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Fabricantes de tubos e conexões têm boas perspectivas no mercado brasileiro, mas pedem restrições a produtos estrangeiros

 

Os fabricantes de tubos e conexões esperam que, em 2012, o segmento já tenha percebido reflexos da demanda de equipamentos para o pré-sal. A definição do volume de encomendas será importante para nortear os investimentos dessas empresas, que

estão dispostas a ampliar suas unidades e desenvolver tecnologia. Por enquanto, as companhias avaliam que as consultas têm sido pequenas e que o pré-sal ainda representa um assunto incipiente em termos de negócios. Até essa demanda ser efetivada, os fabricantes pretendem concentrar os investimentos em tecnologia para adequar seus produtos às exigências de qualidade, visando às vendas futuras e à competição com produtos estrangeiros.

 

Enquanto as vendas do segmento offshore não se concretizam, a produção desses componentes segue em bom ritmo para o setor naval. Os grandes fabricantes de tubos e conexões apostam em um crescimento de até 20% nos próximos anos. Mesmo assim, as incertezas por conta da crise econômica mundial e pela indefinição da demanda da Petrobras vem deixando os fabricantes com o pé atrás para investir.

“Hoje, o pré-sal está demandando para nós desenvolvimento, pesquisa, muito trabalho e investimentos. Mas ainda não existe volume específico para ele. Alguma coisa muito incipiente, mas o pré-sal está longe do dia a dia ainda — pelo menos no nosso segmento, que é de tubos e conexões”, conta Marcelo Bueno, presidente da Schulz para América Latina, especializada em tubos e conexões em aço liga e inox. Apesar disso, Bueno diz que existe uma expectativa muito grande e uma promessa de demanda importante com valorização do conteúdo nacional, o que ainda não se refletiu em demanda efetiva.

“O mercado parece mais aquecido do que efetivamente está. As obras ainda são muito dependentes da Petrobras. Quem está dando volume para o mercado são os investimentos da Petrobras. Hoje, por incrível que pareça, é mais comum investimentos na área de refino e fertilizantes do que para upstream (exploração e produção)”, observa.

A Associação Brasileira da Indústria de Tubos e Acessórios de Metal (Abitam) cobra uma sinalização mais forte do governo e do mercado de como a economia e as políticas de incentivo vão caminhar para que as empresas possam aplicar os investimentos. De acordo com o diretor executivo da Abitam, José Adolfo Siqueira, as empresas — não só as do segmento de tubos — devem pensar um pouco mais em ampliar a capacidade. “O empresário por um lado tem a esperança de que terá uma demanda, mas do outro ele está receoso que essa demanda pode não acontecer, ou na velocidade que ele imagina, ou então que ela vai ficar para o exterior”, observa.

Adolfo explica que muitas das empresas que investem no Brasil são multinacionais cujas matrizes estão enfrentando momentos difíceis na Europa. Ele diz que não é possível prever se essas empresas vão manter os investimentos aqui no país, assim como se as filiais brasileiras precisarão remeter mais capital para suas sedes. “Existe uma demanda grande por produtos no Brasil. Mas, se houver uma regulamentação frouxa, uma fiscalização falha e indecisões nas medidas que o governo tomar, essa demanda não vai acontecer. Vai acontecer parcialmente porque grande parte ficará para o pessoal de fora”, alerta.

A maior demanda do setor offshore para os fabricantes de tubos atualmente tem sido solicitada para exploração na camada do pós-sal, segundo Adolfo. Para ele, a necessidade de produtos para as operações nessa camada deve aumentar na medida em que novos poços forem explorados e a produção no pré-sal for maior. No entanto, Adolfo ressalta que a Petrobras ainda não definiu as características técnicas dos tubos do pré-sal, o que dificulta a previsibilidade das empresas.

Para a Tubos Ipiranga, o pré-sal será uma realidade em breve. Por conta disso, a empresa possui uma perspectiva mais positiva para os próximos anos, talvez com algum sinal já em 2012. Segundo o engenheiro e gerente nacional de vendas da empresa, Luiz Carlos Picone de Araújo, a expectativa da fabricante para tubos de construção naval e para infraestrutura portuária no Brasil é de crescer, no mínimo, 20%, no caso de as demandas do pré-sal ocorrerem. Caso isso não aconteça, a perspectiva de crescimento fica entre 8% e 10%, próximo do registrado em 2010.

