O recente acordo firmado pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo e seus aliados (Opep+), que prevê o corte de quase 10 milhões de barris diários da oferta em maio e junho, e o anúncio de previsão de abertura gradual de algumas economias europeias no próximo mês tiveram pouco efeito, para não dizer nenhum, nas perspectivas de preços da commodity em curto prazo. Especialistas esperam que a volatilidade do preço do barril continue, sinalizando uma demanda muita fraca e a necessidade de novos ajustes na oferta.
Em seu cenário de referência, a Bain & Company, por exemplo, projeta que a capacidade de estoque global de petróleo atingirá o limite em aproximadamente três meses e que fornecimentos adicionais serão necessários apenas no primeiro trimestre de 2021. A consultoria prevê uma queda da demanda de 21 milhões de barris diários no segundo trimestre e de 16 milhões de barris diários nos três meses seguintes. Nem no cenário otimista, a empresa prevê crescimento da demanda até o primeiro trimestre de 2021.
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“O anúncio [de reabertura de economias] é só uma esperança. Por agora, não tem como saber o cenário”, disse o especialista e petróleo e diretor da Bain & Company no Rio, José de Sá. Segundo ele, o recente acordo da Opep+ não teve efeito para os preços do petróleo em curto prazo. Para o especialista, apenas um acordo que equalizasse a oferta com a demanda poderia gerar uma situação mais saudável e garantiria uma saída mais robusta da crise.
Nesse contexto, a Bain & Company projeta que o preço do Brent ficará na faixa de US$ 10 a US$ 15 o barril durante o segundo semestre, com uma tendência de aumento para US$ 35 o barril na segunda metade do primeiro trimestre do próximo ano.
A Fitch Ratings tem uma visão um pouco mais otimista. A agência de classificação de risco estima que o Brent chegará ao fim do ano ao preço de US$ 35 o barril. Para 2021, a estimativa é de US$ 45 o barril. Em 2022 e 2023, as previsões são de US$ 53 e US$ 55, respectivamente.
Com perspectivas semelhantes, a Moody’s prevê um preço do barril do Brent de US$ 35 em 2020 e de US$ 45 em 2021. Em relatório divulgado ontem, a classificadora de riscos destacou que os preços de curto prazo persistirão fracos até que restrições de oferta possam aliviar a tensão nas instalações de armazenamento de petróleo, que já operam com capacidade total ou quase total. A Moody’s também prevê que a produção petrolífera em 2020 e 2021 diminuirá, em função do acordo da Opep+ e dos cortes significativos de investimentos pelas companhias.
Segundo a Moody’s, os ajustes significativos na oferta deverão ajudar a equilibrar o mercado no fim de 2020, mas o ritmo do reequilíbrio e do mercado e do aumento dos preços dependerá da demanda, algo que ninguém consegue prever neste momento.
“Por agora, não tem como saber o cenário ao certo”, afirmou Sá “O transporte aéreo, por exemplo, é uma demanda que vai demorar a voltar”, completou. “Nós vamos sair muito diferentes dessa crise, não só as pessoas físicas, mas as empresas também”.
Ontem, o contrato do Brent para junho fechou em alta de 10,16%, a US$ 22,54 o barril. Já o contrato do WTI para junho fechou em alta de 22,04%, a US$ 15,06 o barril.
Fonte: Valor