Crônica do pioneirismo da Libra na adoção das soluções sustentáveis para o bom crescimento
Por Marcelo Araujo – presidente do Grupo Libra*
Grande parte das histórias das nações pode ser contada pelos seus portos. É por ali que primeiro desembarcam a grande maioria dos seus ciclos de prosperidade, ou, porque não dizer, também de adversidade econômica. Os portos têm também uma forte dimensão simbólica e poética. Por trás da concretude e da rusticidade histórica de uma atividade que exige força, mecanicidade e precisão, sobrevoam os sonhos de partida, de reinício, de reencontro. Canta em verso a poetisa portuguesa Sophia de Mello Breyner: “O Porto é o lugar onde para mim começam as maravilhas e todas às angustias”.
Quem vê de perto o cais, as vielas, as arcarias e o entorno nas regiões portuárias, contudo, deve questionar os motivos pelos quais tantos pensamentos oníricos atravessaram séculos atracados naquela paisagem do ir e vir dos homens e das mercadorias. Um dos mistérios indecifráveis da alma humana, sem dúvida. Mas objetivamente, os portos propiciaram muito do que há de melhor nesse mundo, suprindo a fome, possibilitando o desenvolvimento, saciando o desejo de liberdade. Foram responsáveis também por algo do que há de ruim nesse mundo, poluindo a costa, afetando fauna e flora marinha, servindo de porta de entrada para epidemias, drogas, contrabando, praticando políticas sociais retrógradas e favelizando a comunidade portuária.
Uma parte dessa história é letra morta. Evoluímos. O conceito de sustentabilidade invadiu corações e mentes, tornando flexível uma glacial divisão entre capital e trabalho, uma inquebrantável antítese entre produção e meio ambiente, um preconceito de que o capital humano para tarefas de menor densidade intelectual não precisava ser capacitado e evoluir permanentemente, que a tecnologia era inimiga da mão de obra e vice-versa, ou que as crianças, os velhos e as famílias dos trabalhadores eram problemas deles, e tão somente deles. Mas outra parte dela ainda é letra viva, queimando como fogo nos costados do ecossistema e dos homens. É onde temos que melhorar e fazer dos portos, cidadãos. E compreender que sustentabilidade é uma força viva, em permanente evolução.
Estamos ainda engatinhando. Mas o que fizemos já nos garante uma dianteira, tênue dianteira. Alguns portos, contudo, chegarão próximo desse estado da arte. Serão, no futuro, os únicos dignos de serem denominados “Portos Sustentáveis”. O Grupo Libra pretende estar entre os que ajudam os portos brasileiros a alcançarem essa distinção.
Foi um longo percurso até que decidíssemos caminhar em direção à sustentabilidade, uma estrada ainda enevoada para todo o setor portuário. A gestão de Governança Corporativa do grupo evoluiu uma vez mais em 2008, quando foram definidos os parâmetros pelos quais o Grupo se enxerga hoje. Os acionistas e líderes estabeleceram o conjunto de valores e nascia a Visão Libra – O Bom Crescimento. Foi criada então a Comissão de Sustentabilidade, com representantes de todas as unidades do grupo. Ali estava, em semente, o trabalho que se busca construir no grupo deste ponto em diante. Ele teve como base os pilares da visão de sustentabilidade: atuar de forma ética e transparente, melhorar o aproveitamento dos recursos naturais, ser parceiro do desenvolvimento das comunidades de entorno e evoluir de forma consistente na gestão de colaboradores. Chamamos a conjunção dessas premissas de “Valorização da VIda”.
Mas é necessário explicar um pouco da arquitetura do Grupo Libra para entender como a visão de sustentabilidade integraria toda a floresta. Somos um dos maiores players brasileiros em operação portuária e logística de comércio exterior. O Grupo, na realidade, é um complexo de infraestrutura, dividido em três principais unidades de negócios – Libra Terminais, Libra Logística, Libra Aeroportos. A Libra Terminais reúne as operações portuárias de contêineres na Libra Terminais Santos e na Libra Terminais Rio. É responsável também pela construção de um novo terminal portuário em Imbituba (SC). Em função da abrangência de atuação, o trabalho de sustentabilidade no grupo está sendo feita de maneira transversal – ou seja, as soluções logísticas são ofertadas de maneira integrada, o que permite maior controle ambiental dos processos, inclusive otimizando a emissão de CO2 ao longo de toda a cadeia.
A tradução desses pilares permitiu ao grupo criar indicadores mensuráveis, trazendo a visão de sustentabilidade para a realidade. Um das estratégias para envolver colaboradores foi a criação do Prêmio Libra de Inovação e Sustentabilidade, que nestes três anos de existência, recebeu mais de 400 inscrições de projetos e ideias, e premiou cerca de 100 pessoas. Dessa iniciativa surgiram várias inovações para a sustentabilidade, que já estão implementadas, como um projeto de economia de consumo da água que obteve, em dois anos e sete meses, redução de consumo de 32 milhões de litros de água.
O trabalho da comissão de Sustentabilidade permitiu ao grupo Libra ser o primeiro do setor portuário a assumir publicamente as metas de redução de emissões. No ano passado nos tornamos signatários do pacto global e membros do Comitê Brasileiro do Pacto Global, iniciativa da Organização das Nações Unidas (ONU) que estabelece princípios relacionados a direitos humanos, práticas trabalhistas e responsabilidade com o meio ambiente.