“A demanda vigorosa que teríamos para 2011 não aconteceu. Ficamos sempre na expectativa. Os projetos existem, não foram engavetados. Isso significa que teremos negócios fortes nos próximos anos. Mas esse ano não se concretizou na integridade. Estamos imaginando um crescimento para esse e os próximos anos porque somente a inserção brasileira nos mercados de exportação e importação faz com que nossas expectativas sejam bastante positivas”, avalia Araújo. A empresa concluiu este ano a construção de uma unidade industrial em Ribeirão Pires (SP), próxima do acesso ao porto de Santos, por onde passarão materiais usados na exploração do pré-sal. Ao todo, foram investidos cerca de R$ 45 milhões na construção da unidade com 80 mil metros quadrados de área útil.

Um dos pleitos da Abitam está relacionado aos incentivos fiscais que, segundo Adolfo, prejudicam a competitividade entre os fabricantes nacionais e estrangeiros. Ele explica que o setor naval tem comprado equipamentos, mas com uma série de isenções fiscais e decretos que permitem que se importe o produto sem pagamento de impostos específicos. “Fica muito difícil por causa da carga tributária que se tem no país. A isenção de impostos para produtos importados cria uma competição muito desleal. Então fica difícil para fornecermos. Mas temos fornecido alguma coisa sim”, diz.

Bueno, da Schulz, afirma que a parte da construção de navios está andando devagar, enquanto a parte de plataformas ainda aguarda definições. Ele lembra, no entanto, que existem plataformas em fases já avançadas e outras sendo contratadas ou em negociação. “Houve, sem dúvida, no segmento de construção de plataformas um hiato de tempo que, hoje, está refletindo numa baixa demanda de materiais”, avalia. Bueno ressalta que a demanda na área de tubulação está maior por conta dos investimentos nas refinarias. “Nesse momento, o mercado está estranho porque a demanda de materiais para offshore está bastante aquém do que já esteve: a menor em valores históricos recentes”, analisa.

Para o presidente da Schulz na América Latina, os setores naval e offshore ainda estão devagar em relação ao que se espera pelas demandas futuras. “O nível de mercado hoje está inferior ao nível de mercado de dois, três anos atrás. Estamos hoje numa espera pelos novos projetos. E, até que eles signifiquem efetivamente contratação, não vejo para área de construção naval e offshore um aquecimento de demanda significativo nos próximos 12 meses”, lamenta.

A exemplo da perspectiva de fabricantes de outros produtos do setor naval,  existe certa apreensão de como o governo brasileiro irá minimizar a burocracia e impedir a concorrência, classificada como ‘desleal’ pelos fornecedores de tubos e conexões. A principal queixa é que os produtos estrangeiros, sobretudo os chineses, chegam com uma série de incentivos de seu governo e não passam por barreiras alfandegárias e regras rigorosas quando chegam ao Brasil.

Bueno diz que o principal mercado de referência para o Brasil no segmento de tubos e conexões já foi a Europa. Segundo o executivo, houve uma mudança significativa e o mercado europeu hoje só aparece nos itens mais especializados de tubos e conexões. Nesse cenário, a China desponta como grande mercado e com uma série de vantagens competitivas em relação ao Brasil, o que preocupa os fabricantes nacionais. Segundo ele, o fabricante brasileiro precisa atender à legislação trabalhista, assumir a alta carga tributária nacional e ficar sujeito à flutuação cambial. Em contrapartida, ele enxerga que os concorrentes chineses possuem grande apoio de seu governo, que incentiva a exportação, mas que não é rigoroso com exigências ambientais, tributárias e de qualidade dos produtos. “Vemos cada vez mais o produto chinês entrando no mercado”, afirma.

De acordo com Bueno, os mercados europeu e norte-americano de tubos e conexões colocam barreiras tarifárias para impedir o ingresso de produtos chineses, ao contrário do que ocorre no Brasil. “A China é um país projetado para ser uma máquina de exportação. Não existe praticamente nenhuma barreira semelhante no Brasil. Estamos vendo que existe, de um lado, um fabricante chinês supercompetitivo e com apoio irrestrito do estado, que tem mercados comprimidos pela crise econômica e barreiras alfandegárias como destino para seus produtos”, destaca.

Como não há barreiras suficientes para impedir a entrada de produtos chineses, Bueno ressalta que a conjuntura internacional coloca o Brasil como destino único que a China tem para exportação de tubos e conexões. A concorrência ‘desleal’ apontada pelos fabricantes pode trazer um problema ainda maior para esse segmento. Para Bueno, os riscos e as incertezas podem iniciar um ciclo de desinvestimento no Brasil. Isso porque a insegurança dos fabricantes pode travar aportes em novas fábricas, reduzir os quadros de pessoal e deixar em evidência uma série de carências do setor.

