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Propulsão nas vendas

Fabricantes de motores de dois tempos apostam em tecnologias de redução de emissões para alavancar negócios no Brasil

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O mercado de motores de grande porte para uso marítimo é restrito e bastante disputado, apesar da pequena quantidade de fabricantes. Desde a década de 1980, os chamados motores de dois tempos passaram a ser fabricados na Ásia, principalmente China e Coreia do Sul — antes a produção concentrava-se na Europa. No Brasil, estão presentes representantes de duas

das principais fabricantes desses tipos de propulsores: a alemã MAN Diesel & Turbo e a finlandesa Wärtisilä. Como diferencial, elas apostam no treinamento da mão de obra e no desenvolvimento de tecnologia, sobretudo para atender às exigências de reduções ambientais estabelecidas no TIER III da (International Maritime Organization), previsto para entrar em vigor em 2016. Com a recessão mundial por conta da crise, o Brasil aparece como mercado alvo para essas empresas. No entanto, os motores de menor porte são os que correspondem ao maior número de solicitações.

Felipe Quadra, gerente de Vendas Offshore da MAN Diesel & Turbo, conta que a empresa lançou em junho, na Dinamarca, um motor de dois tempos a gás, que está sendo apresentado ao mercado internacional. Segundo ele, a expectativa da empresa é que o mercado se enquadre nas exigências ambientais do TIER III. O motor foi testado em uma embarcação em meados da década de 1990 na versão mecânica, sem objetivos comerciais imediatos e, recentemente, foi testado e lançado no centro de testes em Copenhague uma versão eletrônica, que está disponível para comercialização, inclusive para o mercado brasileiro.

Outro produto de dois tempos que está sendo prospectado pela MAN é um equipamento de curso ultra longo, movido a diesel. Segundo Quadra, este motor vem recebendo um número satisfatório de pedidos. Os dois motores foram desenhados pela equipe de desenvolvimento de tecnologia da MAN, com base em Copenhague. “Temos uma série de tecnologias disponíveis que também fazem com que tenhamos um bom posicionamento no mercado no que diz respeito a motores de dois tempos”, afirma.

O diretor de Ship Power da Wärtisilä, Luiz Barcelos, também diz que o foco da empresa é desenvolver tecnologia para os motores que permitam reduzir a emissão de gases poluentes, atendendo ao TIER III. Barcelos ainda não pode revelar mais detalhes da nova tecnologia, mas conta que a Wärtsilä testou com sucesso um motor de dois tempos que opera movido a gás natural liquefeito (GNL). “O motor continuará em testes por mais algum tempo. O teste foi muito bom, com uma redução extremamente grande das emissões”, adianta.

Apesar dos investimentos em inovação, a produção de motores marítimos desse porte ainda não justifica uma expansão significativa das fábricas pelo mundo. Marcus Maria Ganseforth, que também é gerente de Vendas Offshore da MAN, lembra que os motores de dois tempos não são produzidos em grandes volumes pela empresa na Europa desde a década de 1980. Desde aquela época, a fabricação de motores marítimos de grande porte migrou para a Ásia e os grandes estaleiros europeus passaram a concentrar a produção em componentes específicos. “Existem empresas licenciadas para fabricar nossos motores. Elas também cuidam das vendas, da produção, da logística e da importação no Brasil. Em Copenhague (matriz dos motores de dois tempos da MAN), se faz o desenho do motor e a produção de componentes de alta tecnologia”, explica.

A Wärtsilä também possui fabricantes licenciados na Ásia para executar seus projetos de motores de dois tempos. No Brasil, uma das principais licenciadas é a Nuclebrás Equipamentos Pesados (Nuclep). Em 2005, as duas empresas assinaram termo para fabricação de motores de dois tempos. A Nuclep ainda não começou a fabricar. O acordo criou uma joint venture entre as empresas, que deve ser constituída até o final do ano. A entrega do primeiro motor deve ocorrer até o final de 2012.

O diretor de Ship Power da Wärtsilä explica que será uma fábrica multiprodutos. Além da montagem de motores de dois tempos, a unidade produzirá grupos geradores e propulsores azimutais. Segundo Barcelos, as áreas estão praticamente definidas. A ideia é que, num primeiro momento, seja utilizada uma área existente nas instalações da Nuclep. Numa segunda fase, será destinada uma área para ampliação. Barcelos contou que o layout já está definido. A previsão da Wärtsilä é que a fábrica monte em torno de 12 motores ao ano.

Ganseforth, da MAN, lembra que, na década de 1970, os navios produzidos no Brasil foram destinados ao mercado local e de exportação. Atualmente, os navios que são produzidos no Brasil são voltados à necessidade nacional. “Talvez faça sentido instalar uma fábrica para motores quatro tempos porque são mais motores por navios e mais navios”, avalia. Quadra, da MAN, destaca que a indústria brasileira está em pleno crescimento e a demanda deve continuar aumentando. Segundo ele, o Brasil possui uma série de entraves que dificultam a competição com a Ásia, referindo-se, principalmente, ao câmbio desfavorável, ao alto custo logístico e à falta de mão de obra qualificada.

