Ao mesmo tempo em que manteve "na prateleira" o projeto de expansão da fábrica de celulose de Mato Grosso do Sul, a Fibria deu passos significativos rumo à diversificação de suas operações no segundo semestre deste ano, como a entrada no mercado de biocombustíveis e a anunciada intenção de transformar o Portocel, e seu projeto de expansão, em uma nova unidade de negócios. Como pano de fundo, reiterou o foco na redução da alavancagem financeira e a busca da nota grau de investimento junto às agências de classificação de risco.
"Hoje, nosso foco é reduzir o custo da dívida e recuperar o grau de investimento", disse o presidente da companhia, Marcelo Castelli, que esteve ontem na Bolsa de Nova York com diretores da companhia para a segunda edição do "Fibria Day". Para o ano que vem, os investimentos estão estimados em até R$ 1,25 bilhão e, até 2016, a companhia terá prevê aplicar em média R$ 1,1 bilhão ao ano em suas operações, em linha com a média histórica.
O planejamento de 2013 não contempla, mais uma vez, a tomada de decisão acerca da nova linha de celulose em Três Lagoas (MS), que originalmente entraria em operação em outubro de 2014. Porém, é possível que já em 2013, a Fibria amplie o aporte na americana Ensyn, produtora de combustível líquido renovável. A companhia brasileira tem a opção de elevar sua fatia na companhia americana de 6% para cerca de 9%, antes que a empresa concretize seus planos de abertura de capital em Nova York, prevista para 2013, mediante um aporte adicional de US$ 10 milhões.
"A Ensyn é um projeto muito viável e vamos investir na operação. Essa é a nossa intenção", afirmou o executivo. No início de outubro, a Fibria anunciou um investimento inicial de US$ 20 milhões para comprar uma participação de 6% na Ensyn Corporation e, no mesmo momento, as duas companhias acordaram a constituição de uma joint venture, em Delaware, para operação no Brasil nos próximos anos.
No caso do Portocel - Fibria (51%) e Cenibra (49%) - estão de acordo quanto ao projeto de expansão do terminal especializado em celulose localizado em Barra do Riacho (ES) e poderão receber um novo sócio para o projeto, cujos investimentos podem chegar a R$ 480 milhões. Segundo Castelli, há conversas em andamento e as acionistas estão abertas a receber um novo parceiro, que poderia, por exemplo, ter perfil de operador logístico.
"O Portocel pode vir a ser um novo negócio para a Fibria", afirmou o executivo. Segundo Castelli, a decisão final sobre o estabelecimento de uma nova unidade de negócios somente será tomada assim que todos os detalhes do projeto estiverem definidos. A expansão do Portocel contempla a implantação de um quarto berço de atracação - hoje são três, com capacidade anual para 6 milhões de toneladas - e a construção de um novo terminal, com quatro berços de atracação e capacidade anual de 8 milhões de toneladas.
O eventual novo sócio, conforme Castelli, participaria do financiamento do projeto.
A aposta nesses dois novos negócios não fará com que a celulose de eucalipto perca o posto de principal produto da Fibria. Neste momento, explicou Castelli, as condições de mercado não são favoráveis ao crescimento orgânico, mas uma nova rodada de consolidação - a própria empresa nasceu da fusão entre Aracruz e Votorantim Celulose e Papel (VCP) - faz todo o sentido. "Nosso plano base não considera uma decisão sobre o projeto Horizonte 2 no ano que vem", reiterou. A expansão da fábrica sul-mato-grossense segue nos planos da companhia, que já firmou contratos de compra de madeira para entrega futura e de arrendamento de terra. Contudo, o projeto somente será levado ao conselho de administração quando as condições de mercado forem mais favoráveis.
Uma das variáveis consideradas pela Fibria na decisão é o volume adicional de celulose que chegará ao mercado nos próximos meses e vai pressionar as cotações da matéria-prima. Neste mês, entrou em operação a primeira unidade fabril da Eldorado Brasil Celulose , com capacidade para 1,5 milhão de toneladas anuais. Em um ano, a nova fábrica da Suzano Papel e Celulose, no Maranhão e com capacidade idêntica à da Eldorado, começará a produzir. E, pouco antes, a fábrica da Stora Enso e da Arauco em Montes del Plata, no Uruguai, já terá entrado em operação.
Para Castelli, os próximos três anos serão desafiadores para a indústria, com destaque para 2014. "Serão três anos difíceis, que merecem ser acompanhados", afirmou. No segundo semestre, os preços da celulose mostraram uma leve reação a partir de outubro, após o anúncio de aumento de US$ 30 por tonelada para a cotação da matéria-prima vendida na Europa. Com o reajuste, o preço de referência naquele mercado foi a US$ 780 por tonelada, porém pesquisas de preços realizadas por consultorias independentes mostram que o aumento não foi integralmente implementado.
A expectativa, de acordo com o diretor comercial da Fibria, Henri Philippe Van Keer, é a de que o cenário mais favorável aos negócios com celulose perdure até o primeiro trimestre do próximo ano. Após esse período, a oferta adicional da matéria-prima e condições de mercado papeleiro menos favorável na China e na Europa pesarão sobre os preços. "O preço médio no ano deve ficar US$ 10 por tonelada mais baixo do que a média de 2012", afirmou o executivo.
"Mas essa é uma projeção conservadora, porque China e Estados Unidos podem trazer uma dinâmica melhor ao mercado no próximo ano", ponderou Van Keer.
Esse cenário de estresse desenhado para a indústria nos próximos três anos, na avaliação de Castelli, poderá servir de gatilho para uma nova rodada de consolidação entre os produtores de celulose. "Haverá um cenário de estresse que vai acelerar decisões que já deveriam ter sido tomadas", analisou o executivo, sem entrar em detalhes sobre as possíveis combinações no setor.
Sob o aspecto a gestão da dívida (ver entrevista abaixo), uma das medidas que podem ser anunciadas pela companhia, nos próximos meses, é a recompra de bônus com vencimentos em 2020 e 2021. Segundo o diretor de finanças e relações com investidores da Fibria, Guilherme Cavalcanti, essas são dívidas caras e a empresa poderá usar os recursos provenientes da venda do projeto Losango, com cerca de 100 mil hectares no Rio Grande do Sul, à chilena CMPC, por R$ 615 milhões.
Ainda neste ano, a Fibria deve receber uma parcela de R$ 480 milhões referente ao negócio, porém não haverá tempo hábil para a abertura da recompra de bônus - com vencimentos em 2020 e 2021, as operações totalizam US$ 1,2 bilhão e US$ 750 milhões.
Fonte: Valor Econômico/Por Stella Fontes | De Nova York
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