A Eldorado Brasil Celulose, nova denominação da empresa de celulose da holding J&F, controladora do JBS Friboi, já pavimentou o caminho rumo ao Novo Mercado da BM&FBovespa. Além de incluir em estatuto, aprovado na semana passada, a listagem no segmento de governança diferenciada da bolsa paulista, a Eldorado inicia a escolha de três membros externos para seu conselho de administração e acaba de concluir uma reestruturação societária.
No momento, a mais nova produtora brasileira de celulose à base de eucalipto se prepara para inaugurar sua primeira fábrica em Três Lagoas (MS), em 12 de dezembro e grande estilo. Conta com a presença da presidente Dilma Rousseff e a apresentação do tenor italiano Andrea Bocelli. No projeto, os investimentos alcançaram R$ 6,2 bilhões, 10% abaixo do estimado originalmente.
A Eldorado tem hoje capital social de R$ 1,79 bilhão, dividido em 1,53 bilhão de ações ordinárias, conforme o estatuto recém-atualizado. Após um acerto interno, que resultou na venda da fatia do empresário Mário Celso Lopes à J&F, a holding da família Batista consolidou-se no controle, com participação direta e indireta superior a 80%. Os fundos de pensão Funcef, dos funcionários da CEF, e Petros (Petrobras), completam o quadro de acionistas.
O presidente da Eldorado, José Carlos Grubisich, disse ao Valor que não há prazo ou plano iminente de acesso ao mercado de capitais e a escolha pelo Novo Mercado é óbvia. "Não faria sentido, para uma companhia nova em bolsa, listar ações em outro segmento". A proposta, segundo ele, é que a Eldorado, que já tem registro de companhia aberta na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), esteja pronta para fazer sua oferta inicial de ações quando surgir a necessidade. E isso deve ocorrer assim que o conselho der o aval para decolagem de seu ambicioso plano de expansão.
A Eldorado nasce com capacidade instalada de 1,5 milhão de toneladas anuais de celulose branqueada, mas pretende instalar duas outras linhas de produção - em 2017 e 2020. Com isso, espera chegar ao fim desta década com produção de 5 milhões de toneladas por ano, bem perto do que produz hoje a Fibria, maior companhia do mundo nessa área.
Para cumprir esse cronograma, "que dependerá das condições de mercado", nas palavras de Grubisich, a Eldorado terá de se decidir pelo início da expansão da florestal já em 2013. No ano seguinte, a implantação da segunda linha seria submetida à aprovação do conselho, com início das obras em 2015. Hoje, a empresa conta com 110 mil hectares de florestas plantadas. Em pouco mais de um ano, deverá alcançar 150 mil hectares, suficientes para suprir a primeira linha. Para a segunda linha, são previstos outros 150 mil hectares. Apenas nessa parte, no período de seis anos, seriam investidos entre R$ 600 milhões e R$ 800 milhões.
Atualmente, a operação florestal da Eldorado no entorno de Três Lagoas já é plena. "Temos colheita e transporte rodando e 50% do pátio de madeira carregado", afirmou o executivo. Até o fim do ano, a empresa deverá obter a certificação FSC (do inglês Forest Stewardship Council), que atesta manejo responsável das florestas. O selo se tornou pré-requisito para a assinatura de contratos de compra e venda de celulose no mercado internacional, principalmente na Europa.
Segundo Grubisich, a Eldorado já passou por auditoria. O executivo preferiu não estimar prazos para a certificação, mas, comumente, o FSC é emitido dois ou três meses, no máximo, após a auditoria, se não houver restrições.
A Eldorado, segundo o executivo, planeja vender 45% da produção na Ásia, especialmente na China, e outros 40% na Europa. O restante será distribuído entre América do Norte e outras regiões. Para tanto, já instalou escritórios nesses mercados e uma holding internacional em Viena.
Somente em logística, a Eldorado está investindo R$ 800 milhões. Os recursos foram alocados em operações de dois terminais rodo-ferroviários e hidro-ferroviários, na compra de locomotivas e vagões e em um terminal de embarque em Santos.
Segundo Grubisich, o investimento em logística visa a escoar, com competitividade de frete, toda a produção da empresa por ferrovia e hidrovia. A empresa negociou com as duas principais concessionárias de ferrovias do país - ALL e MRS Logística.
Cada concessionária será responsável por transportar 50% da produção anual, o correspondente a 750 mil toneladas, entre a fábrica e o Porto de Santos. "Nosso objetivo foi não ficar amarrado a apenas uma concessionária", diz.
A ALL levará a carga, em caminhões, até um terminal da Eldorado ao lado em sua ferrovia, em Aparecida do Taboado (MS), distante 45 km. Já a MRS transportará a celulose a partir de outro terminal, em Pederneiras (SP), onde a celulose chegará em barcaças pelo rios Paraná e Tietê.
A operação ferroviária será feita com locomotivas e vagões próprios, especialmente fabricados para transportar cargas de celulose. As 30 máquinas foram fabricadas pela Caterpillar, no Brasil, e os 450 vagões, pela Usiminas Mecânica. A operação em Santos, do terminal próprio, ficará a cargo da Libra Terminais.
Além disso, a Eldorado terá armazéns em Baltimore (EUA), na Europa -um no Norte e outro na Itália -, em dois portos chineses e um na Coreia do Sul.
Além do novo estatuto e da nova denominação, a Eldorado aprovou recentemente a alteração de sua identidade visual. O logotipo da empresa, agora, traz uma folha de eucalipto ligeiramente curvada, remetendo à letra "e". Esse padrão será aplicado inclusive às locomotivas e vagões encomendados pela companhia.
Fonte: Valor / Stella Fontes e Ivo Ribeiro
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