Obras avançam e LLX espera iniciar operação do porto do Açu no segundo semestre de 2013
A cidade de São João da Barra, no norte fluminense, ganhou destaque nos últimos cinco anos com o projeto do porto do Açu. Para esse complexo equivalente a 1,5 vezes o tamanho da ilha de Manhattan funcionar numa cidade com apenas 33 mil habitantes, a logística precisará estar bem integrada. Com a capacidade de movimentação podendo chegar a 350 milhões de toneladas por ano, o porto está inserido num polo que reunirá um estaleiro, indústrias, fábricas e conhecimento numa área de 90 quilômetros quadrados. O início da operação está previsto para o segundo semestre de 2013.
Uma das razões mais importantes para a escolha do local do projeto foi a profundidade de até 14 metros encontrada próxima à costa durante a fase de estudos. O gerente de implantação de obras da LLX, Johnson Tatton, explica que, até um quilômetro da costa, a profundidade no local é de oito metros. A 2,5 quilômetros do litoral, o calado aumenta para 14,5 metros. Relatos contam que o primeiro levantamento batimétrico foi realizado durante a 2ª Guerra Mundial pelos norte-americanos, que estudaram construir uma base militar no local.
Após a primeira etapa de dragagem onde será construído o terminal offshore (TX1), a profundidade chegou a 18,5 metros. Atualmente, a profundidade está em 21 metros, o que permite a atracação de navios VLCC (very large crude carrier), que transportam 320 mil toneladas de carga. Quando o calado chegar a 26 metros, poderão atracar navios de até 400 mil toneladas, os VLOC (very large ore carrier), conhecidos como Chinamax ou Valemax, e que já atracam em portos como o de Ponta da Madeira e Roterdã.
Tatton diz que a escolha de São João da Barra também se deve à oferta de terras a custo relativamente baixo com localização estratégica. A 150 quilômetros da bacia de Campos (RJ), o porto também atenderá às bacias de Santos (SP) e de Vitória (ES). O norte fluminense é responsável por 85% da produção de petróleo e gás nacional.
O porto também será integrado com a infraestrutura rodoferroviária local. Para melhorar o acesso multimodal ao empreendimento, a LLX conta com a duplicação da BR-101 e com a linha ferroviária de 43 quilômetros que vai conectar o porto do Açu à Ferrovia Centro-Atlântica (FCA). Outra vantagem para a LLX são as parcerias com as empresas do grupo EBX, como a OSX (estaleiro) e a MPX (geração de energia) que estão se instalando no complexo.
O porto do Açu terá dois terminais: um offshore e outro onshore, que somam 17 quilômetros de cais. O terminal offshore (TX1) terá nove berços e, além de petróleo, também poderá movimentar até 100 milhões de toneladas de minério de ferro por ano. Inicialmente, a previsão de movimentação de minério é de 26 milhões toneladas/ano. Já o terminal onshore (TX2) movimentará produtos siderúrgicos, carvão, granito, escória, ferro gusa, além de granéis líquidos e sólidos.
O TX1 tem previsão de começar a operação no segundo semestre de 2013, com o carregamento de dois navios de minério de ferro. Inicialmente, estará disponível somente um dos três píeres do terminal, enquanto os outros dois devem operar a partir de 2014. Quando o terminal offshore estiver totalmente concluído, o porto poderá receber até três navios Chinamax.
O TX2 terá profundidade de até 18 metros e poderá receber mais de 30 navios ao longo de seus 6,5 quilômetros de extensão. O terminal onshore está sendo construído em formato de “L” para dentro da costa e será integrado ao estaleiro da OSX. O canal terá, em média, 300 metros de largura, chegando a um quilômetro na bacia de evolução. A expectativa é de que o primeiro navio a entrar no TX2, trazendo equipamentos para montagem de uma FPSO, chegue ao estaleiro em janeiro de 2013.
O primeiro dos três píeres do TX1 que está sendo construído será destinado principalmente à exportação do minério de ferro proveniente da região de Conceição do Mato Dentro (MG). O píer mais distante da costa, onde atracarão navios Chinamax, será construído posteriormente, junto com o menor píer, que poderá receber dois navios petroleiros. Dos nove berços do TX1, cinco serão dedicados ao petróleo (até 1,2 milhão de barris de óleo/dia) e quatro dedicados a minério de ferro (até 100 milhões de toneladas por ano - Mpta).