Bueno afirma que o Brasil não pode abrir mão do emprego industrial e de formar o ciclo tecnológico completo. Ele destaca que o governo e o Ministério do Desenvolvimento vêm buscando formas de desonerar a cadeia produtiva. Para o executivo, não é saudável a concorrência desequilibrada num momento em que o mercado brasileiro está com potencial muito grande. Segundo ele, o país vive um momento difícil em termos de competitividade. Bueno acredita que os próximos 12 meses serão decisivos para a indústria se posicionar diante dessas incertezas e traçar qual será o cenário para os próximos anos. “Temos pedidos e carteiras, mas vemos isso com preocupação. Se não houver mudança, em muito pouco tempo teremos projetos de investimentos adiados e redução de quadros. O Brasil estará no centro ou fora da carteira de investimentos. Isso vai ser decidido nos próximos 12 meses.”, alerta.

O executivo defende que deve haver algum tipo de recompensa para países que investem em compensação ambiental, conforme estipulado pelo licenciamento. Somam-se a isso as defasagens cambial, ambiental e trabalhista. “O imposto de importação, com alíquota média de 15%, já é aquém da desvalorização ambiental”, aponta.

Apesar da complexidade de se traçar um cenário para os próximos anos no Brasil, as empresas têm desenvolvido ou apresentado novidades tecnológicas para tubos e conexões. Devido ao pré-sal ser uma camada de exploração de petróleo localizado em águas ultraprofundas, há necessidade de que os equipamentos sejam extremamente resistentes às condições mais agressivas do mar e dentro de padrões ambientalmente sustentáveis.

Em outubro, as empresas Vallourec & Mannesmann do Brasil e Butting anunciaram acordo de colaboração para produzir e comercializar um componente tubular composto por um tubo de aço ao carbono, fabricado pela V&M do Brasil e revestido internamente com ligas especiais resistentes a ambientes agressivos. Desenvolvido pela Butting, o Bubi-pipe já é aplicado em projetos offshore mundiais. O produto combina tecnologia brasileira e alemã e foi adaptado para atender exigências do mercado brasileiro.

De acordo com a Butting, a solução foi escolhida para o sistema de produção definitivo nos campos de Lula e Guará, do pré-sal, na Bacia de Santos. A Butting é especializada na fabricação de tubos e equipamentos em ligas metálicas especiais. Segundo a empresa, o Bubi-pipe possui mais de 500 quilômetros instalados em todo o mundo. A filial brasileira da V&M fabrica tubos sem costura e fornece produtos para o mercado offshore.

A Schulz também desenvolve novos produtos visando à demanda do pré-sal. Em conjunto com o Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello (Cenpes), no Rio de Janeiro, a empresa de origem alemã possui um projeto com perspectivas de ser utilizado em águas ultraprofundas. Segundo Bueno, os tubos já estão sendo fabricados e em processo de homologação. O material será da área de dutos submarinos bimetálicos fabricados em processo por extrusão. Ele conta que o produto já possui aplicação nas refinarias da Petrobras e será adaptado para utilização também para offshore.

Entre o final de 2011 e o início de 2012, deve entrar em operação uma fábrica de peças forjadas em Campos (RJ), com produtos de metalurgia especial. Atualmente, a Schulz possui duas unidades fabris em Campos (RJ): uma fábrica de conexões, inaugurada em 2007, e uma fábrica de tubos, em operação desde 2009. “Apesar desse grande ponto de interrogação, trabalhamos com cenário positivo. Acreditamos que vai ocorrer aumento de demanda com projetos de exploração e produção acontecendo. A valorização da cadeia produtiva atrai tecnologia e gera empregos”, aposta. Nos últimos cinco anos, a Schulz aumentou de 15 para 400 seu quadro de funcionários no Brasil.

Adolfo, da Abitam, defende a importância de um controle efetivo do conteúdo local. Ele destaca que a Petrobras já está exigindo o índice de conteúdo local em barcos de apoio e que gradativamente as metas de produtos nacionais devem ser alcançadas. Segundo o diretor executivo da associação, antes se importava quase 100% dos barcos de apoio, com exceção das chapas de aço, compradas de fornecedores nacionais para montagem do casco. Na área naval, ele aponta que não há um grande consumo de tubos nacionais por conta da competição que se tem com produto importado. Por conta disso, ele ressalta a importância de o governo reavaliar programas de concessão fiscal, como o Repetro — Regime Aduaneiro Especial de Exportação e Importação de bens destinados à exploração e à produção de petróleo e gás natural.

