A Nature Climate Change, uma das mais importantes publicações científicas do mundo, publicou em seu site, artigo sobra a descarbonização do transporte marítimo, com a participação de pesquisadores brasileiros.
O artigo "International shipping in a world below 2?°C" foi publicado no dia 22 de maio. Entre os autores estão os professores da Coppe/UFRJ Roberto Schaeffer, Alexandre Szklo, Joana Portugal-Pereira e Pedro Rochedo, e os pesquisadores Eduardo Müller-Casseres (autor líder do paper), Luiz Bernardo Baptista e Rebecca Draeger, todos do Programa de Planejamento Energético (PPE) com atuação no laboratório Cenergia.
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O artigo, que será publicado na edição impressa da Nature Climate Change neste mês de junho, apontou que o transporte marítimo internacional possui um alto nível de inércia tecnológica. Isso ressalta a necessidade de investimentos em combustíveis de baixo carbono, novos motores e nova infraestrutura (para armazenamento e abastecimento) de modo a preparar o setor para a transição para fontes renováveis de energia.
O estudo resultou de uma colaboração internacional, envolvendo diversos modelos de avaliação integrada (IAMs, na sigla em inglês) e demonstrou o potencial de descarbonização do transporte marítimo, com a redução das emissões anuais alcançando até 86% até 2050, com a implementação de combustíveis de baixo carbono. Os autores destacaram a importância da implementação de um portfólio de combustíveis alternativos, como biocombustíveis drop-in, álcoois renováveis e amônia verde, aos combustíveis marítimos convencionais, e reforçaram o conceito de corredores verdes para práticas de navegação sustentável.
Segundo o pesquisador Luiz Bernardo Baptista, o estudo foi motivado por uma recorrente discussão entre os pesquisadores envolvidos na colaboração internacional sobre a necessidade de “dar um zoom” nos setores "hard to abate" (de difícil redução de emissões). “O transporte marítimo internacional é difícil de descarbonizar ou não estamos dando a devida atenção? Essa dúvida motivou a tese de doutorado do Eduardo (colega de Bernardo no Cenergia) e estudos sobre como reagiriam os modelos de avaliação integrada, como o Coffee que usamos aqui na Coppe, com alterações nas variáveis relativas ao transporte marítimo”.
“Nós e outros cinco grupos de pesquisa de diferentes países contamos com o apoio do projeto Navigate, financiado com recursos do fundo europeu EU2020 e trabalhamos em consonância para analisar as metas de descarbonização que a Organização Marítima Internacional (IMO) fixou para 2050 , acrescentou.
De acordo com Bernardo, o transporte marítimo é um setor "hard to abate", dentre outros motivos, devido ao longo tempo de vida útil da frota em operação e alto custo para substituí-la. “Leva cerca de 25 a 40 anos para descomissionar os navios, tempo semelhante ao de grandes usinas. Com a implementação de combustíveis "drop in" – óleo vegetal direto ou hidrotratado, biodiesel (FAME), entre outros – não precisa substituir a frota existente”, explicou o pesquisador que ressaltou os desafios logísticos para armazenamento e distribuição destes combustíveis, que são diferentes para cada país.
“No Brasil, a gente não enxerga a dificuldade de ter etanol nos postos de combustível, porque aqui é comum. Nossa cadeia de suprimentos está preparada para isso, porque houve decisão política de prepará-la. Os estudos e metas precisam ser revisitados, porque decisões não são tomadas e a janela de oportunidade para reduzir as emissões de maneira tempestiva se torna mais estreita. Precisamos ter um olhar crítico sobre a viabilidade”, ponderou o aluno de doutorado do Programa de Planejamento Energético.