O presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, admitiu, pela primeira vez, ontem, que a companhia pode não atingir a meta de desalavancagem, de 1,5 vez a relação entre dívida líquida e Ebitda (sigla em inglês para lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização) em 2020. A meta de redução do nível de endividamento é o principal indicador financeiro observado pelos analistas que acompanham a petroleira.
“A Petrobras ainda tem uma dívida que é superior a duas vezes sua geração de caixa. Normalmente, uma companhia produtora de commodity, fica confortável com indicadores abaixo de duas vezes (a geração de caixa). Nós pretendíamos fazer isso (reduzir a dívida) esse ano. Ano passado pagamos US$ 24 bilhões de dívida, (e) foi para US$ 87 bilhões. Vamos ver se isso é viável ou não. É um ponto de interrogação agora, que não existia antes”, afirmou o executivo, em entrevista rede de tevê CNN Brasil..
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O objetivo, continuou Castello Branco, é reconquistar o grau de investimento, para reduzir o custo de capital da companhia. “Para somente manter nossas reservas, temos que gastar bilhões de dólares. Temos que manter nossas reservas para manter a capacidade produtiva e, na medida do possível, crescer. Temos bons projetos para fazer isso”.
Segundo Castello Branco, desde o início do ano, a estatal petrolífera brasileira vem fazendo reduções de preços, acompanhando a expectativa de menor demanda, devido ao coronavírus, causador da covid-19, e ao recente choque do petróleo, que derrubou os preços da commodity. Ele afirmou, ainda, que volatilidade faz parte da natureza dos preços do petróleo e de combustíveis. Diante de um choque de preços, o padrão da Petrobras é não reagir imediatamente e sim com cautela, continuou.
“Observamos o comportamento do mercado para, então, alinharmos nossos preços à paridade internacional. Quando acontece um evento inesperado, a reação, além de altas ou baixas significativas, há grande volatilidade. Não podemos tomar uma decisão em um ambiente de alta volatilidade”. Castello disse que há o risco transmitir essa volatilidade aos compradores de combustíveis.
No ano passado, os preços médios do petróleo no mercado internacional foram de US$ 64 por barril. A desaceleração do crescimento da economia global este ano independe do problema entre Rússia e Arábia Saudita, e acontece desde o terceiro trimestre do ano passado. “O crescimento da economia global afeta diretamente a demanda por petróleo. Então, é razoável supor que, na média, mesmo que essa situação atual se resolva, satisfatoriamente, os preços serão mais baixos”, afirmou.
Castello Branco também disse que a Petrobras tem situação muito melhor do que em 2014 e 2015, apesar de a companhia ainda estar muito endividada. “Nossos projetos são economicamente viáveis, a preços de petróleo de longo prazo mais baixo, abaixo de US$ 40. Temos projetos muito bons, como o de [campo] Búzios, e em termos de geração de caixa, podemos resistir a um preço médio anual de US$ 25. A Petrobras está saudável financeiramente. Ao mesmo tempo, nossos resultados econômicos serão afetados, isso é claro. Como uma companhia de petróleo, ela tem sua lucratividade afetada pelos preços do petróleo”, disse.
Mas, o executivo acrescentou que o novo preço do petróleo não muda nenhum plano da companhia, que continuará a executar sua estratégia da mesma forma. Afirmou, ainda, que não há sinais de desistência ou falta de entusiasmo dos interessados na compra das refinarias.
Fonte: Valor