Ao menos duas petroleiras pretendem concluir a aquisição de ativos da Petrobras, mesmo diante da crise provocada pela pandemia de covid-19 e pelo choque de preços do petróleo, no mercado internacional, nos últimos dois meses. A australiana Karoon e a brasileira PetroRio já anunciaram publicamente que mantêm o interesse em avançar para o fechamento dos negócios, precificados antes da crise, num momento em que os ativos estavam mais valorizados.
Ao todo, a estatal tem nove transações já assinadas, mas ainda pendentes de conclusão, que totalizam US$ 2,75 bilhões, dos quais a companhia já recebeu US$ 159,5 milhões. Dessas, oito operações envolvem ativos de exploração e produção (E&P), sensíveis aos preços do petróleo.
A conclusão da venda do campo de Baúna (Bacia de Santos), para a Karoon, e de 30% de Frade (Bacia de Campos), para a PetroRio, significa, para a Petrobras, a entrada de US$ 707,5 milhões no seu caixa.
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Na semana passada, a Karoon anunciou uma série de medidas para cortes de custos, mas destacou que, apesar do impacto de curto prazo da covid-19 nos mercados mundiais, a empresa “continua empenhada em trabalhar para concluir a aquisição de Baúna”. A australiana alega que o ativo é de “alta qualidade”, com potencial para agregar valor aos acionistas da empresa.
A Karoon, porém, esclareceu que a crise trouxe “incertezas significativas” para o financiamento da aquisição. A empresa informou que a conclusão do negócio depende da autorização dos órgãos competentes – Agência Nacional do Petróleo (ANP) e Ibama — e que ainda negocia os termos finais do financiamento com os bancos, sobre os preços do petróleo que determinarão o valor final do empréstimo. A australiana assinou contrato com a Petrobras para compra de Baúna por US$ 665 milhões, dos quais já pagou US$ 50 milhões.
A PetroRio se comprometeu a pagar US$ 100 milhões pelos 30% que a Petrobras detém em Frade. O presidente do conselho de administração da PetroRio, Nelson Queiroz Tanure, disse ao Valor, há duas semanas, que a companhia tem recorrido à postergação de investimentos e cortes de custos para preservar o caixa, mas que está empenhada em fechar, mesmo num cenário de baixa dos preços do petróleo, a aquisição.
“Mesmo com a queda dos preços, Frade continua sendo um campo atrativo. Nosso contrato não tem uma cláusula de força maior por causa da queda do preço do petróleo. Não passou pela nossa cabeça desistir do negócio”, afirmou Tanure, em entrevista ao Valor.
Na semana anterior, o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, já havia dito que o programa de desinvestimentos da Petrobras poderá sofrer alguns atrasos, mas que se mantém “intacto”, mesmo diante da crise econômica. O executivo afirmou, num evento on-line, que tem a confiança de que os negócios em reta final serão honrados pelos compradores. “Temos confiança, pelo que nos é dado pelos compradores, de que a liquidação financeira ocorrerá no momento que for marcado”, comentou.
Ele explicou, na ocasião, que algumas transações ainda têm que obedecer a “condições precedentes”. E citou o exemplo da venda da Liquigás, para a Copagaz e Nacional Gás, que ainda depende do aval do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). “Os compradores estão firmes, esperando”, disse.
Desde o colapso dos preços do petróleo, no início de março, a Petrobras postergou alguns prazos, como no caso da venda das refinarias e da Gaspetro. Por outro lado, colocou novos ativos à venda: abriu oficialmente o processo de venda dos 10% remanescentes da empresa na Nova Transportadora do Sudeste (NTS) e de suas usinas eólicas.
Nesta segunda-feira, a empresa abriu a venda de sua fatia de 35% no campo de gás natural de Manati, na Bahia.
A estatal ganhou também mais prazo da Agência Nacional do Petróleo (ANP) para concluir seus desinvestimentos em campos terrestres e em águas rasas. A companhia tenta vender os ativos há alguns anos, mas, com o choque de preços do petróleo, a missão se tornou ainda mais difícil.
A ANP vem pressionando a estatal, nos últimos anos, a se desfazer dos ativos onde não tem mais interesse em investir e havia dado um prazo até meados do ano para que a petroleira concluísse seus desinvestimentos, sob o risco de retomar as concessões para relicitação. A agência informou, no entanto, que atendeu à solicitação da Petrobras, devido à crise econômica decorrente da pandemia da covid-19, e decidiu postergar o prazo até o fim de 2020.
A decisão vale para a venda dos polos Fazenda Belém, Sergipe Terra 2, Sergipe Terra 3, Miranga, Cricaré, Remanso, Rio Ventura, Recôncavo, Ceará Mar, Sergipe Terra 1, Rio Grande do Norte Mar, Merluza, Carapanaúba/Cupiúba, Garoupa e Peroá/Cangoá.
Fonte: Valor