A Usinas Itamarati, que até 2004 estava sob o controle de Olacyr de Moraes e depois passou às mãos da filha do empresário, avalia dar início a uma nova rodada de investimentos em açúcar e álcool em 2011. O plano ainda está sendo costurado, mas em princípio a empresa localizada em Nova Olímpia, a 200 quilômetros de Cuiabá, pretende gastar R$ 650 milhões nos próximos anos para modernizar e elevar a produtividade de seus canaviais e a capacidade industrial.
Entre outras indefinições, a empresa aguarda a decisão do Congresso Nacional sobre o zoneamento agroecológico da cana, que restringe a expansão da cultura em grande parte de Mato Grosso e outros Estados. Essa questão determinará, por exemplo se a empresa terá ou não mais concorrentes na região - e, portanto, sua real necessidade de acelerar ou não os investimentos.
Nos últimos anos, a empresa, fundada em 1980, vem aplicando de R$ 35 milhões a R$ 40 milhões em áreas essenciais à operação, como plantio e renovação de canaviais, e em máquinas e equipamentos agrícolas - 97% da colheita é mecanizada. "Mas esse projeto novo vai elevar a empresa a um outro patamar de uso de tecnologia, com motorização das moendas, que hoje são operadas por turbinas, assim como aumento da produtividade da cana em mais de 10%", diz o diretor-presidente da empresa, Sylvio Nóbrega Coutinho.
A atual capacidade instalada, de moagem de 6,3 milhões de toneladas de cana poderá chegar a 8 milhões de toneladas a partir desse planejamento, que não tem data para começar e não considera a unidade de cogeração de energia com bagaço de cana, que tem potencial para ser ampliada de 36 megawatts (MW) para 150 MW.
A Usinas Itamarati não informa dados atuais sobre seu endividamento, que estão sendo auditados. Não é segredo que as intempéries financeiras de seu fundador chegaram a afetar sua saúde e sua capacidade de investimentos, o que alimentou por diversas vezes rumores de que procurava um comprador. Mais recentemente, emergiram especulações de que a atual proprietária da companhia, Ana Cláudia de Moraes, queria se desfazer do negócio por razões pessoais. "Esses rumores surgem por que a Itamarati é a chamada 'joia da coroa'. Temos uma reserva de mercado nada desprezível, com participações de mercado em açúcar superiores a 80% em alguns Estados", explica Coutinho.
A empresa tem na defasada logística de acesso às regiões Centro-Oeste e Norte um de seus principais trunfos.. O açúcar da Itamarati sai de Mato Grosso por rodovia, entra na hidrovia do rio Madeira e chega aos consumidores do Norte a custos de frete de 30% a 35% mais baixos do que os pagos pelas usinas do Sudeste. "A logística da região é tão ruim, que ninguém consegue competir conosco". Esse trunfo em parte compensa a menor produtividade da cana da companhia, cujos canaviais produzem 85 toneladas de cana por hectare, quando a média do Centro-Sul está acima de 100 toneladas.
O maior market share da Itamarati está em Rondônia. Em Porto Velho e em Ji Paraná, por exemplo, ela informa que fornece 84% do consumo local de açúcar. No Amapá, a fatia é de 80% e, em Manaus (AM), entre 60% e 65%. "Em Mato Grosso temos um pouco mais de concorrência. Ainda assim, nossa participação no mercado é de 45%", orgulha-se o executivo.
O açúcar é produzido na unidade de Nova Olímpia e beneficiado e empacotado em uma unidade da empresa em Assari, distrito de Barra do Bugres (MT) e distante 23 quilômetros da sede. A estrutura era usada originalmente para armazenagem e secagem de arroz, um dos projetos de Olacyr de Moraes, que também foi pioneiro do cultivo de soja e algodão no Centro-Oeste. Há anos a estrutura de Assari foi adaptada para beneficiar e empacotar açúcar. De Assari, o açúcar segue por caminhão até Porto Velho, de onde vai por barcaças pelo Madeira até Manaus (AM), Belém (PA) e Santarém (PA).
A competitividade logística da empresa está ajudando a consolidá-la em mercados da Itamarati no Peru, para onde a empresa exporta há três anos. Atualmente, são vendidos 20 mil toneladas de açúcar por ano à região peruana de Iquitos. "Só não vendemos mais, porque não temos produção suficiente para atender", diz. Outra rota é usada para fazer o produto chegar à amazônia peruana. As barcaças saem de Porto Velho, vão até Manaus, de onde seguem pelo Rio Solimões até o Peru em um trajeto que leva de 30 a 35 dias, informa Coutinho.
O executivo pondera que o câmbio inibe um pouco o potencial de rentabilidade do mercado peruano. Ainda assim, a empresa suspendeu a operação de exportação - ainda que esporádica - de tinha de açúcar via porto de Paranaguá (PR) para procurar atender ao máximo o Peru, que teria condições neste momento de absorver até 60 mil toneladas do produto da Itamarati por ano. "É canal importante de venda. Não temos concorrente", afirma Coutinho.
Por isso, a cada seis meses o executivo vai visitar os clientes que possui no Peru. É uma estratégia para conhecer melhor o mercado e se preparar para atendê-lo melhor em volume no futuro. "Há clientes, por exemplo, que só querem receber o açúcar em saca de 50 quilos para poder vendê-lo a granel ao consumidor, no formato dos antigos 'secos e molhados'".
Há seis anos à frente da Itamarati, Coutinho é natural do Rio Grande do Norte e foi o primeiro presidente da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) após a privatização, em 1993. Aposentou-se em 1996, montou uma empresa de consultoria em São Paulo, quando foi contratado para prestar consultoria à Itamarati. "Era para passar de três a seis meses, mas acabei ficando por seis anos", conta Coutinho sobre o momento em que a filha de Olacyr, Ana Cláudia, estava assumindo o negócio.
Fonte: Valor Econômico/Fabiana Batista | De São Paulo
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