Basta dar uma olhada na vizinhança para perceber uma tendência natural quando o assunto é infraestrutura portuária: os portos estão fora das capitais. Baseado nos exemplos de cidades como Pecém, no Ceará, e Suape, em Pernambuco, que abrigam não só terminais portuários, mas polos industriais, o ex-presidente da Federação das Indústrias do RN (Fiern), Bira Rocha, acredita que o projeto de um novo porto em Natal, cortado do orçamento federal pela presidente Dilma Rousseff, já começa errando na localização. "Perdemos o carro da história no que se refere a porto", afirma o empresário, que avalia como acertada a decisão da presidência.
Orçado em R$ 2 bilhões, o projeto, no entendimento de Bira Rocha, foi enviado ao orçamento na base do "se colar, colou". De acordo com o empresário é indiscutível a necessidade de um novo terminal portuário, principalmente com a forte retomada que o setor mineral vem apresentando no estado, porém a forma como a proposta foi apresentada e o próprio comportamento do governo perante oveto presidencial demonstram um projeto sem viabilidade comprovada. "Foi uma devolução dizendo: falta estudo técnico, embasamento técnico, ou qualquer coisa. Picaretagem aqui não", opina o ex-presidente da Fiern.
Sobre a proposta tratar de um porto dentro da capital, Bira Rocha coloca o estado na contramão. "O RN insiste em fazer na cidade, aonde a logística de recepção da mercadoria e escoamento é um transtorno", critica. Aliado a isso, o empresário reforça a limitação espacial do Rio Potengi. Mesmo sem querer arriscar o lugar ideal para o porto, ele exalta que é essencial a estrutura ser montada em um posição mais próxima possível do minério. "O governo tem de pegar uma empresa séria para fazer o estudo de viabilidade", observa o ex-presidente da Fiern, que lembra uma possibilidade cogitada de montar um terminal no município de Porto do Mangue.
A terceira onda
Como no título do livro do autor Alvin Toffler, o empresário Bira Rocha conta que o RN vive "A Terceira Onda" quando o assunto é o transporte de mercadoria em grandes proporções. "O primeiro porto feito por necessidade foi um porto ilha [Areia Branca] para escoamento do sal. A segunda grande necessidade foi quando a Petrobras começou a trabalhar com petróleo e precisava escoar", recorda o ex-presidente da Fiern, que caracteriza a 'terceira onda' com a fruticultura, que pôde ser atendida devido ao transporte em navios de pequeno porte, e agora a mineração.
Administrado pela Codern desde que foi construído, em 1970, o porto para transportar o sal foi um problema resolvido em casa, enquanto a Petrobras arcou com a estrutura para o escoamento do petróleo. "Agora precisamos de um porto de granel, principalmente para o minério de ferro, calcário, cimento, feldspato, e os minerais em geral. E com certeza esse porto não é dentro da cidade de Natal" retoma. Rocha não descarta um projeto tocado pela iniciativa privada, algo que segundo ele depende do governo comprovar a viabilidade técnica do empreendimento.
(Fonte: Diário de Natal/Felipe Gibson)
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