A Federação da Agricultura do Estado (Farsul) cobrou ontem, em encontro em Porto Alegre, rapidez na contratação de melhorias para ampliar a operação de navios de maior nos berços de embarque e desembarque do Porto do Rio Grande. As medidas podem elevar o prêmio pago a produtores na safra escoada pelos terminais gaúchos e reduzir custos logísticos, argumentou a entidade. Entre as prioridades, estão a dragagem de manutenção do calado e instalação do Sistema de Gerenciamento e Informação do Tráfego de Embarcações (da sigla em inglês VTMIS), que devem ser custeadas pelo governo federal.
O VTMIS serve para aumentar a precisão sobre o fluxo de navios no ingresso e saída da área portuária, que hoje depende mais da orientação dos práticos. A direção da Farsul, ligada ao setor primário, apresentou relatório de ações para acelerar o lançamento de edital para contratar a dragagem. O presidente da Farsul, Carlos Sperotto, explicou que durante nove meses a entidade atuou para destravar o processo de contratação da dragagem. O projeto e contratação cabem à Secretaria Especial de Portos, com status de ministério no governo Dilma Rousseff. A ação envolveu cartas a então senadora e hoje ministra da Agricultura, Kátia Abreu, e à presidente Dilma, indicando a necessidade das melhorias. "Os projetos têm recursos provisionados no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), mas não haviam começado ainda", justificou Sperotto.
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O aporte nas duas demandas foi avaliado pela Farsul em R$ 180 milhões. Cerca de R$ 25 milhões poderão ser empregados no sistema de monitoramento, recurso usado nos portos mais competitivos no mundo e que pode elevar a rotatividade na ocupação da capacidade. Segundo Sperotto, os dois temas tiveram evolução. A contratação da dragagem deve ter licitação concluída até o fim deste mês. O processo foi lançado em 2 de fevereiro.
O novo superintendente do Porto do Rio Grande, Janir Branco, confirmou que pelo menos duas empresas interessadas fizeram contato a gestão. "Os recursos estão garantidos", observou Branco. Sobre o VTMIS, o superintendente disse que verificará o andamento do projeto. O sistema acompanha em tempo real e em qualquer condição climática a posição e velocidade das embarcações que acessam o porto. Branco assumiu o cargo no dia 9. A verba será da União, mas a contratação ocorrerá pela superintendência.
A dragagem de manutenção busca dar condição técnica de navegação a navios entre 336 e 370 metros de comprimento, que exigem calado de 18 metros nos molhes e de 16 metros no superporto. A Farsul indicou que a alteração eleva de 50 mil a 75 mil toneladas a carga máxima por embarcação. Essas profundidades foram alcançadas em obras de dragagem feitas há mais de cinco anos pelo governo federal, mas até agora o novo parâmetro de navegação não foi homologado pelas autoridades portuárias. Atualmente, o limite é de 15 metros nos molhes e de 14 metros na área interna, no acesso aos berços públicos e privados. A manutenção da via devido ao assoreamento do canal é crucial para nova habilitação.
Setores temem perda de espaço no terminal gaúcho
A iniciativa da Farsul expôs as carências da operação em Rio Grande. Os participantes do evento, na sede da Federação da Agricultura, mostraram preocupação com riscos de a condição logística portuária gaúcha ser superada por outros terminais. Além disso, o anúncio de acordos para investimentos e instalação de operações chinesas na Argentina, gera mais cautela, observaram integrantes de ramos como transportes rodoviários, hidrovias, terminais privados de Rio Grande, Fecomércio e Fiergs.
O secretário estadual de Transportes, Pedro Westphalen, apontou que a saída será promover parcerias público-privadas e explicou que sua equipe trabalha com a atualização do plano logístico estadual projetando demandas para 30 anos. As entidades empresariais pretendem atuar de forma conjunta para apressar as soluções. O diretor-presidente do Tecon Rio Grande, Paulo Bertinetti, mostrou preocupação com o estágio dos projetos, prometidos no passado, e disse que é "preciso mais decisão técnica que subjetiva", na operação de ingresso dos navios.
O diretor-presidente da Celulose Riograndense, Walter Lídio Nunes, ressaltou que a limitação no acesso a embarcações não afeta só grãos. Nunes explicou que a situação impõe que a companhia faça embarques escalonados, tendo de levar suas cargas até um ponto em que grandes navios atraquem e possam receber as cargas.
Fonte: Jornal do Commercio (POA)/Patricia Comunello