O restauro da canoa Maria Antonieta, de 103 anos, que está sendo realizado no Estaleiro-escola do Centro de Convívio dos Meninos do Mar (CCMar) há seis meses, deve ser concluído ainda este mês. O trabalho é feito pelo construtor naval e professor do Estaleiro-escola José Vernetti junto com estudantes do CCMar. A Maria Antonieta é uma canoa de pranchão, reconhecida como o primeiro modelo de embarcação tradicional propriamente desenvolvido em Rio Grande. E a direção do Centro e do Museu Oceanográfico da Furg está buscando mais informações sobre este modelo. Neste sentido, pede às pessoas que tiverem fotografias de embarcações deste tipo ou que tenham conhecimento dos modos de construção da época em que elas eram usadas na região e até de suas tripulações que entrem em contato com o estaleiro - rua Paranaguá, 24, fone (53) 3230.5364 - ou com o Museu Oceanográfico, fone (53) 3231.3496.
Conforme o diretor do Museu Oceanográfico e do CCMar, Lauro Barcellos, a intenção é de obter informações que permitam uma compreensão maior do processo construtivo da canoa de pranchão e da importância que ela teve na região Sul do Estado, tanto na parte econômica quanto na social. A Maria Antonieta é maior que as duas canoas deste modelo já restauradas pelos Museus Oceanográfico e Náutico e o CCMar, visando ao resgate do patrimônio cultural náutico da região do Rio Grande. Tem 11,3 metros de comprimento. Foi adquirida de João Moreira Neto, de São José do Norte, pelo empresário porto-alegrense Sérgio Alberto Neumann, que a doou ao Museu Oceanográfico. Depois de restaurada, ela ficará no píer da instituição, com outros barcos.
Barcellos observa que a canoa de pranchão é um modelo único no mundo, pois só em Rio Grande os construtores navais utilizaram este engenhoso método de construção. O casco deste tipo de canoa era construído com pranchões de cedro de 2,0 polegadas de espessura, falquejados a enxó (ferramenta) e fixados uns aos outros com pregos e cavilhas sobre um esparso cavername com três a cinco cavernas mestras, feito preferencialmente de grápia ou angico. As pranchas eram recortadas e armadas como em um “quebra-cabeça”. "É um método construtivo muito especial porque eles (os construtores antigos) esculpiam as 49 peças que constituíam o casco e montavam simetricamente a canoa", salientou Barcellos. Essas embarcações apresentavam três velas - o foque, o traquete e a mezena, tingidas com a tintura roxa extraída da casca da capororoca (pequeno arbusto típico da região do estuário).
Conhecidas como "pano poveiro", as velas são trapezoidais com verga, adequadas aos ventos da região. "Foram os pescadores portugueses que as trouxeram da Póvoa de Varzim e as adaptaram para a realidade do estuário da Lagoa dos Patos e litoral adjacente", relatou. As canoas de pranchão tinham capacidade de carga de uma a dez toneladas e foram utilizadas na pesca no estuário e área oceânica adjacente ao longo do século 19 até meados do século 20. Depois, foram sendo substituídas por outros modelos de barcos. "Por volta de 1930/40, alguns patrões experimentaram adaptar motores de popa com longas rabetas em suas canoas, iniciando um processo de mudança sociocultural que se prolongaria nas décadas seguintes. Antigamente, algumas também transportavam produtos das chácaras de horticultores das ilhas próximas à cidade do Rio Grande e São José do Norte", acrescentou.(Fonte: Jornal Agora/Carmem Ziebell)
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