Maior produtora privada de petróleo do país no momento, a Shell vai pisar no acelerador no que diz respeito a investimentos. A companhia decidiu iniciar a segunda fase de desenvolvimento da produção de óleo e gás na área chamada Parque das Conchas - onde estão os campos Abalone, Ostra, Argonauta e Nautilus - e perfurar dez poços nos próximos dezoito meses. O programa de perfuração, que será feito com duas sondas contratadas pela empresa, envolve o pré-sal da bacia de Santos, blocos em terra em Minas Gerais (bacia do São Francisco) e a bacia de Campos, onde é sócia da Petrobras.
O presidente da Shell Brasil, André Araujo, não fala em números. Adianta apenas que os investimentos para aumentar a produção de petróleo no país serão superiores aos US$ 1,6 bilhão aplicados na joint-venture que uniu as operações de distribuição e produção de etanol e outros combustíveis convencionais da Shell com as de Cosan / Esso. Porém, estimativa do mercado é que esse valor fique em torno de US$ 2,5 bilhões, já que incluem também projetos que permitam aumentar a produção de Bijupirá-Salema. Mas a empresa não confirma. "Posso dizer apenas que serão bilhões de dólares", resume Araujo.
A Shell fechou 2010 com produção de 95 mil barris de óleo equivalente (medida que inclui petróleo e gás) por dia no Parque das Conchas e Bijupirá-Salema, na parte capixaba e fluminense da bacia de Campos. A produção no Parque das Conchas em 2010 superou em 30% a estimativa inicial da companhia. Após esse resultado, a Shell decidiu iniciar a segunda fase do projeto, que prevê a perfuração de mais sete poços até 2013, os quais serão conectados à plataforma Espírito Santo, já instalada na costa de Vitória. A Shell tem 50% do projeto em associação com a Petrobras (35%) e a indiana ONGC (15%).
"O parque das Conchas teve uma performance excelente no grupo e isso permite que se olhe o Brasil como um país que entrega. É um conforto muito grande", afirma Araújo, resumindo a dinâmica da atração de investimentos disputados por vários projetos da empresa ao redor do mundo.
No pré-sal, o plano é perfurar mais um poço no bloco BM-S-54, onde a Shell, que tem a francesa Total como nova sócia na área, encontrou o reservatório apelidado de Gato do Mato. Os resultados da perfuração no local são considerados "encorajadores". O Gato do Mato é o projeto escolhido pela Shell para receber seus investimentos exploratórios no pré-sal brasileiro, onde é a operadora.
A companhia está oferecendo no mercado suas participações em outras áreas da mesma bacia como o BM-S-8, onde a Petrobras descobriu o reservatório Bem Te Vi no pré-sal de Santos, além de sua participação no BM-S-45 (Taquari) e no BS-4, todos na bacia de Santos. O executivo se mostra surpreso quando informado que essa decisão sugere, para alguns observadores do mercado, que as áreas podem não ser tão atrativas.
Araújo explica que se trata de um processo natural de desinvestimento da companhia. No ano passado, a Shell vendeu US$ 7 bilhões, ao mesmo tempo em que investiu o mesmo tanto em suas operações globais. Ele lembra que a companhia tem um portfólio global de investimentos no curto prazo que é sempre reavaliado para que seja definido o foco.
Sobre a decisão de vender os 20% detidos em Bem Te Vi, tomada em agosto de 2010, o presidente da Shell Brasil afirma que essa participação não será vendida "a qualquer preço". A afirmação indica que o apetite da Shell pelo petróleo brasileiro cresceu. A companhia está no país há 98 anos, fez sua estreia na exploração durante o período de contratos de risco, quando a Petrobras ainda tinha o monopólio, mas atuou grande parte desse tempo como distribuidora de combustíveis. A mudança de foco foi possível de 1999 em diante com a abertura do setor à exploração e produção para outras companhias.
André Araujo também se mostra animado com o início da exploração de áreas terrestres na bacia do São Francisco. O trabalho inicial prevê a contratação de sísmica 2D em uma área com 500 quilômetros quadrados de extensão, onde a Shell é sócia da Vale. Quando entrar na fase de perfuração, cada poço deve custar cerca de US$ 15 milhões.
Até 2020, a companhia anglo-holandesa, que obteve lucro de US$ 18,6 bilhões em 2010, deve manter a liderança como maior produtora privada do país, seguida por Chevron, que é acionista na área de Frade. Hoje, as duas operam dois dos 20 maiores campos produtores de óleo e gás do país. Mas terão a norueguesa Statoil e a chinesa Sinopec como competidoras assim que o campo Peregrino entrar em produção na bacia de Campos. Isso está previsto para o segundo trimestre.
Como a Shell vai aumentar a produção no Espírito Santo em 2013, a posição parece tranquila nessa década, pelo menos até que os projetos do pré-sal entrem em operação. Lá, a BG vai extrair 400 mil barris ao dia como sócia da Petrobras, além da Repsol, também com participação relevante.
Fonte: Valor Econômico/Cláudia Schüffner | Do Rio
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