Desastre: Oposição republicana não abrem mão de exploração offshore
A mancha de petróleo que está se espalhando pelo Golfo do México vai motivar o Congresso americano a criar novas exigências de regulamentação, segurança e tecnologia que vão dificultar a expansão da exploração de petróleo na costa americana, disse ontem o mais alto assessor da Casa Branca para assuntos petrolíferos.
Mas políticos disseram que o vazamento catastrófico pode atrapalhar ainda mais os planos da Casa Branca de aprovar uma lei para reduzir o consumo de petróleo e outros combustíveis fósseis, ao impossibilitar a obtenção de um acordo que inclua mais exploração do subsolo marítimo no país.
Em entrevista ao Wall Street Journal, a assessora de energia e meio ambiente da Casa Branca, Carol Browner, não especificou se o presidente Barack Obama vai alterar sua própria proposta de expandir a exploração petrolífera nas costas do Atlântico e do Pacífico. Mudanças específicas na proposta do presidente terão de esperar pelos resultados de uma investigação de 30 dias sobre o desastre da plataforma Deepwater Horizon, a sair no fim do mês, explicou ela.
Duas semanas depois que a plataforma contratada pela BP pegou fogo, afundou e deixou um vazamento de petróleo no mar, Wa-shington começou a lidar com as consequências do desastre, que vão bem além do Golfo do México.
Membros importantes do Partido Democrata dizem que o vazamento pode levar o Congresso a aprovar um projeto de lei para combater o efeito estufa e promover fontes alternativas de energia e carros elétricos. Eles também pretendem propor novas regras que obrigariam todas as plataformas marítimas a usar tecnologia de segurança mais robusta, como sensores acústicos de controle remoto para fechar os poços.
Jack Gerard, presidente do Instituto Americano do Petróleo, disse que a "reação exagerada do Congresso" no lado regulatório pode tornar a exploração petrolífera economicamente proibitiva em algumas áreas. "O mais importante é que tenhamos os fatos antes de agir. Não devemos legislar num vácuo baseado em especulação."
Mas alguns senadores, tanto do Partido Democrata quanto do Republicano, dizem que o acidente diminuiu a chance de os projetos de lei do clima e de energia progredirem. Senadores de Estados costeiros, como Robert Menendez, de Nova Jersey, e Bill Nelson, da Flórida, prometeram bloquear a exploração marítima em qualquer projeto que for a votação. O líder da oposição no Congresso, Jon Kyl, de Arizona, disse que o projeto não vai avançar sem três "pilares": mais exploração de petróleo e gás, mais energia nuclear e um preço para os créditos de carbono. "Pelo menos temporariamente, isso derrubou uma das pernas do banquinho, então minha previsão é que nada vai progredir neste momento", disse.
Nelson concorda: "Isso torna mais difícil obter os 60 votos", disse ele, citando o número necessário para a maioria absoluta. "Não vai dar para incluir a exploração marítima na legislação climática."
Os assessores da Casa Branca tiveram o cuidado de não antagonizar políticos do Partido Republicano, de oposição. "O petróleo continuará integrando nossa matriz energética por um longo tempo", disse Browner, posição apoiada ontem pela líder do governo na Câmara, Nancy Pelosi, da Califórnia, uma crítica contumaz da indústria petrolífera. Browner disse que o desastre deve atrair para a mesa de negociação republicanos que antes não chegariam perto.
A tramitação do projeto de lei de energia tem sido atrapalhada nos últimos meses porque um único republicano. A senadora Lindsey Graham, da Carolina do Sul, está disposta a negociar uma legislação que promova energias alternativas, em parte com um reajuste no preço de combustíveis fósseis.
Enquanto a Casa Branca busca uma resposta legislativa, os democratas apresentam uma resposta política. O Partido Democrata da Flórida e seu Comitê de Campanhas para Senador começaram a se organizar e levantar recursos usando o desastre como lema.
Kyl sugere uma resposta diferente: explorar petróleo na Reserva Natural Nacional do Ártico, proposta bloqueada pelos democratas há anos. "Ela não está no mar, a 1.500 metros de profundidade. Há um oleoduto perto, e [a indústria] tem experiência de furar poços a poucos quilômetros dali."
Enquanto isso, a Casa Branca continuou concentrada em seus esforços para detalhar os passos que as autoridades estão adotando para tentar impedir uma catástrofe ambiental e responsabilizar a BP pelos custos de limpeza e os prejuízos causados. Assessores de Obama realizaram ontem diversas reuniões com congressistas.
Em Louisiana, a visita de domingo de Obama conquistou o apoio de alguns moradores e autoridades locais. "Sempre votei nos republicanos (...). Já conheci vários presidentes na minha vida, e este quer que as coisas sejam feitas. Nunca vi ninguém chegar e assumir o controle da situação assim antes", disse o prefeito do município de Plaquemines, Billy Nungesser, sobre a reunião que ele e outras autoridades de Louisiana tiveram com Obama.
Fonte: Valor Econômico/Jonathan Weisman, The Wall Street Journal
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