O enorme vazamento de petróleo da plataforma Deepwater Horizon, operada pela BP no Golfo do México, que afundou em 22 de abril, ainda não chega a ser o maior desastre ambiental já ocorrido nesse setor, mas está se mostrando o mais difícil de conter. O vazamento já passa de 16 milhões de litros de petróleo bruto, mas os técnicos admitem que não têm condições de avaliar a quanto pode chegar o volume. Os custos para barrar o avanço da vasta mancha negra são calculados, por enquanto, em US$ 350 milhões. Como o uso de produtos químicos, barreiras e absorventes não foi capaz de deter a maré negra, a BP montou uma estrutura para bombear o óleo para outra plataforma, mas sem resultado. A companhia prepara-se agora para fazer nova tentativa.
Representantes da BP, da Transocean e da Halliburton, empresas envolvidas na operação da fatídica plataforma, falando ao Congresso americano, não assumiram a responsabilidade pelo defeito no equipamento que provocou o desastre. A mancha de petróleo bruto afeta gravemente a vida marinha, invade manguezais, praias e áreas protegidas, causando vultosos prejuízos à indústria pesqueira, à navegação e ao turismo, que devem se prolongar por meses ou anos.
A ironia da história é que, pouco antes do desastre, o presidente Barack Obama liberara áreas do Golfo do México e do Alasca para exploração do petróleo, contrariando os ambientalistas. Agora a Casa Branca suspendeu indefinidamente a exploração de petróleo naquela região e o presidente Obama anunciou que vai alterar a legislação que regula a exploração de petróleo em todas as áreas offshore nos EUA, reforçando os mecanismos de controle.
Não tendo o vazamento resultado de falhas de um petroleiro, como ocorreu com o Exxon Valdez na costa do Alasca em 1989, que ficou limitado à capacidade do navio, a calamidade no Golfo do México terá efeitos que se estenderão muito além da questão ambiental, afetando toda a indústria petrolífera.
Como era de esperar, toda atividade de exploração de petróleo no mar está em xeque. No Brasil, que depende basicamente do petróleo da plataforma continental e que começa a explorar a camada do pré-sal, as preocupações já se fazem sentir. Como informou a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, técnicos da sua Pasta estão em contato com representantes da Marinha e da Petrobrás para avaliar a capacidade brasileira de lidar com emergências.
As estimativas de custo para exploração de petróleo no mar terão de ser revistas. As grandes seguradoras, que terão de arcar com uma parte substancial dos prejuízos sofridos pela BP e seus parceiros, devem, com certeza, aumentar o valor de seus prêmios para cobertura de eventuais acidentes em plataformas.
A Petrobrás e outras empresas com operações em alto-mar terão igualmente de reforçar seus esquemas de segurança, o que vai requerer tecnologia mais avançada e maiores dispêndios, uma vez que as exigências ambientais devem se tornar muito mais rigorosas.
Vazamentos de petróleo, de petroleiros, refinarias ou oleodutos têm sido bastante comuns, inclusive no Brasil. Mas de plataformas marítimas são relativamente raras. Nos Estados Unidos tem sido lembrada a explosão em uma plataforma na costa da Califórnia em 1969. Decorridos 40 anos daquele acidente, a tecnologia certamente avançou, mas agora surgem dúvidas de que o progresso nessa área tenha sido suficiente.
O cientista Villy Kourafalou, da Universidade de Miami, citado pela revista Newsweek (10/5), por exemplo, disse que as novas tecnologias existentes eram tidas como capazes de assegurar que novos vazamentos na exploração de petróleo não mais ocorreriam. Isso, comentou ele, parece agora demasiadamente otimista. O fato é que, depois do acidente do Golfo do México, todos os sistemas técnicos de segurança das plataformas, bem como os procedimentos adotados, devem passar por uma reavaliação.
Não é difícil prever que os custos da exploração do pré-sal pela Petrobrás serão bem mais pesados do que antes se projetava.
Fonte: O Estado de S.Paulo?
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