Apenas oito meses depois de criar a HRT, Márcio Mello quer levar a empresa à Bolsa
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RIO - O entusiasmo com o potencial do pré-sal brasileiro rendeu ao geoquímico Márcio Mello a alcunha de "Mr. Go Deeper", referência ao título de um de seus trabalhos mais conhecidos, no qual apresenta as oportunidades das camadas mais profundas do subsolo marítimo do País. Excitação semelhante é mostrada com relação a seu mais novo desafio: a abertura de capital de uma nova petroleira brasileira, nos moldes da OGX, controlada pelo bilionário Eike Batista.
"Eu quero ser grande, muito grande", disse Mello, enquanto explicava o modelo de negócios da HRT Oil/Gas, empresa de exploração de petróleo que deve ser levada à Bovespa em julho. Com oito meses de existência, a HRT tem hoje concessões na Amazônia, no Espírito Santo e na Namíbia, com reservas potenciais calculadas em 2,1 bilhões de barris pela americana DeGolyer & MacNaughton.
A empresa planeja dar entrada no processo de abertura de capital até 15 de junho, a tempo de lançar as ações antes do fechamento do mercado financeiro internacional ? no Hemisfério Norte, a temporada de férias ocorre em agosto. Na última sexta-feira, três dias após a conversa com o Estado, teria uma reunião com os bancos que serão contratados para fazer a operação.
Na entrevista, concedida antes de iniciar o período de silêncio exigido pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o executivo não quis adiantar previsões sobre o valor de mercado da HRT. Ele disse, porém, não ver empecilhos em realizar a operação no mesmo período da capitalização da Petrobrás. "Temos a segunda maior área concedida no Brasil, atrás apenas da Petrobrás, e com apenas um terço das reservas avaliadas a D&M já calculou 2,1 bilhões de barris. Temos ainda a Namíbia, que é a última fronteira mundial para reservas gigantes", enumera o executivo, com um jeito de vendedor de canal de TV a cabo que é alvo de brincadeiras entre os colegas de trabalho desde os tempos da Petrobrás.
O nome da empresa vem de outra companhia de Mello, a High Resolution Technology, fruto de seu trabalho em pesquisa geológica desde que deixou a Petrobrás, em 1998, em busca de oportunidades abertas pelo fim do monopólio estatal. Ao longo desse período, abriu escritórios em seis países da África e América do Sul e ganhou reputação no mercado mundial de petróleo com suas análises sobre o potencial petrolífero do Atlântico Sul.
A mudança de rumo ocorreu no ano passado, no rastro dos estragos provocados pela crise global. Um de seus clientes, a Petra Energia, precisava de recursos para desenvolver suas concessões na Bacia do Solimões. Mello conta ter procurado conhecidos no Bank of Montreal, que lhe sugeriram comprar parte da operação, com a promessa de que conseguiriam outros investidores.
Os canadenses levantaram US$ 276 milhões com um grupo de 66 investidores, entre eles o bilionário americano Michael Dell, fundador da Dell Computers. Mello entrou com sua empresa de pesquisa, avaliada em US$ 80 milhões, que passou a se chamar Ipex e é agora coligada da HRT Oil/Gas, ambas controladas por uma holding chamada HRT Participações, que terá o capital aberto em bolsa.
As semelhanças com o processo de criação da OGX vão além do lançamento de uma empresa ainda sem produção: a HRT também se vale da experiência de sua equipe, muitos deles ex-Petrobrás. E, assim como no grupo de Eike, o alto escalão recebeu uma parcela das ações da companhia. Além disso, ambos parecem despertar o mesmo sentimento de aversão na direção da Petrobrás, que evita recebê-los.
Mello, porém, circula com maior desenvoltura pelo mundo do petróleo. Além das décadas de experiência no setor, é anfitrião de uma das festas mais disputadas durante os grandes congressos do setor que acontecem no País, sempre com a presença de mulatas em trajes sumários, que já se tornou tradição entre petroleiros de todo o mundo.
Fonte: O Estado de S.Paulo?/Nicola Pamplona