SÃO PAULO - A temporada de cruzeiros marítimos do Brasil este ano bateu recorde antes mesmo de começar o período, no início deste mês. Ao todo, serão 20 navios operando com 415 roteiros, contra 18 navios circulando por 407 rotas na temporada anterior. Entretanto, o gargalo nos portos e a falta de planejamento podem impedir o crescimento do setor no País. "É preciso sanar os problemas dos portos, ter terminais turísticos para receber os visitantes e resolver as questões ligadas a tributos e vistos da tripulação", afirma Ricardo Amaral, presidente da Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos (Abremar).
Segundo ele, o País tem condições de crescer, desde que os portos estejam aparelhados para receber grandes navios. A responsabilidade cabe à Secretaria Especial de Portos da Presidência da República (SEP-PR), que responde pela formulação de políticas e pela execução de medidas, programas e projetos de apoio ao desenvolvimento da infraestrutura dos portos marítimos.
Hoje, o sistema portuário brasileiro é composto por 37 portos públicos, entre marítimos e fluviais. Desse total, 18 são delegados, concedidos ou têm a sua operação autorizada para a administração por parte dos governos estaduais e municipais, sendo que ainda existem 42 terminais de uso privativo e três complexos portuários que operam sob concessão à iniciativa privada. Mas todo este contingente não é suficiente, acreditam especialistas do setor.
"O Brasil é o único país da América do Sul que integra os 40 destinos mais procurados do ranking da Organização Mundial do Turismo, mas problemas de infraestrutura portuária, burocracia e excesso de tributos emperram o setor", afirma Amaral. Adrian Ursilli, diretor Comercial e de Marketing da MSC Cruzeiros no Brasil, vai além.
Para ele, o Brasil não compete de forma igual com países da Europa e com os EUA por conta de obstáculos, como gastos com rebocadores, embarque e desembarque. "Precisamos desatravancar os navios. Cada um deles traz mais de duas mil pessoas que geram receita. É um contingente que contribui com o aquecimento da economia e, sem planejamento, é operado de forma inadequada. Está na hora de trazer condições operacionais, reavaliar os trâmites, pois existem empresas e um público consumidor desejoso desses serviços", diz.
A empresa, que ofereceu na temporada 2009/2010 mais de 300 mil leitos e teve 100% de ocupação, espera que o resultado seja o mesmo nesta temporada, incluindo o total de hóspedes registrado (302.500) e de despesas (R$ 273, 5 milhões).
Apesar disso, Adrian Ursilli diz que o lucro no Brasil está abaixo se comparado com montantes que a MSC perfaz em outros países, com altas taxas cobradas em território nacional.
Crescimento
Apesar das dificuldades do segmento, os números do setor ainda são positivos. Segundo dados da Abremar, a temporada 2009/2010 viu 720 mil cruzeiristas. Nesta temporada, são esperados mais de 880 mil, o que representa um recorde e um crescimento de 23% se comparado com o mesmo período no ano passado.
Para Amaral, o sucesso deve-se à possibilidade de os passageiros conhecerem várias cidades numa só viagem e a um transporte que consegue reunir atividades de lazer, gastronomia e serviços por pacotes de preço acessível e que podem ser parcelados em diversas vezes.
"Não podemos esquecer os 29 milhões de brasileiros que ascenderam à classe média nos últimos anos", diz. "Existe um público consumidor com maior renda, uma demanda carente e desejosa que é atraída por cruzeiros", afirma Adrian Ursilli.
De acordo com Claudia Del Valle, gerente de Marketing e Vendas da Ibero Cruzeiros, o aumento da demanda deve-se também "à ótima oferta de minicruzeiros de todas as companhias, levando cada vez mais a cultura de navegar a passageiros que nem sonhavam com esta possibilidade".
A empresa, que oferecerá 17 cruzeiros, está na sua 2ª temporada e já conta com 65% de ocupação de seus três navios, incluindo o estreante Grand Holiday. A expectativa é tamanha que para as próximas temporadas já prevê uma estada mais longa.
Com a Copa do Mundo e as Olimpíadas, o turismo ganha maior importância e os navios são uma forma de hospedagem adicional. Adrian Ursilli acredita que sem um planejamento o País perderá a oportunidade de crescer no setor e de ser inserido no mapa do turismo marítimo.
Outra dificuldade, apontada por Amaral, é que a vinda dos navios coincide com a alta temporada europeia. "É preciso sanar os problemas dos portos, ter terminais turísticos para receber os visitantes e resolver as questões ligadas aos tributos e vistos ", diz.
Atualmente, o Brasil ocupa o 5º lugar no ranking do mercado mundial de cruzeiros marítimos, de acordo com a Cruise Lines International Association (Clia). A modalidade, hoje, é a que registra maior crescimento no turismo mundial, além de trazer benefícios econômicos para as regiões em que opera, contribuindo com transporte, alimentação e comércio.
Fonte: DCI/Andrezza Queiroga
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