Com captações de US$ 41,5 bilhões em 2009, a Petrobras bateu seu próprio recorde. A empresa fechou o ano passado contabilizando seis grandes transações de mercado - entre bônus e empréstimos sindicalizados (com a participação de vários bancos) - que somam US$ 13,5 bilhões, o que garantiu à empresa o primeiro lugar no "Ranking Valor de Captações Externas" na categoria "Emissor/tomador".
A esse volume se somam operações bilaterais, como um empréstimo de US$ 13,3 bilhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), outro de US$ 10 bilhões do China Development Bank e mais US$ 2 bilhões do Ex-Im Bank dos Estados Unidos, só para citar as principais fontes de recursos. E incluem ainda captações de US$ 2,7 bilhões junto ao mercado bancário nacional e internacional e agências de crédito às exportações.
Almir Barbassa, diretor financeiro e de relações com investidores da Petrobras, considera mais importante do que o volume recorde de US$ 41,5 bilhões em captações - R$ 74 bilhões segundo a conversão da Petrobras - o fato de a companhia ter conseguido administrar seu passivo e alongar prazos de sua dívida.
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"Pagamos R$ 27 bilhões de dívidas de curto prazo e com isso ficamos com R$ 47 bilhões líquidos no caixa. Isso permitiu aumentar o prazo médio da dívida, que no início do ano era de 4,2 anos, para sete anos e meio", ressalta o diretor.
Esse alongamento, como ele enfatiza, muda a estrutura da dívida da empresa, que não tem grandes vencimentos antes de 2018, quando a produção de petróleo será superior a quatro milhões de barris, o dobro da atual. "Imagina o fluxo de caixa que essa produção nos trará", diz.
A primeira captação da Petrobras em 2009 foi um bônus de US$ 1,5 bilhão com prazo de dez anos emitido em fevereiro, com juros de 8,875% ao ano.
Com ela a Petrobras foi a primeira companhia brasileira a acessar o mercado internacional depois da crise, encerrando um período de restrição a empresas brasileiras que durou sete meses, considerando que a última operação do tipo tinha sido fechada em julho de 2008.
Essa operação aconteceu logo após o anúncio de um plano estratégico da companhia (de US$ 174,4 bilhões), que recebeu várias críticas por causa de seu gigantismo.
A maior operação de mercado, no entanto, foi um empréstimo ponte de US$ 6,5 bilhões fechado em maio. A própria área financeira da Petrobras negociou com os bancos, separadamente, e no final fechou um pacote com as mesmas cláusulas com os coordenadores Banco do Brasil, Citibank, HSBC, J.P. Morgan, Santander e Société Générale.
O empréstimo de emergência foi um dos únicos no mundo no meio da secura de crédito no início de 2009, quando nem mesmo os bancos estavam recebendo linhas de crédito. Ele ajudou a empresa a enfrentar as dificuldades que surgiram no rastro da crise financeira internacional. O prazo para pagamento era de dois anos, mas a companhia quitou antes, com outras captações realizadas no ano.
"Essa foi a operação mais difícil, porque ela veio no meio da crise, depois que anunciamos um plano considerado maluco pelo mercado", ressaltou Barbassa. "Conseguimos captar US$ 6,5 bilhões de bancos que ainda estavam se recuperando da crise", ressalta Barbassa.
Em maio a empresa anunciou o empréstimo do banco de desenvolvimento chinês e depois anunciou o outro empréstimo de US$ 13,3 bilhões do BNDES. Depois, captou mais US$ 1,25 bilhão em bônus.
Em outubro veio outra operação considerada por Barbassa um divisor de águas. A empresa captou US$ 4 bilhões em duas operações simultâneas concluídas no mesmo dia, coordenadas por Citibank, HSBC, J.P. Morgan e Santander que tinham prazos de vencimento diferentes. Os bônus de US$ 1,5 bilhão pagaram rendimento de 6,875% ao ano e tiveram prazo de vencimento em trinta anos, enquanto os papéis de US$ 2,5 bilhões (custo de 5,750%) têm vencimento mais curto, de dez anos.
