Murillo Camarotto, do Recife
Os planos do governo pernambucano de transformar o Complexo Portuário de Suape em um grande polo da ressuscitada indústria naval brasileira vem ganhando contornos de realidade. Até o momento, seis estaleiros já foram anunciados para o local. Um deles, o Estaleiro Atlântico Sul (EAS) - liderado por Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez -, já está em vias de entregar sua primeira encomenda. Os demais projetos, entretanto, ainda estão no papel, mas, se concretizados, representarão um investimento de cerca de R$ 2 bilhões, além da criação de 11 mil empregos diretos.
A combinação entre uma localização geográfica estratégica e um bom pacote de incentivos fiscais é basicamente o que tem atraído os investidores para Suape. Gestores do porto alegam que Suape, que fica a 60 quilômetros do Recife, é a alternativa logística mais interessante no Brasil dentre as rotas internacionais de navegação, devido à proximidade da Europa, da Ásia e da América do Norte. Diante disso, tanto o governo quanto os investidores acreditam que mais empresas virão construir navios na costa pernambucana.
"Ainda somos poucos estaleiros. O cluster de Suape será uma verdade", avalia Carlos Costa, diretor-geral do grupo português MPG Shipyards, que anunciou na última sexta-feira um investimento de US$ 140 milhões na construção de um estaleiro em Suape. A ideia inicial da empresa é fabricar navios de apoio a plataformas e módulos offshore, mas também há planos para o desenvolvimento de soluções para geração de energia eólica.
A previsão de geração de empregos no estaleiro gira em torno de 1,2 mil postos diretos.
Otimista com o potencial da nova indústria naval brasileira, o executivo mencionou, inclusive, a expectativa de que o país se torne, no longo prazo, exportador de navios. "Teremos níveis de produção suficiente para isso", acredita. Ele chamou a atenção, contudo, para a necessidade de melhorias na infraestrutura de logística de Suape.
Também na última sexta-feira, o grupo sul-coreano STX Europe anunciou o desejo de construir em Suape um estaleiro de US$ 350 milhões. O grupo, que possui 15 estaleiros espalhados pelo mundo, pretende fabricar navios-sonda em uma área de 1 milhão de metros quadrados na costa pernambucana. Segundo o seu vice-presidente executivo, Jorge Ferraz, o projeto deve levar dois anos para ser concluído e irá gerar cerca de 4 mil empregos diretos.
A implementação do projeto coreano, entretanto, ainda depende do resultado das licitações da Petrobras para a contratação de navios-sonda, que deve ocorrer no segundo semestre deste ano. Caso não conquiste nenhum contrato, o investimento pode ser cancelado.
Na mesma situação estão outros dois estaleiros já anunciados: o da Queiroz Galvão-Alusa. avaliado em US$ 500 milhões em investimentos, com geração de três mil empregos) e o da Construcap (R$ 200 milhões de desembolso e 1,5 mil empregos).
De acordo com o secretário de Desenvolvimento Econômico do governo pernambucano, Fernando Bezerra Coelho, o investimento português já está garantido, independentemente de qualquer licitação. O mesmo ocorre, segundo ele, com o empreendimento anunciado no mês passado pelo consórcio Schahin-Tomé, que pretende investir R$ 300 milhões na construção de plataformas de petróleo. A expectativa é o projeto gere 1,7 mil empregos.
Também na sexta-feira, simultaneamente ao anúncio dos novos estaleiros, o governo pernambucano revelou que o grupo familiar local Cornélio Brennand irá construir uma fábrica de vidros no município de Goiana, a 63 quilômetros do Recife. O investimento, motivado pelo alto potencial da indústria da construção civil no Nordeste, será de R$ 330 milhões e irá gerar 370 postos de trabalho.
Fonte: Valor
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