A primeira fase do píer de minério do TX1 já foi concluída e a correia transportadora está sendo montada. Um mineroduto de 525 quilômetros de extensão atravessará 32 municípios mineiros e fluminenses. Ele será administrado pela Minas-Rio, joint venture entre a LLX e a AngloAmerican. O sistema da LLX Minas-Rio ligará a mina e a unidade de beneficiamento de minério de ferro da Anglo Ferrous Brazil, em Minas Gerais, ao porto da LLX.
O cais do TX2 terá 13 quilômetros de extensão e o terminal vai operar com profundidade entre 10,5 e 18 metros. Em julho, cerca de 18 milhões de metros cúbicos já haviam sido dragados, o que representava 40% do total de 42 milhões de metros cúbicos que serão retirados durante a construção. O canal está com 2,5 quilômetros de extensão, 200 metros de largura e oito metros de profundidade. Em meados de agosto, o canal do TX2 já contava com quatro quilômetros de extensão dragados, segundo a LLX. A previsão da empresa é que a construção do canal seja concluída em 2013.
A obra para a construção do quebra-mar do TX2 teve início em janeiro de 2012 e, em julho, o molhe sul estava com 374 metros de extensão e o sul, com 236 metros. Os molhes terão, respectivamente, 450 metros e 650 metros quando concluídos.
Diariamente, quase 10 mil toneladas de pedras são lançadas para a construção do quebra-mar. Ao todo, serão utilizados 2,3 milhões de metros cúbicos de pedras.
Mais de cinco pedreiras estão mobilizadas num raio de 100 quilômetros do local onde está sendo construído o porto. Um fato que chama a atenção é a grande quantidade de veículos formando filas para depositar pedras para o cais. Segundo Tatton, a média de chegada de caminhões com pedras no porto é de um a cada oito minutos. Além das pedras, o quebra-mar será construído com caixões de concreto flutuantes. Esses blocos possuem cerca de 60 metros de comprimento, 24 metros de largura e 30 metros de altura. A fábrica é uma espécie de ‘estaleiro flutuante’, chamado de Kugira, da empresa espanhola Acciona. Os seis primeiros blocos de concreto destinados ao porto da LLX estão sendo fabricados no porto do Forno, em Arraial do Cabo (RJ). De acordo com Tatton, a ideia é que esses seis blocos sejam levados para o porto do Açu e funcionem como uma espécie de barreira provisória até que sejam produzidos os outros 36 caixões necessários para o TX2.
A construção dos blocos foi iniciada em outubro de 2011. O tempo de construção de cada caixão varia de oito a 10 dias. A tecnologia reduz a necessidade de materiais utilizados nos métodos de construção tradicionais de quebra-mar. O Kugira possui 74 metros de comprimento, 49 metros de largura e 58 metros de altura, incluídas as torres metálicas.
A LLX considera a técnica um diferencial dessa construção. A previsão é que o primeiro caixão seja fundeado em setembro. Os caixões percorrerão uma distância de aproximadamente 110 milhas entre Arraial do Cabo e São João da Barra, num trajeto que deve levar entre oito e 10 horas. A expectativa é de que os seis caixões estejam fundeados até novembro.
Além dos dois terminais, o projeto do complexo portuário da EBX prevê ainda área com duas siderúrgicas, duas cimenteiras, base de estocagem para granéis líquidos, duas termelétricas, indústrias de autopeças, polo metal-mecânico, unidade para armazenamento e tratamento de petróleo (UTP), indústrias de apoio offshore e indústrias de tecnologia da informação. Os investimentos totais no complexo, cujas obras foram iniciadas em outubro de 2007, são da ordem de US$ 40 bilhões. Com o pleno funcionamento e empresas instaladas, a previsão é de que 50 mil empregos sejam gerados na região.
No canteiro de obras, já é possível observar as instalações de empresas como Technip, Intermoor e NOV (que adquiriu recentemente a NKT Flexibles) começando a sair do papel. No segundo trimestre, foi assinado contrato de aluguel de área com a Subsea 7 para instalação de uma unidade para fabricação e revestimento de dutos rígidos submarinos utilizados na indústria de petróleo e gás.