As captações concluídas em 2009, segundo Barbassa, trouxeram estabilidade. Ele destaca entre as mais simbólicas a do BNDES porque "foi um apoio enorme que o governo deu às empresas nacionais durante a crise, emprestando R$ 100 bilhões", citando em seguida o empréstimo do China Development Bank porque foi "uma operação direta de US$ 10 bilhões entre dois países em desenvolvimento". Por último, cita a captação de US$ 4 bilhões, que mudou o patamar das transações da estatal.
"Foi a primeira vez na história da Petrobras que lançamos um papel de trinta anos", afirmou. "E nessa operação também mudamos o tamanho das captações", continuou, para concluir: "Foi um reconhecimento do mercado".
O executivo lembra que em outubro do ano passado, durante reunião com investidores em Istambul, na Turquia, brincou que queria empréstimos que ao menos durassem um mês. Fazia referência à impressionante média da companhia, que está investindo US$ 100 milhões por dia. "E então veio essa operação de US$ 4 bilhões que teve demanda para US$ 12 bilhões", relembra. "Ela colocou a Petrobras em outro patamar, o das empresas com capacidade de fazer operações tamanho jumbo", diz.
Tanto dinheiro em caixa trouxe consequências consideradas preocupantes por alguns analistas. Nelson Rodrigues de Matos, do Banco do Brasil Investimentos, chama a atenção para a dívida bruta da companhia, que chegou a R$ 100,3 bilhões no final de 2009, elevando a alavancagem para 31%, muito perto dos 35% estabelecidos como limite pelo próprio conselho de administração da companhia. "Isso é preocupante porque o investimento também é recorde", observa Matos. A Petrobras fechou 2009 com alavancagem de 31% e para 2010 anunciou que vai investir R$ 88,5 bilhões, 25% acima dos R$ 70,8 bilhões do ano passado. "É claro que ela vai gerar mais caixa, mas não em um patamar tão alto. Não há um ganho de produção, mesmo com a melhora do preço do petróleo, que justifique esses números", afirma o analista.
Barbassa ressalta que a dívida de R$ 100 bilhões tem prazo de sete anos e meio para vencer, o que ele considera um prazo adequado. Lembra que a empresa fechou o ano produzindo 6% a mais - são 2,1 milhões de barris de petróleo e gás por dia - sem elevar custos.
E diz que para 2010 a perspectiva é de capitalização da companhia, o que vai trazer liquidez suficiente para dar andamento aos projetos. Com a capitalização - que ainda depende do Congresso - a Petrobras aumentou novamente a previsão de investimentos no seu plano de negócios para 2010-2014. Agora serão entre US$ 200 bilhões (piso) e US$ 220 bilhões (teto), valores que o mercado acham excessivos se o Congresso não aprovar o Projeto de Lei que prevê a capitalização da companhia com os recursos oriundos de um aporte de 5 bilhões de barris de petróleo do pré-sal.
Mônica Araújo, analista da Corretora Ativa, acha que a segurança da Petrobras com relação a uma capitalização ainda no primeiro semestre "indica que existem algumas alternativas ainda não declaradas pela empresa". Mas a empresa não fala em plano B, apesar de parecer óbvio que ele incluiria a retirada de alguns projetos da lista de prioridades.
E se a capitalização não sair? Almir Barbassa responde essa pergunta, que hoje é feita pelo mercado e até no Congresso, dizendo que não trabalha com essa hipótese porque "a Petrobras precisa dessa capitalização". E diz que o ideal é que ela seja concluída até julho, já que o mercado fecha no final daquele mês e só reabre em setembro.
"Estar no meio da campanha eleitoral não é um ambiente propício para esse tipo de operação e se tivermos segundo turno a campanha vai se estender", admite o diretor, que se reuniu com potenciais investidores em Pequim, na China.
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Fonte:Valor Econômico/ Cláudia Schüffner, do Rio
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