No fluxo de cafés solúveis exportados, queda se aproxima de 60%, de acordo com associação setorial
As exportações brasileiras de café especial aos Estados Unidos recuaram 69,6% em agosto, mês em que o governo americano começou a cobrar a tarifa de importação de 50% sobre produtos comprados do Brasil, na comparação com o mês anterior, informou nesta segunda-feira (15) a Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA), com base em dados do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé). No mês passado, foram enviadas para o mercado americano 21.679, o que representou queda de 79,5% na comparação com o mesmo mês de 2024.
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A presidente da BSCA, Carmem Lucia Chaves de Brito, explicou que a queda reflete a reação de importadores americanos que, por causa do aumento da tarifa, suspenderam ou adiaram contratos. “A taxação de 50% sobre os cafés especiais brasileiros torna praticamente inviável a realização desses negócios, devido aos preços extremamente elevados, o que justifica essa queda expressiva no desempenho das exportações aos Estados Unidos", disse ela.
De acordo com a BSCA, os Estados Unidos, que eram os principais compradores de cafés especiais brasileiros, caíram em agosto para sexto lugar na lista dos maiores importadores do produto. No mês passado, a liderança ficou com a Holanda, para onde foram exportadas 62.004 sacas. Em seguida, ficaram Alemanha, com 50.463 sacas, Bélgica, com 46.931 sacas, Itália, com 39.905 sacas, e Suécia, com 29.313 sacas.
No segmento de cafés solúveis, foi registrada em agosto queda de 59,9% nas vendas para os Estados Unidos, na comparação com o mesmo mês de 2024 e de 50,1% em relação a julho deste ano, segundo a Associação Brasileira da Indústria do Café Solúvel (Abics). No mês passado, foram exportadas para o mercado americano 26.460 sacas de 60 quilos. “Essa queda frustra a expectativa que tínhamos de quebrar novo recorde nas exportações de café solúvel em 2025, superando os 4,093 milhões de sacas do ano passado”, disse o diretor executivo da Abics, Aguinaldo Lima.
No acumulado de janeiro a agosto de 2025, de acordo com os dados da Associação, as exportações brasileiras de café solúvel totalizaram, para 88 países, o equivalente a 2,508 milhões de sacas, volume 3,9% inferior ao registrado nos oito primeiros meses de 2024. Mas em receita, a performance foi positiva, com 760,8 milhões de dólares, 33% a mais que de janeiro a agosto de 2024. “Esse desempenho já tem impacto do tarifaço de 50% imposto pelo governo dos Estados Unidos para a entrada do produto nacional no país”, explicou Lima.
Apesar da queda em agosto, os Estados Unidos ainda lideram o ranking dos principais parceiros comerciais dos cafés solúveis do Brasil no acumulado de 2025, com 443.179 sacas, 3,7% a menos que nos oito primeiros meses de 2024. Em segundo ficou a Argentina, com 236.454 sacas e aumento de 88,3%, e em terceiro a Rússia, com 188.041 sacas e mais 16,8%.
Carmem Lucia, da BSCA, previu que, se as tarifas de 50% forem mantidas, a tendência é que os Estados Unidos diminuam cada vez mais as importações dos cafés brasileiros. “Os negócios computados foram realizados nos meses anteriores e ainda podem ser entregues em solo americano com taxação de 10%, a primeira anunciada pelos Estados Unidos, em abril, até o próximo dia 5 de outubro", explicou.
Ela informou que o reflexo do aumento das tarifas já impactou o mercado dos Estados Unidos com elevação dos preços do café para os consumidores. Na avaliação de Carmem, há risco de prejuízos de longo prazo e mesmo de quebra do fluxo de vendas de cafés brasileiros para os americanos, que são o maior mercado consumidor global e eram o principal comprador do produto do Brasil. “Trabalhamos intensamente na estruturação da cadeia de suprimento de todo esse mercado e, com esse cenário mantido, teremos que empenhar novos e enormes custos e esforços para voltar a vender nos níveis de até então aos Estados Unidos”, afirmou.
Para ela, o governo brasileiro precisa buscar canais de aproximação e de diálogo com o americano para tentar reverter a situação. Carmen citou a ordem executiva assinada no dia 5 de setembro pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que estabelece tarifas recíprocas de importação consideradas estratégicas que podem ser reduzidas a zero se houver compromissos firmados em acordos comerciais e se forem considerados de interesses dos americanos.
A presidente da BSCA disse ainda que o setor privado brasileiro, através de suas entidades representativas, precisa manter as conversas com os parceiros industriais e importadores nos Estados Unidos o Departamento de Estado americano e o governo brasileiro deve abrir negociações com a gestão Trump em busca do restabelecimento do comércio de cafés entre Brasil e Estados Unidos. Ela disse que, para a Associação, a melhor solução seria a inclusão do café na lista de produtos isentos da sobretaxa cobrada pelo governo americano. “Para ajudar nesse sentido, permanecemos à disposição do Poder Executivo para apoiar na negociação com os norte-americanos dos setores público e privado", afirmou.