SÃO PAULO (Reuters) - As dificuldades para transportar grãos recém-colhidos da safra 2010/11 para o porto de Paranaguá (PR) em função dos problemas na principal estrada de acesso ao local, após fortes chuvas, não poderão ser amenizadas rapidamente, segundo especialistas.
Para quem transporta produtos agrícolas por rodovia, a busca por outros portos seria uma alternativa, considerando que os problemas para acesso a Paranaguá pela BR-277 só estarão resolvidos completamente em 180 dias -prazo previsto para as obras nas pontes afetadas serem concluídas.
Mas outros portos poderiam receber, por exemplo, somente parte da soja que seria exportada por Paranaguá, e isso ainda não ocorreria de imediato, pois eles já estão em geral com sua capacidade portuária tomada por outros embarques.
"A alternativa a Paranaguá é (o porto de) Santos (SP). Então se uma empresa está em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e quiser trocar por Santos... Mas quem está no Paraná, talvez não seja viável. No limite, tem o porto de Rio Grande (RS)", afirmou a coordenadora do grupo logística da USP (Esalq-Log), Priscila Biancarelli.
No entanto, Priscila ressaltou que portos alternativos só estariam aptos a receber o produto que seria escoado por Paranaguá daqui a um mês e meio.
"Não vai ser fácil achar janela em Santos e Rio Grande a tempo de desviar a carga em Paranaguá, vai continuar tendo fila (na estrada), e o pessoal vai carregar (por Paranaguá) o que for possível", acrescentou.
O tráfego de veículos pesados está limitado na rodovia de acesso a Paranaguá, por medida de segurança.
Ainda haveria uma alternativa rodoviária, pela BR-376, mas o trajeto é mais longo, o que poderá encarecer o transporte.
Atualmente, entretanto, a BR-376 está com problemas, também em função da queda de barreiras.
"Ou o caminhão faz rota via 376, que é um trajeto maior e no momento está interditado por deslizamentos, ou se prepara para esperar horas em fila para percorrer trecho relativamente pequeno entre São José dos Pinhais e Paranaguá", observou a corretora Andrea Cordeiro, da Labhoro.
Ela também concorda que outros portos não poderiam absorver toda a carga prevista para Paranaguá, que responde por pelo menos 20 por cento das exportações de soja do Brasil.
"Analisando o quanto essa soja com logística física voltada a Paranaguá pode ser absorvida por outros portos... não temos muito mais que 30, talvez 40 por cento para (o porto de) São Francisco do Sul (SC)", notou Andrea.
Segundo ela, o porto catarinense não conseguiria absorver volume maior, pois nos próximos dias se prepara para trabalhar com capacidade quase plena, com volume anteriormente contratado.
O mesmo pode ser dito para o porto de Santos, segundo ela. "Santos também poderá absorver uma parte da logística, especialmente a soja de origem do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, mas não totalmente."
Ela lembrou ainda que os prêmios da soja em Paranaguá poderão subir, "mas isso seria momentaneamente e para clientes que precisam cumprir embarques cujos navios estão ao largo".
Segundo ela, há 23 navios ao largo para carregar em Paranaguá, o que representa um volume superior a 1 milhão de toneladas. "Um efeito imediato nesse problema..., além das filas de caminhão, é justamente fila de navios ao largo esperando. Excesso de navios ao largo versus descompasso de fluxo de produto em armazém significa que poderá faltar produto para embarcar."
FERROVIA PODE ALIVIAR
Segundo a especialista da Esalq, o retorno da operação da ferrovia, também afetada pelas chuvas do fim de semana, poderá aliviar um pouco a situação em Paranaguá, garantindo a oferta de mercadorias no porto.
"A ferrovia pode solucionar parte do problema, principalmente para a açúcar, farelo de soja, tem um volume bem grande de embarque ferroviário", disse Priscila
O retorno da ferrovia, operada pela ALL, é esperado para o início desta noite, após técnicos da companhia concluírem as inspeções de risco e retirarem detritos deixados nos trilhos pelas chuvas.
A ALL informou ainda, por meio de sua assessoria de imprensa, que a companhia já está desviando parte da carga de Paranaguá para São Francisco do Sul.
Fonte: Reuters
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