“Temos planos e estudamos diferentes opções de adicionarmos conteúdo local aos nossos conjuntos motor-gerador. Estamos dispostos a investir no Brasil. Ainda não temos definição, mas temos boas opções. Tão logo tenhamos um pedido grande em mãos, vamos fazer o investimento que for necessário e traremos esse equipamento para o mercado com conteúdo local”, diz Quadra. No caso dos motores de dois tempos, ele admite que seja necessário um estudo mais detalhado. “Está em estudo essa questão. Mas, hoje, o que temos de concreto diz respeito a motores geradores”, complementa.

No mundo, além da Wärtsilä e da MAN, destaca-se no segmento de motores de dois tempos a Mitsubishi, sendo que esta foca mais no mercado japonês. O Brasil fabricou esse tipo de motor até meados da década de 1990. Na época, a Wärtsilä se chamava Sulzer e possuía uma fábrica de motores de dois tempos em regime de licença dentro do antigo estaleiro Ishibrás (atual Inhaúma) e a MAN estava instalada com uma fábrica em São Paulo. No entanto, a produção parou por perda de escala e de tecnologia. “Os estaleiros pararam, não havia demanda e as fábricas fecharam”, lembra Barcelos.

A Wärtsilä avalia que o mercado de motores de dois tempos é grande. Barcelos afirma que mais de 70 embarcações do Programa de Modernização e Expansão da Frota (Promef) e da Empresa Brasileira de Navegação (EBN) demandarão esse tipo de produtos, além dos armadores privados. Tanto a Wärtsilä quanto a MAN apostam nessa demanda. Nas duas primeiras edições do Promef, a MAN vendeu 18 motores de propulsão de dois tempos para navios tanque contratados recentemente pela Petrobras. Com a Vale, a empresa assinou contrato para fornecer motores de quatro tempos da série de navios graneleiros de grande porte Ultra-Large Ore Carriers (ULOC). Desses, o Vale Brasil já entrou em operação.

A Wärtsilä também fechou importantes contratos para entrega de motores de dois tempos, dentre eles uma demanda para porta-contêineres entregues pelo Estaleiro Ilha (Eisa) à Log-In. “A Wärtsilä está crescendo. Estamos com plano de investimento bastante grande. Vamos constituir novo workshop, no Rio de Janeiro, para manutenção de componentes de motores azimutais. A oficina será instalada numa área de quatro mil metros quadrados”, conta.

As fabricantes de motores apostam nas embarcações de apoio, que utilizam motores do tipo quatro tempos. Costuma-se dizer que a demanda por motores é inversamente proporcional ao seu tamanho: quanto maior o motor, menor a demanda. Mesmo assim, a MAN espera que o Promef III seja consolidado nos próximos anos e demande mais motores de dois tempos. Em 2011, a empresa ampliou seu departamento de vendas no Brasil. “O departamento era constituído de apenas uma pessoa até abril deste ano. Hoje já somos três. Isso demonstra uma mudança de atitude em relação ao mercado pela própria demanda que existe hoje”, afirma Quadra.

“É claro que, com o pré-sal, sabemos que a demanda necessariamente virá. A questão é quando virá e em que compasso. Por isso que estamos nos preparando, ampliando nossa equipe de vendas, realizando visitas aos nossos clientes de maneira mais frequente com enfoque mais técnico para darmos suporte no sentido de os clientes terem uma solução otimizada de acordo com o perfil que eles precisam para cada projeto”, diz Quadra.

Barcelos, da Wärtsilä, explica que a empresa aposta no conceito de fábrica multiprodutos a fim de otimizar a produção e impedir que a unidade feche numa eventual desaceleração da economia e do setor, como a que ocorreu na década de 1990. Ele destaca que existe um mercado importante, com equipamentos para diferentes embarcações, desde barcos de apoio até FPSOs. “Cada instalação demanda um tipo de produto. Uma fábrica só de motores de dois tempos seria inviável”, avalia.

Além da qualidade dos motores, as fabricantes têm que se diferenciar no pós-venda. Por isso, outra preocupação das principais fabricantes de grandes motores marítimos é a capacitação de mão de obra para operação e manutenção desse tipo de equipamento. É consenso que é preciso formar pessoas para trabalhar com os novos motores que virão. Para isso, as empresas realizam treinamento para os clientes.

Ganseforth, da MAN, também destaca a importância de se projetar os novos navios para acomodar os compartimentos para a estocagem do gás, que passará a ser utilizado como combustível na navegação. “Há cerca de dois anos, estamos recomendando aos projetistas considerarem mais espaço no navio a ser reservado para o sistema de redução das emissões e de estocagem a gás. O TIER III se tornará realidade. Em 2016, os navios devem ter esses tanques de gás. Esse é o nosso novo desafio, ensinarmos aos projetistas a considerarem isso para o futuro”, diz.



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