O diretor-executivo da Abitam avalia que todos esses regimes não deram isonomia para o produto nacional em relação ao produto importado. “Pelo contrário. Foi dada isonomia para o produto importado sobre o nacional. Se tirou uma vantagem que o produto nacional tinha. Competitividade com o produto importado exige mudanças estruturais fortes no país”, comenta.

Araújo, da Tubos Ipiranga afirma que a fabricante está atenta ao crescimento da demanda do mercado brasileiro. A empresa inaugurou uma série de filiais, incluindo Salvador (BA) e Recife (PE), que visam atender não somente às demandas do pré-sal. “Para o pré-sal, reforçamos nossas bases nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo. Abriremos filiais no Paraná e Santa Catarina com a finalidade de atuarmos forte no pré-sal. Estamos preparando os pontos de venda para estarmos envolvidos em todo esse crescimento do pré-sal no Brasil. “No que se refere a tubulações e conexões, nos sentimos preparados para crescimento nos próximos anos. Até porque nós não atingimos picos de produção de 100% em nenhuma área do Brasil. Podemos crescer muito mais e temos condições de absorver essas demandas para os próximos anos também”, observa.

Araújo acredita que o Brasil não esteja imune a uma crise de proporções mundiais. Ele acredita que o país terá um forte impacto na medida em que essa crise não for contida nos Estados Unidos e na Europa, que são parceiros antigos de produtos brasileiros. “Estamos preparados para navegar com mais tranquilidade. Mas não somos imunes à crise. A crise precisa ser estancada com uma linha de raciocínio igualitária para todas as economias do mundo, inclusive o Brasil”, diz.

Se para as maiores empresas as incertezas são grandes, o cenário não é diferente para os fabricantes de menor porte. Daniel Veloso, diretor presidente da Dragtec, conta que grandes empresas entraram no mercado brasileiro nos últimos anos, o que acaba trazendo dificuldade para alguns fabricantes pequenos. Ele revela que sua empresa,  especializada em tubos de aço com solda helicoidal, freou os investimentos. “Puxamos o freio de mão. Não estou aumentando nada. As firmas pequenas estão deixando acontecer. Com grandes indústrias entrando, precisamos melhorar muito para chegar perto [das grandes empresas]. E ainda podemos gastar demais e ainda não chegarmos perto. É difícil”, lamenta.

A Dragtec fabrica tubos, bombas e boias para dragas e estaqueamento em estaleiros. Segundo Veloso, a demanda tem sido cada vez menor para dragas, já que são poucas as empresas brasileiras que possuem este tipo de equipamento.

O coordenador de Vendas da Balg, Nildo Correia, conta que os negócios para a construção naval em geral estão fracos, com raras consultas à empresa. Em compensação, ele diz que a Balg recebe um volume ‘interessante’ de encomendas, principalmente de armadores. Correia estima que o setor naval represente 20% a 25% das vendas da Balg, que possui uma linha de juntas de expansão. “Atuamos em muitos segmentos. Todo mundo usa nosso material, mas não usa muito. Isso é um problema porque temos que ter uma carteira de clientes muito grande”, analisa.

Correia diz também que o pré-sal ainda não produziu nenhum impacto no volume de pedidos. Apesar disso, ele diz que a Balg está atenta à movimentação do segmento offshore. “Estamos acompanhando quem está com os contratos das plataformas, mas por enquanto está vendendo muita revista e jornal. Toda hora tem um fato novo, mas efetivamente — pela venda de material nosso e de todos que conheço no mercado de válvulas e conexões — ainda não chegou nossa hora”, observa.

O coordenador de Vendas da Balg contou que, por conta da crise, algumas empresas do segmento estão inclusive pensando em frear investimentos em feiras, em 2012. “Escutamos empresas falando em frear investimentos em função de uma crise que virá. Aí a crise vem mesmo. Acabamos alimentando a fogueira jogando lenha nela. Ao invés de as pessoas estarem prontas para investir, elas estão prontas para não investir em função de uma crise que pode vir”, comenta.

Segundo Correia, a Balg está ‘recuperando o tempo perdido’ com a expansão de sua matriz no Rio de Janeiro. A empresa ampliará em 50% sua unidade fabril para atender a sua meta de crescimento anual, acima de 20%. “Vamos ampliar a área no bairro da Penha para fazer frente ao nosso crescimento. Mas acho que, até o ano que vem, saímos daqui. Mesmo com a expansão que estamos tendo, não é suficiente para fazer frente ao crescimento que estamos esperando. Estamos sempre ampliando presença em mercados. A Balg tem 33 anos e muito mercado para alcançar”, afirma.

 



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