Diferentemente de portos e ferrovias, setores mais pressionados diante das incertezas sobre regulação, as áreas de rodovias e saneamento são vistas como mais seguras pelo mercado.
Mesmo assim, as ações das concessionárias de estradas não ficaram imunes ao pânico do mercado e registraram forte queda no dia 11 de setembro - algo hoje já recuperado em três das quatro companhias especializadas de capital aberto.
Para as fontes do setor, o movimento de fuga das rodovias foi liderado por quem não está familiarizado com o tema. "No dia [do anúncio do pacote de energia], ficamos sete horas explicando que não era quebra de contrato", disse recentemente Ricardo Castanheira, vice-presidente da CCR. Dentre os investidores da companhia, 40% são estrangeiros. "Os brasileiros [ao contrário dos estrangeiros] compraram, o que mostra a diferença de percepções."
A falta de informações com relação às normas estaduais e federais que regem a atuação de empresas de infraestrutura justifica parte do movimento precipitado dos estrangeiros que, na dúvida, vendem ações. Os investidores de capital externo representam parcela relevante dos papéis negociados em bolsa por companhias ligadas a concessões, o que explica boa parte da queda vista em 11 de setembro e nos pregões seguintes.
O presidente do grupo Odebrecht, Marcelo Odebrecht, foi além e disse nos últimos dias que o Brasil é "um dos países mais seguros do mundo" no que se refere à questão regulatória. Segundo ele, os contratos no país são obedecidos e não há percepção de risco sobre isso. "Você assina um contrato e se cumpre. Não temos problemas regulatórios."
Se em rodovias a mudança de regras de contratos em execução (por exemplo, baixar tarifas) já é um risco praticamente descartado pelo mercado, devido à segurança jurídica desse segmento, uma questão mais discutida é a renovação das concessões, que o governo não deve realizar de forma automática. O objetivo é perseguir tarifas menores que as praticadas nos contratos estabelecidos nos anos 1990.
A não renovação automática afeta em maior parte CCR e Triunfo. O analista do Santander Pedro Balcão destaca que nunca houve previsão de renovação de concessões para operação de rodovias e, portanto, o mercado não corre o risco de sair frustrado, como ocorreu com as elétricas.
E a expectativa de margens menores em novos investimentos e trechos a serem licitados já leva as companhias do setor a buscar alternativas para incrementar as receitas.
Três das maiores concessionárias de rodovias do país já anunciaram investimentos em outros setores ou no exterior para manter a rentabilidade. A CCR já opera a linha 4 do Metrô em São Paulo e adquiriu recentemente participação em aeroportos na Costa Rica, Equador e Curaçao. A Triunfo, que atua também no setor portuário, foi a vencedora no leilão para operação do aeroporto de Viracopos, em Campinas, interior de São Paulo. A EcoRodovias, por sua vez, adquiriu o Tecondi, um terminal no porto de Santos. (ver reportagem abaixo)
No caso da CCR, afirma o Bank of America Merrill Lynch (BofA), a diversificação é uma boa estratégia. Os analistas do banco avaliam em relatório que os novos ativos que entrarão em operação e os três aeroportos da companhia serão mais que suficientes para compensar o fim das concessões federais que vencem no médio prazo: Ponte, cujo contrato se encerra em 2015, e NovaDutra, cuja concessão vai até 2021. Juntos, os ativos respondem hoje por 20% do Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização).
"O contrato de concessão para estradas é muito claro sobre a não existência de cláusulas de renovação, portanto a estimativa do valor ["valuation"] de CCR e OHL não inclui nenhuma extensão de contratos, e qualquer renovação levaria o preço das ações para cima", explicam os analistas do BofA, em relatório.
O analista Bruno Savaris, do Credit Suisse, também acredita que as operadoras de estradas são um bom investimento. "É uma boa opção para quem quer investir em infraestrutura com baixo risco", ressalta.
No caso de companhias de saneamento, investidores ainda têm dificuldade para entender a pouca - ou nenhuma - influência do governo federal nas operações. As empresas listadas - Sabesp (SP), Copasa (MG) e Sanepar (PR) - têm forte vínculo com os governos, atualmente nas mãos de tucanos. Embora os governos possam mudar, o mercado enxerga possibilidades remotas de perda de interesse na administração das empresas nos moldes atuais.
O desempenho das ações de Sabesp e Copasa, principalmente, chama atenção no mercado, dada a forte valorização acumulada no ano. Os fundamentos do setor voltaram a reger a atuação dos investidores, que estão de olho nos processos de revisão tarifária das empresas, que tende a beneficiá-las.
Fonte: Valor
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