De São Paulo - A forte retração nos preços do açúcar reacendeu a demanda pelo produto em um momento em que há apenas um fornecedor no mundo: o Brasil. Os volumes embarcados ao exterior até o momento vêm superando até o forte ano de 2009. Segundo levantamento da consultoria Kingsman no Brasil, nas duas primeiras semanas de julho foram exportados 1,205 milhão de toneladas da commodity pelos portos brasileiros. E ainda há navios programados para embarcar outras 2,4 milhões de toneladas até o dia 30 deste mês.
A programação pode não ser cumprida à risca em junho e parte desse volume, postergada para o mês seguinte, explica Luiz Carlos dos Santos Júnior, da Kingsman do Brasil. No entanto, diz ele, pelo ritmo dos embarques, é provável que o volume total supere as 1,876 milhão de toneladas embarcadas em junho de 2009. Maio deste ano já teve embarques superiores ao do mesmo mês de 2009. Foram 2,227 milhões de toneladas ante as 1,87 milhão em igual mês de 2009.
Uma grande parte dessas exportações ainda se refere a contratos antigos, que foram renegociados para entrega neste ano, afirma Julio Maria Borges, presidente da JOB Economia e Planejamento. "O resultado é que o Brasil vai exportar mais açúcar neste ciclo, justamente, porque ainda está concluindo o atendimento a contratos passados", observa Borges.
Somente para a Índia, maior importador de açúcar brasileiro em 2009, ainda devem ser embarcados no período entre maio e setembro - antes do início da safra indiana - em torno de 1 milhão de toneladas da commodity. A maior parte desse volume é de contratos antigos, estima o CEO de uma das maiores indústrias de açúcar indiana, a Shree Renuka Sugars, Narendra Murkumbi. "Somente a Renuka tem cerca de 600 mil toneladas desse volume", diz o executivo, que ontem esteve com o ministro da Agricultura, Wagner Rossi.
Segundo ele, os preços domésticos na Índia não estão compensando mais compras externas, cenário que pode mudar dependendo do comportamento do clima nas regiões canavieiras do país.
Há ainda, portanto, pouca certeza sobre o tamanho da demanda externa nova por açúcar. "Mas é evidente que, no início de maio, quando os preços atingiram níveis muito baixos, o mercado começou a ver oportunidades em voltar a comprar", afirma Arnaldo Luiz Correa, da Archer Consulting.
Aqui no Brasil, já há dúvidas sobre o tamanho da produção de açúcar no Centro-Sul. Na sexta-feira, em entrevista à Bloomberg, o CEO da Cosan, Marcos Lutz, disse que a produção de açúcar pode cair e provocar uma alta de 15% nos preços do produto no quarto trimestre deste ano.
O fato é que a elevada demanda por exportação está ajudando a "enxugar" o mercado interno e a sustentar preços, mesmo em plena moagem no Centro-Sul. Há inclusive, tendência de alta doméstica, segundo Borges. Ele afirma que desde o fim de maio, o mercado externo está pagando de 10% a 15% mais do que o interno. "Este suporte é importante, pois restringe a dá condições de alta também no mercado doméstico". (FB)
Fonte: Valor Econômico/
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