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Primeira obra tem início

Conversão do primeiro VLCC no estaleiro Inhaúma deve ser iniciada em agosto. Casco dará origem à P-74

A Petrobras, junto ao consórcio formado pelas construtoras Norberto Odebrecht, OAS e UTC Engenharia, está a ponto de iniciar as obras para conversão dos quatro navios do tipo VLCC (Very Large Crude Carrier) nas quatro plataformas que serão destinadas às áreas da Cessão Onerosa, no pré-sal da Bacia de Santos. A primeira unidade dessa série será a plataforma P-74, cujo navio já está ancorado no porto do Rio de Janeiro e deve ser removido para o dique do estaleiro em agosto para que seja iniciado o processo. A previsão é de que as obras das quatro plataformas sejam concluídas ao longo de 2015.

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Entre as obras mais importantes que serão feitas para a conversão das embarcações estão o reforço estrutural do casco; a ampliação, a reforma e a adaptação das acomodações; as instalações de equipamentos e utilidades, além da adaptação do sistema de ancoragem. O contrato entre a Petrobras e o consórcio foi assinado no último dia 7 de maio.

Por ser um navio cargueiro de petróleo, o VLCC precisa ser preparado para receber os módulos da plataforma e renovado para operar por cerca de 25 anos. Por isso, serão trocadas as chapas do navio, cuja estrutura de aço pesa cerca de 35 mil toneladas, por outras mais espessas. Os equipamentos instalados na casa de máquinas, como as bombas e compressores, também serão substituídos por modelos novos.

A embarcação, que hoje tem capacidade para 35 pessoas, poderá abrigar até 110 tripulantes quando convertida. “O navio é utilizado atualmente para viagens com pequenas tripulações. A acomodação será trocada para atender tanto aos aspectos de quantidade como à legislação brasileira, que exige um determinado padrão de acomodações que não são encontradas nesses navios existentes”, explica o gerente de Implementação de Empreendimentos para Marlim Sul, Roberto Moro. Também serão implantados o heliponto para receber a tripulação e os sistemas offloading e de ancoragem.

Pelos quatro VLCCs, a Petrobras pagou no ano passado cerca de US$ 100 milhões. O Titan Seema, que será convertido na P-74, foi comprado da Ace Sino Group Limited, tem 326,19 metros de comprimento e 56,98 metros de largura. A estatal recebeu o navio na China e, após a limpeza dos tanques na Indonésia, foi trazido para o Brasil.

Já as outras três embarcações foram adquiridas da armadora norueguesa Frontline. Os navios  Titan Orion e Ticen Ocean, que futuramente serão a P-75 e P-77 respectivamente, têm o mesmo tamanho: 322,07 metros de comprimento e 56,60 metros de largura cada um.

A Petrobras inclusive já recebeu o VLCC Titan Orion. Segundo Moro, atualmente o casco está na Malásia para a limpeza dos tanques e a previsão é de que chegue ao Brasil no próximo mês de agosto, quando o estaleiro Inhaúma estará pronto para recebê-lo. “Quando a P-74 for para o dique para a inspeção das suas condições, a P-75 chegará em seguida e ficará no cais. Essa inspeção é importante para que se faça o projeto futuro, que é de responsabilidade do consórcio. Nós acompanhamos e vamos aprovando as inspeções”, diz Moro.

Com 332 metros de comprimento e 58 metros de largura, o casco do Titan Aries, que será convertido na P-76, deve ser recebido pela Petrobras em dezembro deste ano e chegar ao Brasil em abril de 2013. O recebimento da futura P-77 pela estatal está previsto para o segundo semestre de 2013. Ambas serão recebidas pela companhia na Malásia, onde os navios estão em operação. As quatro embarcações são da década de 90.

De acordo com Moro, o projeto de conversão dos cascos em plataformas é de responsabilidade do consórcio, que contratará uma empresa de engenharia cadastrada pela Petrobras para fazê-lo. Uma equipe da estatal acompanhará o detalhamento de todo o projeto. O consórcio também será responsável pela implantação de todas as instalações necessárias para a execução dos serviços de conversão, como escritórios administrativos, estruturas primárias, secundárias e outfitting, pipe shop, cabines de jato e pintura, elétrica, instrumentação e toda a rede de energia elétrica e de utilidades destas oficinas. Dos US$ 1,7 bilhões previstos em contrato, cerca de US$ 40 milhões serão investidos nas obras do estaleiro.

