos em diversos estados brasileiros. A Kromav acredita em aumento dos lucros nos próximos anos. A meta deste ano é chegar na casa dos R$ 40 milhões. A Oceânica, destaca Cueva, tem crescido ano a ano nos setores offshore e náutico e a tendência é de que esse aumento continue. Já o faturamento na área naval tem estado estagnado. “Temos investido em ferramentas, estamos contratando pessoal e mantendo os planos de treinamento para estagiários e trainees. Todo o mercado está muito motivado, mas para nós as expectativas são voltadas para os setores náutico, portuário e offshore. Do ponto de vista naval, não vejo expectativa de crescimento no ano que vem nessa área”, conclui.

 



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