— Para o segundo semestre esperamos assinar novos contratos de aluguel de área que ocuparão o restante disponível ao longo do canal, assim como o início de ocupação da área no polo metal-mecânico do distrito industrial — destaca o diretor-presidente e de relações com investidores da LLX, Otávio Lazcano. A receita no segundo trimestre, apesar de o projeto estar em fase pré-operacional, totaliza R$ 17,8 milhões por conta dos contratos de aluguel de área firmados.
Ao todo, mais de 60 contratos e memorando de entendimentos foram assinados entre a LLX e empresas do setor de petróleo e gás, metal-mecânico, cimenteiras e automotivo. Um dos atrativos para essas companhias virem para a região é a redução do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) de 18% para 2%.
O gerente geral de engenharia da LLX, Luiz Otávio Amorim, acrescenta que as empresas serão beneficiadas com um sistema viário de seis quilômetros de extensão que ligará o polo metal-mecânico ao complexo portuário do Açu. O engenheiro conta que haverá um sistema direto com 25 metros de largura para o transporte de peças, equipamentos e estruturas de grande porte como módulos com 25 metros de largura e até 20 metros de altura. “Haverá uma pista sem nenhum tipo de restrição para levar esse tipo de peças pré-montadas. A pista já foi dimensionada para veículos até 60 toneladas”, destaca Amorim. Ele lembra que a LLX assinou contratos com empresas como a GE e Wärtisilä que devem construir unidades no polo.
A geração de energia elétrica será garantida pelo complexo termelétrico da MPX, empresa do grupo EBX, que será instalado no distrito industrial do porto. O parque terá, inicialmente, uma usina a carvão e, futuramente, a segunda unidade utilizando gás natural da bacia de Campos como combustível. A capacidade instalada total das duas térmicas é de 5.400 MW e a energia excedente será vendida no mercado livre.
No entorno do porto também estão previstas unidades das siderúrgicas Ternium (ítalo-argentina) e Wisco (Wuhan Iron and Steel), da China. A capacidade inicial de produção é estimada em 8,4 milhões de toneladas de aço bruto por ano.
A unidade de tratamento de produção (UTP) terá capacidade de armazenamento estático de 14 milhões de barris e poderá processar até 1,2 milhão de barris por dia. A UTP contará com 28 tanques de armazenamento. Lá serão reduzidos os teores de sal e de água contidos no petróleo por meio de centrifugação e decantação, melhorando a qualidade e o valor comercial do produto. Amorim diz que a UTP, localizada próxima ao TX1, fará em terra operações que costumam ser realizadas nas plataformas.
O petróleo bruto chegará ao porto por meio de navios aliviadores e seguirá por dutos para estocagem e tratamento em área onshore. A UTP consolidará as cargas de petróleo cru para exportação em navios de grande porte (VLCC) e fará a adequação das características do petróleo brasileiro ao mercado internacional, reduzindo o custo do frete por tonelada e agregando valor ao produto final. “O custo e o tamanho das plataformas diminuem com o processamento do petróleo na área dos portos”, explica Amorim.
A obra do aterro hidráulico da UTP foi realizada pela draga Cristobal Colón, uma das maiores do mundo. A embarcação pertence à empresa belga Jean de Nul, possui 223 metros de comprimento, 41 metros de largura e pesa mais de 70 mil toneladas. Ela possui capacidade de armazenamento de até 46 mil metros cúbicos, o equivalente a 2,3 mil caminhões.
A abertura do canal onshore do TX2 é realizada pela draga Cyrus II (corte e succção), da empresa holandesa Boskalis. O equipamento tem 96 metros de comprimento, chegando a 107 metros com a caneta de corte. A primeira fase de dragagem do canal do TX2, iniciada em agosto de 2011, deve ser concluída em dezembro.
Já a dragagem da bacia de evolução e do canal de acesso ao TX2 está sendo realizada pela draga holandesa Sea Way, que possui 171 metros de comprimento, 22 metros de largura e capacidade de sucção de mais de 30 mil metros cúbicos/hora. A dragagem do canal de acesso também é realizada pela draga holandesa Cornelis Zanen (sucção), utilizada também para aprofundamento da bacia de evolução e o acabamento interno do canal. A Cornelis aprofundará o calado até 14,5 metros. A embarcação possui 130 metros de comprimento, 24 metros de largura e oito mil metros cúbicos de capacidade de armazenamento.
