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Petrobras assombra ofertas

Concorrência com estatal deixará segundo semestre mais difícil para novatas.
Petrobras assombra ofertas megaoferta de ações para a capitalização da Petrobras deixará o segundo semestre deste ano ainda mais difícil do que o primeiro para as companhias que pretendem ir ao mercado obter recursos. Independentemente do tamanho da operação a ser anunciada, a estatal estima que haverá uma demanda dos investidores para as suas ações que garantirá entre US$ 15 bilhões e US$ 25 bilhões para o negócio.
Na média, portanto, a companhia espera levantar R$ 37 bilhões. Esse volume de dinheiro só é menor do que a soma de todas as ofertas de ações realizadas em 2007, auge do boom do mercado brasileiro, e em 2009, quando ocorreram emissões gigantes, como a do Santander Brasil, de R$ 14,1 bilhões. A operação da Petrobras será um aumento de capital privado - do qual apenas os atuais acionistas poderão participar -, mas se fosse uma oferta pública alçaria em 2010 facilmente o topo no ranking das captações.
Diante da perspectiva de que a capitalização da estatal ocorra no segundo semestre, tão logo o projeto do pré-sal seja aprovado no Congresso, nenhuma companhia quer deixar para ir à bolsa na mesma época e concorrer com a Petrobras pela atenção e pelos recursos dos investidores. Ainda não se sabe o tamanho oficial da oferta da estatal, mas já é possível afirmar que será uma das maiores emissões de ações já realizadas no mundo.
"O grande risco é a Petrobras secar a liquidez do mercado. Considerando que os investidores estrangeiros, grandes compradores de papéis das ofertas no país, têm limite para aplicar no Brasil, pode faltar dinheiro para outras empresas", afirma Luís Alberto Martins, da consultoria V2Finance.
Para o chefe da área de renda variável da Fundação Cesp, Paulo de Sá Pereira, não é coincidência, portanto, as companhias se apressarem para fazer suas emissões ainda no primeiro semestre, mesmo com o cenário externo um tanto quanto turbulento. "Estão todos correndo para captar o quanto podem antes da Petrobras. As empresas sabem que seria difícil concorrer por capital externo com uma companhia do tamanho da estatal", explica.
E a concorrência da oferta da Petrobras com as demais operações acontece num momento em que o investidor está mais seletivo e menos disposto ao risco. As incertezas internacionais em relação à insolvência de países europeus, como Grécia e Portugal, geram dúvidas sobre a recuperação da economia da zona do euro e deixa os investidores cautelosos.
Apesar do otimismo em relação aos países emergentes, que saíram mais rapidamente e menos machucados da crise global, o fluxo de investimento estrangeiro para o mercado de capitais brasileiro não está dos mais animadores. A participação do capital externo na negociação diária da bolsa brasileira caiu de uma média de 35% para 27%. Neste ano, até 24 de março, o saldo de recursos estrangeiros na bolsa estava negativo em R$ 1 bilhão, contra volume positivo de R$ 20,6 bilhões em todo o ano passado.
O mercado está muito menos aberto a novatas do que parece. O investidor externo mantém boa participação nas ofertas iniciais de ações - acima de 60% -, mas as operações realizadas neste ano fecharam com preço abaixo do mínimo estimado pela companhia. O temor da concorrência da Petrobras explica por que, mesmo diante dessa seletividade do investidor, a lista de companhias no aguardo do registro de oferta na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) não para de crescer. Estão nessa relação as empresas Sonae Sierra Brasil (shopping), WTorre (construção), GRV Solutions (tecnologia para o mercado financeiro), Júlio Simões (logística), Mills (engenharia e construção), Norskan (serviços para o setor de petróleo) e Multiner (energia).
A competição com a Petrobras será mesmo grande. Apesar das polêmicas que rondam a capitalização - avaliação dos barris do pré-sal, aumento de participação da União etc. - os especialistas acreditam que a companhia não terá dificuldade de conseguir o volume de recursos pretendido.