Outros indicadores mostram o “grande pequeno” trabalho que já foi feito. Grande por que já podemos comemorar hoje, por exemplo, a redução de 7,6 do total de emissões de gases de efeito estufa do grupo. Para alcançar tal resultado, foram tomadas providências como redução do consumo de diesel e uso de etanol na frota de veículos próprios na área de terminais. Na Libra Logística está sendo trabalhado o conceito de solução integrada, em que é feita a gestão única de diversas etapas de um processo de importação ou exportação,. Com isso, é possível otimizar a emissão de CO2 ao longo de toda a cadeia , diminuindo impactos sociais e ambientais.
No que diz respeito ao uso responsável dos recursos naturais, a Libra obteve inclusive reconhecimento externo. O Terminal Santos venceu a categoria Sustentabilidade em Processos do Prêmio Eco 2011, promovido pelo jornal Valor Econômico e pela Câmara Americana de Comércio, Amcham. Implantado há cerca de três anos, o projeto conseguiu reduzir em mais de 83,3% o total de resíduos perigosos produzidos pelo Terminal, que deixou de gerar 113 toneladas destes resíduos. Isso é feito pela triagem de resíduos por tipo e destinação. O projeto já começou a ser implantado na Libra terminal Rio.
A Libra investiu fortemente na adoção de tecnologias de baixo impacto ambiental. Cerca de R110 milhões foram usados para adquirir equipamentos com tecnologia inédita para os terminais do Rio e Santos: são quatro portêineres e sete guindastes Eco-RTGs, que consomem até 50% menos óleo diesel que os guindastes convencionais, com a consequente redução de emissões de gases de efeito estufa.
A ampliação do grupo também é realizada de maneira sustentável. A expansão de retroárea em 40.000 m2 e 120 m adicionais de cais no Porto do Rio segue o Programa de Controle Ambiental, que monitora emissão de gases e poluição, entre outros. Obras sustentáveis também foram adotadas na Libra Logística Campinas, onde o armazém alfandegado teve projeto com iluminação natural e sistema de reaproveitamento de água para utilização industrial.
O Grupo Libra elaborou, em 2011, sua Política de Investimento Social de forma participativa, com dois eixos prioritários de atuação: capacitação de jovens de baixa renda para o primeiro emprego e ações de mobilização da sociedade como ferramenta de desenvolvimento local. As diretrizes dessa política redirecionarão os investimentos sociais ao longo do tempo. O apoio a projetos sociais impulsionam o desenvolvimento das comunidades nas regiões de atuação do Grupo Libra, que investe, anualmente, cerca de R$ 1 milhão, beneficiando, ao todo, 25 instituições. Como fruto da nossa política, a Libra já iniciou um projeto em parceria com a UniSantos, que formará 50 jovens para o primeiro emprego no setor portuário. Essa iniciativa será estendida, no próximo ano, para o Porto do Rio.
No Rio de Janeiro, a Libra oferece para a comunidade programas de ginástica laboral e inclusão digital, além da parceria com a ONG Pimpolhos do Grande Rio, ONG localizada em Duque de Caxias, no Rio de Janeiro que desenvolve atividades de cunho artístico cultural. Em Santos, a empresa apoia a ONG Arte no Dique, que desenvolve trabalho sócio-cultural com a população do Dique da Vila Gilda na Zona Noroeste de Santos, numa das regiões com maiores índices de vulnerabilidade social da cidade. A ONG promove ações, oficinas e cursos profissionalizantes.
O grupo Libra se orgulha de ter sido a primeira empresa do setor portuário a apresentar a seus stakeholders um relatório de sustentabilidade seguindo as diretrizes da Global Reporting Initiative (GRI) – organização holandesa que desenvolveu parâmetros aceitos internacionalmente para o relato do desempenho das empresas nos âmbitos econômico, social e ambiental. Nós nos comprometemos com a evolução permanente desse sistema de gestão. Vamos inserir cada vez mais a sustentabilidade nas rotinas, dinâmicas de grupo, comunicação interna e subindo a cadeia hierárquica até o último topo da tomada de decisão. É a nossa visão do bom crescimento.
Reconhecemos o “pequeno” em nosso trabalho, visto que grande ainda é o caminho a ser trilhado. Sabemos que estamos praticamente começando. E que temos a obrigação de fazer muito mais. No entanto, mesmo assumindo nossas preocupações, que são imensas devido ao peso da responsabilidade, já vale como grande motivação saber que estamos na frente.
*Marcelo Araujo é formado pelo Instituto Militar de Engenharia (IME) em Engenharia Mecânica e de Automóvel com MBA pelo PDG/SDE. Fez especialização na Harvard Business School, na Manchester Business School e no Insead, na França. Iniciou sua carreira na Shell Brasil S/A onde atuou em operações, vendas, marketing, planejamento e engenharia. De 1993 a 2003 foi Diretor Comercial e de Operações e Vice-Presidente da Natura Cosméticos, tendo sido posteriormente Diretor Executivo da CSN. A seguir, foi membro do Conselho de Administração do Grupo Camargo Correa e responsável pela Divisão de Calçados, Têxteis e Siderurgia, onde exerceu as funções de Presidente do Conselho de Administração da São Paulo Alpargatas no Brasil e Argentina, da Tavex Algodonera na Espanha e membro do Conselho de Administração da Usiminas. Desde junho de 2008 é Presidente Executivo da Libra Holding.
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