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Petrobras quer reduzir nacionalização

A Petrobras quer reduzir de 65% para 35% a utilização de produtos e serviços nacionais na exploração das reservas de petróleo do pré-sal. De acordo com a estatal, a indústria brasileira não teria escala, tecnologia e preço competitivo para atender à demanda gigante que está por vir. Se vingar, a decisão vai desagradar em cheio ao setor produtivo nacional, interessado em garantir reserva de mercado nos negócios bilionários do pré-sal. Em Pernambuco, o Sindicato da Indústria Metalmecânica (Simmepe) sugere que setor produtivo, instituições de pesquisa e bancos se mobilizem na tentativa de barrar a redução do índice de nacionalização.

“As empresas brasileiras querem e têm o direito de participar das oportunidades geradas pelo pré-sal. O governo deveria estar aumentando o conteúdo nacional, ao invés de diminuir”, defende o presidente do Simmepe, Sebastião Pontes. “O empresário brasileiro é muito versátil e não se nega a fazer investimentos. Mas se o governo quer a participação da indústria nacional precisa garantir incentivos fiscais, financiamentos e capacitação tecnológica”, completa.

As discussões sobre o índice de nacionalização no setor de petróleo vem sendo discutido desde a campanha presidencial de 2002. Foi naquela época que o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva criticou a Petrobras por encomendar plataformas de petróleo em Cingapura, durante o governo Fernando Henrique Cardoso. Quando assumiu a Presidência da República, Lula decidiu retomar a indústria naval no País e determinou que 70% dos itens e serviços dos navios encomendados pela Transpetro no Programa de Modernização e Expansão da Frota (Promef) deveriam ser comprados de empresas nacionais.

Logo de saída o Promef esbarrou na dificuldade de comprar aço no mercado nacional. A Usiminas - que detém o monopólio do setor no País - só forneceu um dos lotes do insumo para os navios. Tudo por causa da falta de competitividade nos preços ofertados. Até o final do ano passado (em novembro), a conta da Transpetro era de que das 150 mil toneladas compradas para os navios, 35% foram adquiridas no mercado interno. O restante foi importado da China, Coreia do Sul e Ucrânia. Como o aço responde por nada menos que 40% do custo da embarcação, as compras lá fora diminuem as chances de aumentar o conteúdo nacional nos navios.

Na última licitação lançada para a compra de oito navios de transporte de derivados de petróleo, a Transpetro já abriu a disputa para estaleiros internacionais. Das 16 cartas-convites encaminhadas, cinco foram para companhias brasileiras e as 11 restantes para estrangeiras, numa demonstração de que os concorrentes internacionais voltaram a se fortalecer no páreo (embora a Petrobras diga que a diminuição do conteúdo nacional seja válida apenas para o pré-sal, sem necessidade de alterar contratos já firmados com as empresas brasileiras).

“O governo está buscando o caminho mais fácil. Como o dólar está desvalorizado, as importações são a saída mais cômoda. Mas é preciso lembrar do compromisso assumido no governo Lula de fortalecer a indústria nacional”, alerta Sebastião Pontes, do Simmepe. Ele lembra que as empresas pernambucanas e nordestinas têm interesse em fornecer para o Estaleiro Atlântico Sul, por exemplo, que ofereceu o menor preço na licitação da Petrobras para a construção de oito sondas de perfuração para explorar o petróleo do pré-sal. Apesar da oferta de menor preço, a estatal ainda não bateu o martelo sobre a licitação.

Durante a inauguração da plataforma P-57, no Rio, o então presidente Lula desafiou o presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, a aumentar para 100% o conteúdo nacional nas plataformas. Um dos principais problemas é o preço. Enquanto no Brasil uma sonda de perfuração chega a custar US$ 1 bilhão, no mercado internacional é possível comprar 30% mais barato. A Coreia do Sul, por exemplo, é líder em tecnologia no setor e tem capacidade de fabricar num prazo bem mais curto que no Brasil. Tanto, que a Petrobras vai contratar no exterior parte das sondas e plataformas. Para as indústrias nacionais, a decisão poderá causar uma crise entre o governo e o setor produtivo em pleno início da gestão Dilma Rousseff.

Fonte: Jornal do Commercio (PE)


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