Além dos controles mais rígidos às emissões e da mudança rumo aos veículos elétricos, as traders de diesel da Ásia agora têm que se preocupar com os pepinos-do-mar que vivem ao largo do litoral da China.
Uma iniciativa chinesa para proteger criaturas marinhas ameaçadas proibindo a pesca contribuiu para a queda do chamado crack spread do diesel na Ásia, um indicador dos retornos da produção do combustível, para o menor patamar em nove meses. O motivo é que milhares de barcos de pesca do país ficarão ociosos de maio a setembro e, portanto, não precisarão do combustível em um momento em que a oferta normalmente é ampla porque as refinarias retomam as atividades após trabalhos de manutenção.
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Esta não é a primeira vez que as traders são afetadas por mudanças nas políticas da China, maior consumidora de energia do mundo. O país elevou seus padrões de combustíveis para veículos em janeiro, levando suas refinarias a ampliarem a produção de diesel premium e, em contrapartida, reduzindo o diferencial de preço entre os tipos de combustível mais limpos e sujos na Ásia. A proibição à pesca, o crescimento econômico mais lento e o afastamento das indústrias pesadas no país poderiam afetar ainda mais a perspectiva para o combustível, segundo a BMI Research, da Fitch Group.
"A proibição nacional à pesca imposta em maio atingirá ainda mais o consumo de diesel da considerável frota de barcos da China", informou a BMI em relatório de 25 de maio. "Considerando que a economia chinesa deverá desacelerar ainda mais no segundo semestre de 2017, a demanda por combustíveis refinados poderá sofrer uma pressão maior nos próximos meses."
Necessidade de proteção
A pesca excessiva e a demanda crescente por frutos do mar esgotaram os recursos pesqueiros nos principais rios e mares da China, disse Liu Xiaoqiang, representante do departamento de pesca do Ministério da Agricultura. Entre as espécies com necessidade de proteção estão o pepino-do-mar, o peixe-espada e a pescada amarela. O pepino-do-mar, um reverenciado item alimentício de luxo para os consumidores chineses ricos, tem sido pescado a uma taxa insustentável, segundo a WorldFish, uma organização de pesquisas sem fins lucrativos.
A China proibiu a pesca em seus quatro principais mares em 1º de maio, na primeira vez em que sincronizou as datas do embargo para toda a pesca offshore. A proibição termina entre agosto e setembro e terá cerca de um mês a mais que as anteriores, afetando quase 200.000 barcos de pesca e um milhão de pescadores, segundo o Ministério da Agricultura.
Isso reduziu o preço do diesel, normalmente o combustível usado pelos barcos de pesca, segundo cinco traders e um analista consultados pela Bloomberg. Além disso, derrubou o crack spread do diesel no início de maio ao nível mais baixo desde agosto de 2016. O total estava perto de US$ 9,50 por barril na quarta-feira.
"A atividade pesqueira na China certamente afeta a demanda doméstica por diesel", disse WengInn Chin, analista para o mercado de petróleo da consultoria do setor FGE, acrescentando que a proibição havia gerado alguma pressão sobre o crack.
Fonte: Uol