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No Semiárido potiguar, infraestrutura ainda é muito precária

A presença de estudantes vindos de capitais, como Natal e Fortaleza, poderia colocar em xeque o objetivo maior da criação da Universidade Federal Rural do Semiárido (Ufersa), que tem o principal campus instalado em Mossoró, município de 265 mil habitantes do interior do Rio Grande do Norte, próximo da divisa com o Ceará. No entanto, encontrar estudantes como Ygo Biserra Pereira, 27 anos, que saiu da capital cearense para estudar administração de empresas no sertão potiguar, não é tão fácil assim.

Bem mais comum é cruzar, nos corredores da universidade, com alunos de cidades como Frutuoso Gomes, Severiano Melo, São José do Seridó, Ceará-Mirim, Grossos, Apodi e, é claro, Mossoró - todas no Rio Grande do Norte -, além de municípios do interior cearense, caso de Morada Nova. O reitor de graduação da Ufersa, professor José Arimatea de Matos, diz que a instituição cumpre bem seu principal papel: oferecer aos jovens do Semiárido o acesso ao ensino superior. Segundo ele, quase 90% dos alunos têm origem na região.

Criada em 2005, depois da transformação da Escola Superior de Agricultura de Mossoró (Esam) em universidade federal, a Ufersa ainda é um canteiro de obras. Instalações modernas e novas em folha convivem com os prédios degradados da antiga Esam, fundada no fim da década de 60. A falta de infraestrutura adequada é a principal queixa de alunos, professores e funcionários que, no entanto, também reconhecem os avanços.

Sentados no chão de um dos prédios da universidade, entre uma aula e outra, os estudantes Jéssica Rayza Pereira, Jaltiere Bezerra e Camila Sayonara Souza, todos do 6º período de agrononomia, alternam críticas e elogios. As constantes quedas no fornecimento de energia, o preço elevado do restaurante universitário e o rigor exagerado de alguns professores são reclamações comuns.

Também houve consenso na avaliação no curso de agronomia, que já existia nos tempos de Esam. Segundo eles, o curso está um passo à frente dos demais, no que se refere às instalações físicas da faculdade, como laboratórios e salas de aula.

Atualmente, estão sendo construídos 120 laboratórios, 72 salas de aula e 432 escritórios para acomodação dos professores. De acordo com Josivan Barbosa Menezes Feitoza, reitor da Ufersa, tudo deve estar pronto até o fim deste ano. Ele lembra, porém, que ainda há muito a ser feito. "Tem toda infraestrutura complementar, como a parte de patrimônio, almoxarifado, transportes, maquinário e segurança", afirmou ele, que comanda a instituição desde 2004, antes mesmo de virar universidade.

Um dos laboratórios novos vai ser chefiado pela professora de biotecnologia Ioná Santos, que, em janeiro de 2009, trocou as praias de Ilhéus, na Bahia, pelo Semiárido de Mossoró. Com doutorado em genética nos EUA, ela hesita ao falar sobre o nível de seus alunos. "Isso é subjetivo. Depende da aula, do interesse de cada um. Não posso dizer que é excelente, mas também não é ruim. É médio."

Bem mais objetivo, o reitor da Ufersa classificou o nível dos alunos como algo "preocupante". Na sua avaliação, há um déficit importante de habilidade nas áreas de matemática, química e física, resultado de um ensino médio problemático, sobretudo nas escolas públicas, de onde vieram 48,5% dos alunos da Ufersa. Em relação ao número de matriculados, a evasão na universidades correspondeu a 9,9%, em média, no período entre 2007 e 2010. O número, entretanto, vem caindo na evolução ano a ano e foi de 6,58% no ano passado.

Quase todos os estudantes ouvidos pela reportagem do Valor avaliaram como "difícil" o grau de exigência dos cursos. É o caso de Marcos Antonio Ferreira Júnior e Rodrigo de Freitas, do 2º período de ciência e tecnologia. Após reclamarem das falhas no calçamento da universidade e elogiarem a modernidade das novas instalações, ambos admitiram que estão "penando" para acompanhar o curso. "O nível está bem difícil, mas também depende de cada professor", diz Ferreira, 18 anos. "Os professores mais velhos têm uma metodologia antiga. Prefiro os mais novos", afirma Freitas, também de 18 anos.

Após os três primeiros anos de ciência e tecnologia, os alunos têm de optar por alguma engenharia, que pode ser civil, mecânica, química, agrícola, ambiental, florestal, de produção, de pesca, de energia e de petróleo. Esta última tem atraído o interesse dos que pensar em trabalhar na Petrobras, que tem uma operação de exploração em Mossoró. Os estudantes acreditam que, com o desenvolvimento econômico registrado nos últimos anos, a região tem mercado para absorver uma gama mais ampla de profissionais que sairão da Ufersa.

Como exemplos, o reitor mencionou empreendimentos nos setores de cimento, cerâmica e sal, além do petróleo, como grandes interessados em buscar trabalhadores com o tipo de formação oferecida na instituição. Outro exemplo é o curso de agronomia, direcionado para as culturas mais comuns na região, no caso, o melão.

Assim como os alunos, os professores da Ufersa estão em busca do sucesso profissional no Semiárido. "Nas outras instituições, os professores novatos não têm muita chance de crescer", diz Ioná, que está "maravilhada" com as possibilidades de ascensão. A Ufersa também quer voar mais alto. A expectativa do reitor, que deixa o posto em 2012, é consolidar os quatro campi (Mossoró, Angicos, Caraúbas e Pau dos Ferros) e depois avançar no número de cursos oferecidos - hoje, são 34, incluindo 9 de mestrado e 2 de doutorado.

"O Semiárido precisa de um curso de medicina que forme ao menos cem médicos por ano", avalia Feitoza. "Na nossa região, 4,8 jovens em cada 100 estão na universidade. No ABC paulista, por exemplo, são 45 para cada 100. Por isso, luto para continuar crescendo. Nós precisamos aumentar isso, nos próximos anos para pelo menos, dez a cada cem" diz o reitor.

fonte:Valor Econômico/Murillo Camarotto | De Mossoró (RN)






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