Com a falta de investimento público em infraestrutura, companhias decidem apostar pesado em logística para garantir competitividade
As empresas privadas cansaram de esperar pelo poder público e decidiram apostar pesado nos projetos de infraestrutura logística para garantir competitividade. Com a retomada do crescimento depois da crise global de 2008/2009, as companhias aceleraram empreendimentos importantes no setor portuário, ferroviário e de armazenagem.
É o que mostra um levantamento feito pela Fundação Dom Cabral com 76 grandes companhias instaladas no Brasil. Desse grupo, 91% vão retomar (ou já retomaram) investimentos este ano, em especial em logística. O objetivo é acompanhar o avanço da demanda e evitar que os gargalos comprometam a rentabilidade da empresa, diz o professor Paulo Resende, responsável pela pesquisa.
"O setor produtivo quer garantir que a competitividade alcançada da porteira para dentro (na fábrica) siga até seu cliente." Na lista de companhias que aderiram a essa filosofia, estão gigantes como Vale, Gerdau, CSN, Usiminas e Braskem, cujos preços de seus produtos são diretamente impactados pela má qualidade do transporte brasileiro.
Os usineiros também ampliaram os orçamentos para as áreas de ferrovia e portos. A Cosan, maior produtora do setor, apostou na criação da Rumo Logística, com investimentos nas duas áreas. Em quatro anos, pretende ampliar para 10 milhões de toneladas o volume de açúcar movimentado por trilhos até o Porto de Santos. Para isso, comprou 729 vagões e 50 locomotivas, que vão tirar 30 mil caminhões das rodovias por mês. "Além disso, vamos investir R$ 530 milhões na duplicação do trecho de ferrovia (da ALL) entre Sumaré e Santos", destaca o presidente da Rumo, Julio Fontana.
Outra gigante do setor, a Copersucar pretende investir R$ 1 bilhão em logística nos próximos cinco anos. O presidente da companhia, Paulo Roberto de Souza, afirma que será construída uma nova infraestrutura para recepção ferroviária das cargas, que custará R$ 200 milhões.
Segundo ele, as últimas parcerias com as concessionárias ALL e FCA já elevaram substancialmente o volume transportado por trilhos. No caso do açúcar, subiu de 670 mil toneladas na safra 2006/2007 para 820 mil toneladas na safra 2009/2010. A meta da empresa para os próximos cinco anos é transportar 50% da carga por ferrovia. A empresa tem planos de construir um novo terminal no Porto de Paranaguá.
Esse é outro setor que tem recebido atenção especial das empresas, que querem amenizar o caos portuário do País. A Braskem (em parceria com Log-In, Tecmar e Moinho Dias Branco) prepara um estudo para ampliação e modernização do Porto de Aratu (BA), onde 70% da carga é da empresa. O investimento previsto está na casa de R$ 500 milhões, diz o diretor da Braskem, Marcelo Lyra.
Outra que não quer ficar refém da falta de infraestrutura portuária é a Fibria (fusão de Aracruz e Votorantim Celulose), que acabou de investir R$ 110 milhões na ampliação do Portocel, no Espírito Santo, e já planeja uma nova onda de expansão. Trata-se o projeto Portocel II, que vai duplicar a capacidade de movimentação do terminal, hoje de 14 milhões de toneladas. O projeto custará R$ 490 milhões.
As siderúrgicas também têm planos para novas instalações portuárias. A Gerdau planeja construir um terminal portuário na Baia de Sepetiba e a Usiminas, em Itaguaí, também no Rio. Já a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) vai ampliar o terminal de granéis do Porto de Itaguaí para suportar a expansão da mina Casa de Pedra. Quando concluído, terá capacidade para exportar cerca de 100 milhões de toneladas por ano.
Pioneira em investimentos em infraestrutura, a Vale destinou US$ 2,65 bilhões para projetos logísticos este ano. Um dos maiores será a duplicação da Estrada de Ferro Carajás, que começa no mês que vem. Além de 605 km de trilhos duplicados, a ferrovia ganhará mais 100 km até a serra sul de Carajás. Para suportar o aumento do transporte pelos trilhos, a Vale também vai construir o quarto pier no terminal marítimo Ponta da Madeira. Juntos, ferrovia e terminal exigirão investimentos de cerca de US$ 7,8 bilhões até 2015.
Fonte: O Estado de S.PauloRenée Pereira
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