O metanol vem ganhando espaço entre as alternativas de combustíveis menos poluentes para o mercado global de navegação. Técnicos avaliam que os navios com três opções de combustíveis (HFO, MGO e Metanol, por exemplo) dão aos armadores flexibilidade em diversos cenários de preços. A expectativa é que, até o final do ano, 40% da frota no mundo tenha opção de operar com metanol. O assunto foi tema do seminário Metanol como Combustível, que ocorreu nesta sexta-feira (13), no Rio de Janeiro. O evento teve edições anteriores na Índia, Grécia e Emirados Árabes Unidos.
Os palestrantes destacaram a evolução dos motores de navios e a existência de armadores estrangeiros que já possuem navios bicombustíveis que utilizam metanol e que já têm outras embarcações desse tipo em carteira. Em 2016, a Waterfront Shipping lançou sete navios bicombustíveis que utilizam metanol. Quatro novas unidades semelhantes estão para ser entregues ainda em 2019.
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No seminário, a Methanex apontou que o metanol já está disponível em pelo menos 88 portos ao redor do mundo. Para o gerente sênior da empresa, Jason Chesko, a infraestrutura existente está bem posicionada para atender à demanda da indústria marítima global de forma confiável. O metanol é considerado mais benéfico ambientalmente do que combustíveis convencionais, como HFO (Heavy Fuel Oil) e o MGO (Marine Gas Oil).
O diretor de novas tecnologias da MAN Energy, Kjeld Aabo, afirmou que as soluções mais modernas contribuem para menores emissões de gases e melhora números operacionais. Ele explicou que os equipamentos hoje contam com assistentes digitais, o que permite aos operadores saber sobre o que acontece na operação do motor. Aabo acredita que cada vez mais existirão motores que trabalham com mais de um tipo de combustível.
As novas regras vão aumentar a responsabilidade de armadores, estaleiros e fornecedores de equipamentos. O anexo 6 da convenção internacional para prevenção da poluição por navios (Marpol) prevê que os navios precisarão gradativamente de mais engenharia eficiente e de níveis mais baixos de emissões. A estratégia aprovada têm níveis considerados bastante exigentes: melhorar eficiência energética dos navios, reduzir a intensidade de emissões das embarcações em 40% até 2030 e cortar 50% das emissões totais até 2050, tendo como referência as emissões apuradas em 2008.
O capitão de mar e guerra Fernando Alberto Gomes da Costa, representante do Brasil nas discussões da IMO, contou que o quarto estudo sobre emissões no setor marítimo deve começar ainda em 2019 e ser concluído em 2020. “O momento é oportuno para apresentar combustíveis como alternativas aos fósseis. Momento para quem tem [navio] biocombustível saber se ele é logisticamente viável”, Costa.
O vice-presidente executivo da Associação Brasileira dos Armadores de Cabotagem (Abac), Luis Fernando Resano, observa que os combustíveis para transporte marítimo vêm sendo muito questionados nos últimos anos. Ele lembrou que, além do metanol, existem tecnologias alternativas em estudos a partir de outras fontes de energia, como GNL e solar. Resano acrescentou que o Brasil tem pesquisas sobre combustíveis que precisam ser mais divulgadas a nível nacional e internacional. “Precisamos externalizar um pouco as pesquisas que temos”, defendeu. Atualmente existem muitos projetos de pesquisa e desenvolvimento em fase de estudos de viabilidade, a maioria concentrada na Europa.
Os defensores do metanol alegam que o produto é um combustível que queima de forma mais limpa que atende a requisitos rigorosos de regulações sobre emissões. Quando comparado ao óleo pesado (HFO), representa reduções de 99% nas emissões de SOx, 60% de NOx e 95% de materiais particulares. Considerando a tecnologia de motores atual, o metanol reduz a emissão de NOx em comparação ao diesel. No entanto, ainda não atinge os níveis Tier III. Os limites de NOx pelo Tier III podem ser atingidos com uma mistura de água com metanol. O metanol, normalmente produzido a partir do gás natural, é o combustível com menor teor de carbono se comparado ao HFO, resultando na redução de 13% de CO2. Especialistas acreditam que a produção do metanol a partir de energias renováveis pode reduzir ainda mais as emissões.
O maior receio no setor de navegação mundial está em haver uma pressão para renovação da frota por conta das novas regras da IMO, o que pode encarecer os custos do transporte marítimo. “A tecnologia dos motores avançou, porém a velocidade de mudança dos equipamentos das frotas talvez não seja tão rápido quanto a IMO imagina. 2030 é amanhã, faltam 10 anos”, comentou Resano.