 

Estimativas  apontam  que os FPSOs devem atingir um índice de conteúdo nacional de 70%. De acordo com o diretor de operações do Estaleiro Enseada do Paraguaçu (EEP), formado pelas três construtoras, Antônio Cizino, entre os itens disponíveis pela indústria nacional offshore estão o aço naval, bombas centrífugas, painéis elétricos, iluminação, tubulação, válvulas e acessórios, cabos elétricos, tintas e solventes. “Devemos também considerar que a mão de obra de gerenciamento, engenharia e de conversão será nacional”, acrescenta.

A previsão do consórcio é de que sejam gerados aproximadamente quatro mil empregos diretos no pico das atividades, a partir de junho de 2013. Segundo Cizino, as obras de conversão serão iniciadas com cerca de 250 pessoas e as atividades serão basicamente de desmontagem e de medição de espessura do casco. “Iniciaremos os trabalhos de desmontagem do navio, retirada da propulsão, bem como de todos os equipamentos da praça de máquinas e de medição de espessura do casco. Faremos também, entre outras ações, limpeza do casco, remoção dos equipamentos eletromecânicos e de tubulações para que ao final a unidade passe a ter seu casco reforçado em condições de receber os topsides”, explica.

Boa parte da mão de obra necessária migrará das três empresas que formam o consórcio, além da sócia Kawasaki  Heavy Industries, mas também serão buscados  profissionais especializados na área naval nos mercados nacional e internacional. “Será também a oportunidade para iniciar a formação de mão de obra especializada por meio de acordos com o Prominp, Senai e escolas técnicas”, afirma. A conversão do casco da P-74, diz o executivo, deverá ser concluída em 699 dias a partir da emissão da Autorização de Serviços (AS), prevista para agosto; a da P-75 em 912 dias, a da P-76 em 1.033 dias e a da P-77 em 1.216 dias.

Foram adquiridos pela Petrobras dois cascos gêmeos e outros dois diferentes. Os FPSOs, portanto, contarão com plantas de processo diferentes. “Temos duas famílias de planta: uma para tratar o óleo que chega na plataforma com uma temperatura mais quente e maior pressão e uma para o óleo com temperatura e pressão menores”, declara Moro.

Por isso, diz o executivo, a companhia dividirá em duas a licitação que prevê a instalação dos módulos da planta de produção e de processamento de petróleo e gás, além da integração das unidades. O primeiro pacote para a contratação dos serviços na P-74 e P-76 foi lançado no último mês de abril e as propostas serão recebidas até o próximo mês de agosto. “Se tudo der certo, antes do final do ano vamos assinar o contrato para construir esses módulos”, estima Moro. A abertura da licitação para a P-75 e P-77 está prevista para o mês de setembro.

A conclusão do primeiro FPSO está prevista para meados de 2014, quando será transferida para um estaleiro para a integração dos módulos. Esse processo deve levar cerca de dez meses. Segundo Moro, apesar de haver no país diversos canteiros de integração, é necessário o investimento na criação de novas unidades. “Embora tenhamos até uma razoável disponibilidade, a demanda do plano de negócios da Petrobras é muito grande. Vamos precisar de novas locações para integração”, diz ele, destacando que atualmente entre 10 e 20 estaleiros estão aptos a realizarem as obras. A licitação também permitirá a apresentação de um estaleiro virtual.

 

O processo de conversão dos VLCCs em plataformas é de 22 meses. Mas a Petrobras estima que esse prazo venha sendo reduzido e se aproxime do tempo praticado no exterior. “Como estamos fazendo quatro embarcações seguidas, temos uma perspectiva que se tenha uma curva de aprendizado e que daqui a quatro estejamos chegando num prazo igual ao do exterior, de 19, 20 meses”, acredita.

Cada plataforma terá capacidade de produzir até 150 mil barris de petróleo por dia e de comprimir sete milhões de metros cúbicos de gás natural por dia. As unidades, segundo a estatal, deverão operar nos prospectos de Franco e Nordeste de Tupi, na Bacia de Santos. O contrato entre a Petrobras e o consórcio prevê apenas a utilização do estaleiro Inhaúma para as quatro conversões. No entanto, as construtoras não descartam a possibilidade de novos negócios na unidade. “Segundo o plano estratégico da Petrobras, estão previstas outras conversões deste porte. Por isso, o consórcio opera com a expectativa de continuidade ao participar de licitações futuras”, diz Cizino.

