Os investimentos da Petrobras no setor petroquímico não vão se restringir à companhia que nascerá da união da Braskem e da Quattor. A estatal vai manter os projetos que já vinha tocando e não entram em conflito com as áreas de atuação da "Nova Braskem", além da refinaria de petróleo que servirá de unidade básica para o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), que será de propriedade exclusiva da Petrobras. Nesse pacote de projetos estão um polo de ácido acrílico em Minas Gerais e a produção de estireno na fábrica já existente no Rio Grande do Sul.
As informações foram prestadas ao Valor pelo diretor de Abastecimento e da área petroquímica da Petrobras, Paulo Roberto Costa. Ele explicou que a permanência da refinaria com a Petrobras está inteiramente de acordo com os termos da associação comunicados ao mercado por meio de Fato Relevante.
O documento diz que "a Braskem assumirá as sociedades que desenvolvem a 1ª e a 2ª gerações petroquímicas do Comperj". Costa disse que a refinaria, que deverá ser o investimento mais caro dos mais de R$ 20 bilhões que deverão ser aplicados no Comperj, é uma etapa anterior, ainda que vá gerar insumos básicos para a cadeia petroquímica, como eteno e propeno. Em uma petroquímica convencional, a unidade de primeira geração, chamada central de matérias-primas, fabrica eteno, propeno e outros produtos a partir de insumos recebidos de uma refinaria, geralmente, nafta.
No caso do Comperj, Costa explicou que o projeto da refinaria mantém o arranjo tecnológico com uma unidade de craqueamento catalítico fluido (FCC, na sigla em inglês), que já produz diretamente o eteno e as demais correntes petroquímicas. No caso, a primeira geração passa a ser a unidade de craqueamento a vapor, "steamcrack" no jargão setorial, que vai depurar as matérias-primas para transformação em resinas pela segunda geração petroquímica. É a partir do "steamcrack" que o complexo vai passar para as mãos da "Nova Braskem". Procurada, a Braskem confirmou as informações.
O diretor da Petrobras foi veemente ao afirmar que não haverá nenhuma mudança no andamento do projeto do Comperj. "Sem o Comperj, o Brasil vai tornar-se, em quatro anos, um gigantesco importador de resinas termoplásticas", afirmou. Costa disse que antes do carnaval será assinado o primeiro contrato para a compra de equipamento para o complexo, a unidade de destilação a vácuo da refinaria, responsável pela separação do petróleo bruto em frações de hidrocarbonetos. A vencedora da licitação foi a sueca Skanska, com o preço de R$ 1,1 bilhão.
As licitações para as unidades de coque e de hidrotratamento da refinaria estão em fase de tomada de preço. Os equipamentos estão sendo contratados levando em conta o projeto inicial de fazer uma refinaria para processar 150 mil barris diários de óleo pesado. A área de abastecimento da Petrobras já tem pronto um projeto de duplicação da capacidade da refinaria que deve ser apreciado pela diretoria da estatal na próxima semana. Caso aprovada, a segunda etapa terá outro arranjo, priorizando a produção de combustíveis, especialmente óleo diesel, em detrimento dos petroquímicos.
O acordo entre a Petrobras e a Braskem prevê 120 dias de prazo para que sejam feitos os estudos das incorporações do Comperj e também do polo petroquímico de Suape, Pernambuco, à "Nova Braskem". No caso de Suape (produção de fios de poliéster, PTA e resina PET), Costa disse que a previsão é de incorporação total pela nova empresa. O polo de Suape deverá começar a produzir fios têxteis e PTA (matéria-prima para o PET) ainda este ano. Os investimentos já feitos pela Petrobras nos dois complexos serão, segundo o dirigente, compensados no acordo de acionistas.
Sobre o projeto de um polo de ácido acrílico em Minas Gerais, há muito pendente por falta de uma solução tecnológica, Costa disse que seguirá sendo tocado à parte, bem como a produção de estireno (tipo de resina termoplástica) da Innova, subsidiária da Petrobras Energia (filial argentina da Petrobras), no Rio Grande do Sul. Mas o diretor da Petrobras admitiu que qualquer novo projeto nessa área é passível de fazer parte da nova gigante petroquímica.
O diretor da Petrobras disse que haverá uma efetiva co-gestão entre Petrobras e Odebrecht na "Nova Braskem", apesar de o grupo baiano ter ficado com a presidência e a diretoria financeira da empresa e que a Petrobras está pagando o preço justo pela associação, mesmo sendo minoritária (46,21% contra 53,79%). Segundo ele, se a petroquímica brasileira seguisse fracionada as empresas seriam esmagadas em pouco tempo pela concorrência internacional e chamou de "saudosistas" os que pensam de forma diferente.(Fonte: Valor Econômico/ Chico Santos, do Rio)
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