A draga Taurus II também será utilizada para a dragagem e aprofundamento da bacia de evolução, canal de acesso e acabamento do canal interno. Amorim ressalta que existe dificuldade em conseguir a disponibilidade das dragas. “Hoje, a demanda por dragas está grande no canal do Panamá e nas Ilhas na Indonésia.”
O gerente de implantação de obras da LLX, Johnson Tatton, destaca que parte da areia dragada é utilizada para terraplenagem. De acordo com o engenheiro, é possível encontrar areia em boas condições para aproveitamento até 8,5 metros de profundidade. A areia encontrada entre 8,5m e 14,5m é descartada em alto-mar. Tubulações ao longo da retroárea levam areia para um depósito onde ela mais tarde será utilizada.
Amorim explica que há 1,5 metro de elevação da construção da parte industrial em relação à topografia original. Segundo o gerente geral de engenharia da LLX, o projeto já prevê possíveis ações do efeito estufa. “Todo projeto já foi colocado em função do nível do mar em função do efeito estufa num horizonte de 50 a 100 anos”, ressalta Amorim. Ele destaca que é possível encontrar lençol freático cavando 1,5 metro do terreno. “Metade dessa areia é material utilizável para terraplenagem. Essa é uma área muito plana, inclusive existem vários canais para fazer a drenagem da água. A quantidade de canais equivale à quantidade de canais de Amsterdã”, compara Amorim.
Ele explica que o solo não é ruim e o terreno da unidade de construção da OSX está sendo estaqueado porque a carga no estaleiro é diferenciada. “Qualquer que fosse o terreno, a carga teria que ser estaqueada porque dificilmente encontraríamos um terreno com resistência natural que pudesse suportar o peso que vai receber”, avalia.
O complexo do porto do Açu será instalado numa área total de 130 quilômetros quadrados, sendo 90 quilômetros quadrados de instalação industrial e 40 quilômetros quadrados correspondentes à Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) de Caruara (unidade de conservação). A LLX terá que recompor uma área de 5,1 mil hectares.
No primeiro semestre, foram aplicados R$ 466 milhões no porto do Açu. Desde o início das obras do complexo, em 2007, o empreendimento recebeu R$ 2,895 bilhões em investimentos. No segundo trimestre, as obras do canal do TX2 receberam R$ 63,6 milhões. Nesse período, a construção do quebra-mar custou R$ 26 milhões, incluindo aquisição, transporte, descarregamento e estocagem de pedras. Outros R$ 8,1 milhões foram destinados à montagem da correia transportadora, empilhadeiras e recuperadora que serão utilizadas para movimentação de minério de ferro no TX1. Também foram investidos R$ 34,3 milhões em serviços de engenharia e outros R$ 19,4 milhões na realização de estudos, consultoria e projetos de engenharia.
Em agosto, a LLX anunciou que emitirá R$ 750 milhões em debêntures, com prazo de 15 anos e três anos de carência. “Os recursos empregados na compra das debêntures são oriundos de um fundo de infraestrutura e serão utilizados para financiar as obras civis relativas ao projeto de implantação do terminal TX2 e sua infraestrutura industrial”, diz a companhia.
Os papéis serão simples, não conversíveis em ações, em série única, para distribuição pública. A Caixa Econômica Federal será o banco coordenador da emissão das debêntures. Segundo comunicado, a integralização das debêntures está sujeita ao cumprimento de condições usuais em transações desta natureza. “A contratação deste financiamento é um indicativo da capacidade da LLX em firmar parcerias tendo em vista o suporte financeiro necessário ao desenvolvimento do projeto de construção do Superporto do Açu”, afirma a empresa.
A LLX registrou um prejuízo líquido de R$ 6,9 milhões no segundo trimestre de 2012, redução de 54,9% na comparação com o prejuízo de R$ 15,3 milhões em igual período do ano anterior. A companhia teve um aumento das despesas financeiras em consequência do endividamento referente à contratação de empréstimo ponte junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) que elevou o endividamento de R$ 854,7 milhões no segundo trimestre de 2011 para R$ 1,18 bilhão no segundo trimestre. Em 30 de julho, o empresário Eike Batista anunciou plano de fechar o capital da companhia.