Terminou em embate o final do encontro que reuniu, na Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), nesta quinta-feira, representante do governo federal, empresários e prefeitos de cidades afetadas pelos recentes desinvestimentos no polo naval gaúcho. Ao final do encontro promovido pelo Movimento Produz Brasil, voltado ao setor de petróleo e gás para debater o futuro da cadeia, o secretário de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis do Ministério de Minas e Energia, Marcio Félix Bezerra, falou sobre a polêmica em torno da redução do índice de conteúdo nacional exigido na produção de itens para o setor. E não agradou em nada os ouvintes.
"Nem falo mais o termo conteúdo local porque isso já virou palavrão. Eu falo em bens e serviços brasileiros usados no setor. Acho que as empresas precisam deixar de ficar em cima apenas da Petrobras, porque o setor já está desenvolvido, e as empresas e fornecedores podem se tornar grandes parceiras para conquistar mercados e fazer alianças, inclusive fora do Brasil", disse Bezerra ao final do encontro na Fiergs.
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Logo que encerrou a fala aos empresários e prefeitos locais, ainda abalados pela redução de 65% para 25% de conteúdo local para as plataformas, o espaço foi aberto para perguntas e questionamentos. A primeira ponderação foi do vice-presidente da Abimaq no Estado, Hernane Cauduro. "É miopia alguém dizer que falar em conteúdo local é palavrão. Basta olhar os impactos na melhora na distribuição de renda e geração de riqueza, na ordem de, no mínimo, 2.1. Foi assim que os países desenvolvidos se tornaram o que são", afirmou Cauduro.
Na sequência, foi a vez de Marcus Coester, coordenador do Comitê de Competitividade em Petróleo, Gás, Naval e Offshore da Fiergs, se posicionar sobre o assunto e sobre a segunda "sugestão" de Bezerra aos empresários.
"Olhemos o caso da Iesa, de Charqueadas, cidade cujo prefeito está aqui. A empresa precisou promover demissões em massa com a crise do polo naval. O trabalho final para o qual havia sido contratado foi para a Tailândia. E eu diria que é zero a chance de uma empresa daqui ser chamada para prestar serviço por lá", arrematou Coester, colocando como proposta da Fiergs que o governo ao menos exija que a montagem e a integração das plataformas sejam feitas obrigatoriamente no Brasil.
O desabafo maior veio do prefeito de Rio Grande, Alexandre Lindenmeyer. "Investimos em escolas, segurança e até mesmo na formação de pessoas para trabalhar com a indústria naval, que agora afunda. E não fizemos isso do nada, da nossa cabeça, mas porque fomos estimulados pelo governo", criticou Lindenmeyer.
Fonte: Jornal do Commercio RS