O último empreendimento desse gênero foi a conversão da P-48, em 2003, no próprio Inhaúma. Para a Petrobras, a revitalização do estaleiro representa a retomada do setor. “Tínhamos o estaleiro Inhaúma como símbolo do abandono e da decadência que entrou a indústria naval brasileira. Fico gratificado em vê-lo de novo sendo revitalizado e gerando empregos”, diz. A opinião é compartilhada por Cizino. “A grande virtude deste projeto é a recuperação da indústria naval por empresas brasileiras, agregando tecnologia, buscando melhorar a produtividade e gerando empregos em massa para impulsionar o desenvolvimento do país”.

 

O processo de conversão dos navios em plataformas só foi possível devido às obras de revitalização de infraestrutura do estaleiro Inhaúma, arrendado pela Petrobras em 2010. Desde o início do ano passado, o estaleiro vem sendo reformado. “Para esse tipo de trabalho precisávamos inevitavelmente de um dique seco e não tínhamos essa infraestrutura disponível no mercado. Por isso tivemos que reformar o estaleiro, preparar esse dique seco para que pudéssemos colocar o navio lá dentro”, diz ele, explicando que a troca de chapas de aço que ficam abaixo da linha da água e a pintura da embarcação são realizadas no dique.

Segundo a Petrobras, as obras de revitalização do estaleiro Inhaúma consistem na recuperação da infraestrutura de construção naval, como cais, diques e portas batel, das estruturas de galpões e prédios administrativos, dos equipamentos de elevação de carga e das redes de utilidades, como água, esgoto, eletricidade e gases. As principais empresas contratadas para a execução dos serviços foram a Carioca Christiani Nielsen Engenharia, a Fidens Engenharia, a Enaval e a Queiroz Galvão. Demais empresas também atuaram como terceirizadas das contratadas.

A Carioca Christiani Nielsen Engenharia foi a responsável pela reforma da estrutura de concreto do dique seco número 2, que já está em fase de conclusão, e pelos sistemas de guinchos de movimentações de navios. A Fidens está atuando nos sistemas de infraestrutura de utilidades, além de ser responsável pela reforma de alguns prédios administrativos, como cozinha e refeitórios industriais, portaria e cais número 1. A reforma da porta batel, que já foi restaurada, foi de responsabilidade da Enaval, que atualmente atua na restauração da casa de bombas. A Queiroz Galvão realizou a dragagem do canal de acesso, bacia de evolução de navios e bacia de atracação em frente ao estaleiro. Estas atividades, ressalta a Petrobras, foram contratadas através de um convênio existente entre a estatal e o governo do Rio de Janeiro.

Estão sendo aplicados recursos da ordem de R$ 500 milhões nas obras, que geraram 1,3 mil empregos diretos. A conclusão da reforma está prevista para o primeiro semestre de 2013. Quando em operação, a capacidade máxima do estaleiro para o processamento de aço será de aproximadamente 3,3 mil toneladas por mês, considerando dois turnos de trabalho.

A falta de documentação original da construção do estaleiro, que foi realizada em duas etapas, esteve entre os principais gargalos da obra. A primeira delas aconteceu no final dos anos 50 e a segunda entre os anos 60 e 70. Como na época não existiam os recursos atuais de arquivamento digital de documentação, o material era gerado em cópias de papel e heliográficas, além de microfilmes. A companhia destaca que muitos desses documentos foram perdidos, dificultando as atividades de desenvolvimento de projeto básico de documentação visando às contratações.

Outro aspecto relevante é que, por se tratar de uma obra de reforma, somente com o início dos serviços e demolições é possível saber o real estado de deterioração das estruturas, o que requer intervenções no projeto com as obras já em andamento. Até então, o estaleiro Inhaúma será voltado exclusivamente à conversão de cascos em FPSOs. No entanto, a companhia ressalta que existe potencial para mais atividades no estaleiro, como a de construção de módulos e obras de integração.  Mas essa questão, conclui a estatal, “ficará reservado para uma decisão futura”. (DJ)



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