A busca de petróleo no mar das ilhas Malvinas por companhias britânicas está gerando um novo atrito entre a Argentina e o Reino Unido. Segundo a imprensa britânica, Londres enviou reforço militar às ilhas. Mas eventuais reservas de óleo e gás ainda nem foram confirmadas, e não é certo que sua exploração seja comercialmente viável. O tema, porém, ajudou o governo argentino a desviar a atenção dos problemas internos no país.
Baseadas em estudos geológicos preliminares, consultorias especulam sobre a hipótese de que mais de 6 bilhões de barris de petróleo possam estar à espera de exploração nas Malvinas. As reservas comprovadas da Argentina estão em 2,042 bilhões de barris - o suficiente para atender plenamente só oito anos da demanda interna.
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"É bastante improvável que haja petróleo onde estão procurando", diz o consultor Daniel Gerold. A empresa Desire e outras três petrolíferas britânicas devem iniciar, nas próximas semanas, novos trabalhos de prospecção na plataforma continental das ilhas.
De acordo com o consultor, há chances maiores de descobertas a sudeste das Malvinas, na plataforma continental da Argentina. A Petrobras, em associação com a YPF Repsol e com a Pan American Energy (PAE), começou a fazer trabalhos de prospecção em dezembro na Bacia das Malvinas, em águas territoriais argentinas que não estão em disputa com o Reino Unido. Com investimento inicial de US$ 100 milhões, as três petrolíferas buscam petróleo a quase 300 quilômetros da costa argentina e a dois mil metros de profundidade. A YPF é operadora e detém 33,5% da área, assim como a PAE, enquanto a Petrobras tem 33%.
Com popularidade em queda (pesquisas recentes indicam aprovação abaixo de 20% a seu governo), a presidente Cristina Kirchner usou a chegada de navios britânicos às Malvinas para colocar o assunto no centro da agenda política, centralizada nas últimas semanas no aumento da inflação e na crise pelo uso das reservas do Banco Central. Um decreto assinado esta semana por Cristina exige, de qualquer embarcação estrangeira, autorização prévia para atracar em portos argentinos ou navegar em suas águas territoriais.
"O objetivo é claramente encarecer e dificultar a tarefa das empresas britânicas", diz Jorge Castro, presidente do Instituto de Planejamento Estratégico, um centro de estudos.
Em 1982, os dois países foram à guerra pelo controle das Malvinas. Cerca de 650 argentinos e 255 britânicos morreram nos combates, que acabaram após dez semanas com a rendição argentina.
Ontem, perguntado sobre os relatos de que Londres enviou navios de guerra adicionais às ilhas, Brown disse: "Fizemos todo o necessário para garantir que os moradores das Falklands [nome britânico das ilhas] estejam devidamente protegidos".
O governo argentino pedirá apoio aos países vizinhos, na reunião do Grupo do Rio prevista para a próxima semana, no México. Espera não só uma declaração de reconhecimento à soberania argentina das Malvinas como uma condenação à "decisão unilateral" dos britânicos de explorar petróleo na região. Há mais de 40 anos a ONU estimula, sem nenhum sucesso, o diálogo entre o Reino Unido e a Argentina sobre as Malvinas. E o próprio Grupo do Rio defende regularmente a posição argentina.
Para Jorge Castro, a descoberta do pré-sal no Brasil e o aumento dos preços internacionais do petróleo incentivaram as empresas britânicas a fazer uma nova rodada de atividades de prospecção nas ilhas. As últimas prospecções foram feitas entre 1996 e 1998, lembra Castro, quando o barril de petróleo estava a menos de US$ 10. No patamar de preço atual, as condições mudaram, ele acredita.(Fonte: Valor Econômico/Daniel Rittner, de Buenos Aires)
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