Os argumentos favoráveis à Petrobras são de que a empresa oferece, de um lado, um fluxo de caixa forte e, de outro, elevado potencial de crescimento com o pré-sal para um setor sobre o qual não existem dúvidas a respeito da demanda por um bom período de tempo, até que se substitua os combustíveis fósseis por outra fonte de energia.
Os chineses e os árabes são apontados como grandes potenciais compradores das ações. Há forte aposta de que os papéis que darão direito às novas ações da Petrobras para os atuais investidores, chamados recibos de subscrição, terão liquidez no mercado.
Como a operação será um aumento de capital privado, apenas os acionistas atuais têm direito de participar. No entanto, eles podem vender seus direitos para outros interessados. Assim, boa parte dos recursos obtidos pela Petrobras pode significar dinheiro novo chegando ao Brasil.
Para Sá Pereira, da Fundação Cesp, a decepção com o desempenho de várias ofertas iniciais de ações no Brasil nos últimos anos tornou os investidores estrangeiros mais seletivos em relação aos papéis de novatas. "Eles estão mais críticos, olhando mais detalhadamente a história da empresa para ver se o preço que está se pedindo pelas ações faz ou não sentido", diz Sá Pereira.
A única exceção, na opinião dele, são as empresas do grupo de Eike Batista, que continuam atraindo as atenções do público externo. "A OSX, por exemplo, conseguiu captar mesmo sem ter a licença ambiental para montar o estaleiro", diz. Vale lembrar, no entanto, que a própria oferta da OSX saiu abaixo do piso do intervalo de preço indicado inicialmente. Além disso, o tamanho da oferta sofreu um corte de 40% em relação ao mínimo previsto para a operação.
Há quem aposte que o receio de competição com a Petrobras pode fazer com que Eike Batista decida levar a holding de seu negócio, a EBX, à Bovespa ainda no primeiro semestre, mesmo depois dos desafios enfrentados pela OSX.
A acentuada valorização da Bovespa em 2009 também pode explicar a menor entrada de capital estrangeiro na bolsa neste ano, pois levou os investidores estrangeiros a migrar em busca de rentabilidade para outros mercados, como os asiáticos, acredita Sá Pereira.
O superintendente executivo de renda variável do banco Santander, Roberto Barbuti, lembra que os fundos dedicados à América Latina e mercados emergentes de forma geral já estão com suas carteiras muito alocadas nessas regiões, o que vem diminuindo o apetite por ações brasileiras. "A participação menor é mais por uma questão de limite das carteiras do que por falta de apetite pelo país, que, pelo contrário, vem crescendo desde que a economia brasileira se saiu na crise bem melhor do que a grande maioria das outras nações", diz Barbuti.
A própria participação dos investidores estrangeiros nas ofertas iniciais no país desde 2004 reduziu o espaço para outros papéis. Alguns analistas atribuem os preços mais baixos das emissões neste ano também à má precificação, pelos bancos coordenadores e pelas companhias emissoras, dos ativos oferecidos aos investidores.
O sócio da asset carioca Leblon Equities, Marcelo Mesquita, discorda da tese de que os investidores externos estejam mais seletivos para ofertas brasileiras. Na visão dele, a demanda continua forte, contanto que a empresa tenha uma boa história de geração de resultados para contar.
Para os analistas, é inegável que a operação da Petrobras inundará o mercado, diminuindo a demanda internacional por papéis de novas empresas. Mas Barbuti, do Santander, pondera que as ofertas iniciais concorreriam apenas em parte com a emissão da Petrobras. "Os investidores dedicados à América Latina e mercados emergentes são os grandes compradores dos papéis das novas companhias, enquanto na oferta da Petrobras existem interessados espalhados no mundo inteiro", afirma.

Fonte: Valor Econômico/Daniele Camba, Silvia Fregoni e Graziella Valenti, de São Paulo

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