O Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) anunciou, em boletim divulgado, nesta terça-feira (7), que o setor teve em agosto gastos de R$ 5,9 milhões com armazenagem e culpou os gargalos na logística e a defasagem na infraestrutura portuária do país. Segundo a entidade, no mês, deixaram de ser embarcadas 624.766 sacas, correspondentes a 1.893 contêineres.
De acordo com o informativo, em agosto, 50% dos navios, ou 168 de um total de 335 embarcações, tiveram atrasos ou alteração de escalas nos principais portos do Brasil. E o Porto de Santos, que respondeu por 80,2% dos embarques de café de janeiro a agosto deste ano, registrou índice de 67% de atraso ou alteração de escalas de navios, o que envolveu 122 do total de 182 porta-contêineres. O tempo mais longo de espera no mês, segundo o boletim, foi de 47 dias. Também em agosto, somente 4% dos procedimentos de embarque tiveram prazo maior do que quatro dias de gate aberto por navios no porto santista. Outros 59% tiveram entre três e quatro dias e 38% tiveram menos de dois dias.
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Ainda segundo o Cecafé, o complexo portuário do Rio de Janeiro (RJ), o segundo maior exportador dos cafés do Brasil, com 15,8% de participação nos embarques entre janeiro e agosto de 2025, teve índice de atrasos de 38% em agosto, com o maior intervalo sendo de 36 dias entre o primeiro e o último deadline. Esse percentual indica que 30 dos 79 navios destinados às remessas do produto sofreram alteração de escalas.
Segundo levantamento do Conselho, os não embarques de café em agosto levaram a perda 221,28 milhões de dólares, ou R$ 1,205 bilhão, de receita cambial. A entidade informou que o preço médio Free on Board (FOB) de exportação foi de 354,18 dólares por saca (café verde) e a média do dólar de R$ 5,4463.
O diretor técnico do Cecafé, Eduardo Heron, disse que a situação tende a piorar nos próximos meses e anos se não houver investimentos rápidos nos portos. Segundo ele, a ampliação da infraestrutura portuária e a diversificação de modais não têm acompanhando o crescimento da produção do agronegócio, o que tem gerado prejuízos aos exportadores, principalmente os que trabalham com cargas que dependem de contêineres para exportação.
O Cecafé informou no boletim que vem realizando ações junto aos governo, a parlamentares e entidades representantes de exportadores e de usuários dos portos visando a otimização da logística e da infraestrutura dos portos. A entidade citou entre essa atividades reunião, em setembro, de representantes de setores da produção com o deputado federal Arthur Maia, relator do projeto de lei que tem objetivo de criar um novo marco regulatório para o Sistema Portuário Brasileiro.
Na ocasião, segundo Heron, o Cecafé defendeu que haja boa estrutura de governança e composição mais equilibrada no Conselho de Autoridade Portuária (CAP), com participação dos usuários de carga. O objetivo seria criar condições para debater, de forma técnica, temas como poligonais, dragagem e autonomia local e integração de portos com outros modais para o estabelecimento de metas.
Ele disse ainda que o Conselho ressaltou a necessidade de a nova lei de portos estipular indicadores logísticos para avaliar o desempenho portuário e que as informações sejam base para que os investimentos e a ampliação da capacidade da infraestrutura portuária antecipem a demanda. Segundo o diretor do Cecafé, as autoridades públicas têm dificuldade para enxergar gargalos logísticos diante das consecutivas quebras de recordes do comércio exterior brasileiro.
O boletim do Cecafé informa ainda que a entidade apresentou requerimento de audiência pública na Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara dos Deputados para discutir os impactos do esgotamento da infraestrutura portuária no país. Além disso, segundo Heron, o Conselho vem promovendo reuniões com outras entidades vinculadas à exportação, apresentando os dados de seu Boletim Detention Zero (DTZ), que revelam o cenário crítico vivido por exportadores devido à infraestrutura defasada nos portos. O objetivo, explicou é buscar sinergia e trabalho conjunto na apresentação de demandas e propostas às autoridades portuárias para melhorar a estrutura logística e nos embarcadouros.