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Além de equipamentos, fornecedores de tecnologias de combate à poluição têm adicionado outros serviços a seu portfólio
De janeiro a março deste ano, quatro acidentes acarretaram o despejo no mar de pouco mais de 30 mil litros de óleo. No dia 26 de janeiro, um incidente durante uma operação de descarregamento em uma monoboia da Transpetro no terminal de Osório,
no Rio Grande do Sul, ocasionou o vazamento de 1,2 mil litros de óleo. No dia 31 do mesmo mês, vazaram 25,44 mil litros de petróleo em razão de um acidente na plataforma onde estava sendo realizado o teste de longa duração do campo de Carioca Nordeste, no pré-sal da Bacia de Santos. No dia 13 de fevereiro, a Petrobras também registrou vazamento em uma tubulação de um dos separadores de produção da plataforma P-43, no campo de Barracuda, na Bacia de Campos. Na ocasião vazaram 30 barris de petróleo, o equivalente a 4,77 mil litros. Finalmente, no último dia 15, a Chevron informou a descoberta de uma mancha de um quilômetro de extensão na Bacia de Campos, na mesma área onde ocorreu o acidente em novembro do ano passado, quando foram derramados 480 mil litros de óleo. Desta vez, a companhia estima um vazamento de cinco litros de petróleo.
A sucessão de eventos tem levado os fornecedores de tecnologias de combate à poluição marinha a se preparem para atender à demanda. Além da disponibilidade na venda de equipamentos, os provedores também têm reforçado em seu portfólio outros serviços de combate à emergência.
A Hidroclean, por exemplo, montou um laboratório móvel para recuperação de fauna. A unidade permite a atuação mais rápida de profissionais e voluntários para realizar o resgate, a limpeza e os cuidados para que o animal contaminado por óleo seja devolvido ao meio ambiente. Com cerca de 40 metros quadrados, o equipamento é uma estação de lavagem que conta com minilaboratório e ambulatório veterinário. A unidade tem geradores próprios, que possibilita a sua instalação em regiões remotas. No projeto, a companhia conta com a parceria da Gremar, instituição especializada no resgate e na reabilitação de animais marinhos.
“Fizemos um acordo operacional no ano passado, mas como a base da Gremar está instalada em uma Ilha, em Santos, faltava o atendimento móvel. Por isso desenvolvemos esse contêiner, que é uma forma de atender às emergências que envolvam animais contaminados, em qualquer lugar do Brasil. Enviamos os equipamentos e os técnicos para preparar o atendimento”, explica o diretor geral da Hidroclean, Carlos Boeckh.
Segundo a companhia, com o contêiner é possível cuidar de até 50 animais vítimas de derramamentos de óleo e contaminação da costa. Após o processo de despetrolização, as espécies são preparadas para o retorno ao meio ambiente com exercícios e, no caso dos pássaros, recebem uma anilha para monitoramento. O serviço, lançado em março, já está sendo oferecido aos cerca de 75 clientes da companhia, entre terminais e empresas de petróleo.
Para este ano, a empresa também prepara mais uma novidade. É o navio Jean Charcot, que vai atuar em pesquisas nos mares do Brasil, coletando dados químicos, biológicos e minerais. A embarcação será uma ferramenta importante para pesquisa em face ao pré-sal, já que o país possue poucos navios do gênero. Segundo a Hidroclean, no Brasil existem atualmente duas ou três unidades, enquanto que nos Estados Unidos, compara a empresa, cada universidade que oferece cursos de oceanografia tem, pelo menos, dois disponíveis.
Construída para ser um navio oceanográfico, a embarcação atuou em diversas frentes ao longo dos anos, como as buscas aos destroços do Titanic. Mas nos últimos anos, o navio não estava operando em pesquisa. No Brasil desde fevereiro e atracado atualmente na Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, a embarcação passará por algumas obras de restauração no estaleiro da companhia, que pertence ao grupo Brasbunker.
Segundo Boeckh, serão instalados nichos hidráulicos e pórticos e feitas transformações nos laboratórios para atender melhor às necessidades do mercado. “São modificações principalmente nas acomodações e no convés”, diz ele, destacando que o navio deve estar pronto para iniciar a operação no início do segundo semestre. Boeckh lembra também que no Brasil geralmente as pesquisas são realizadas em embarcações offshore adaptadas para o serviço, como PSVs, diferentemente do Jean Charcot. “Ele é um navio de pesquisa e isso confere uma boa vantagem para a embarcação, porque tem vários itens de fábrica, laboratórios e acomodações para receber os pesquisadores”, detalha.
Fundamentais para que as estratégias de prontidão, controle e gerenciamento de emergências sejam bem-sucedidas, os cursos e treinamentos também são uma das atividades da Hidroclean. Um deles é o de Derramamento de óleo em offshore, no qual o participante recebe instruções para atuar em operações de resposta a emergências em ambientes offshore. A atividade tem como objetivo treinar as formações típicas usadas para recolher óleo e ampliar o conhecimento técnico sobre os equipamentos. Destinado à equipe embarcada e de apoio em terra, o curso tem duração de dois dias, sendo um teórico e um prático, quando a atividade acontece a bordo de uma embarcação com barreiras e recolhedores de óleo.
Treinamentos in-company dos procedimentos de respostas a emergência também fazem parte do portfólio da Ecosorb. Mas a novidade da companhia para o final deste ano ou início de 2013 é um software de inteligência. Sem revelar detalhes, a diretora de Serviços de Prontidão da companhia, Maria Tereza Massini, diz que a tecnologia, ainda em fase de desenvolvimento, trará ações efetivas de como se fazer combate a derramamento. “Estamos numa evolução de acordo com o que o Brasil está necessitando nessa área”, diz. No mercado desde 1998, a companhia também atua no fornecimento de embarcações, no desenvolvimento de planos de emergência individual, treinamentos dos procedimentos de resposta e em assessoria de crise em casos de acidentes ambientais.
Dividida em duas unidades de negócios — produtos e serviços — a companhia percebe em sua receita um equilíbrio entre as áreas. “Houve uma movimentação no mercado na parte de serviços quando saiu a Resolução Conama que exigia os planos de emergência individuais. Na crise entre 2008 e 2009, ficamos mais com a venda de produtos, porque todo mundo reteve investimentos nessa área. Em média, ao longo dos anos, podemos dizer que o peso de cada negócio é de 50%”, contabiliza o diretor comercial da Ecosorb, Reinaldo Pinho.
Para o executivo, o mercado de combate à poluição marinha, principalmente quando se fala de produtos, tem baixa introdução de novos materiais, já que o mercado se acostumou com os produtos mais convencionais. Ainda assim, a companhia continua buscando oferecer novas soluções aos seus clientes. A Ecosorb lançou no último mês de março um absorvente à base de polímeros vegetais, que tem aproximadamente três vezes mais a capacidade de absorção do que as turfas, que são usuais no mercado. De acordo com Pinho, o produto pode ser descartado no solo, evitando desgastes para se fazer a destinação do material contaminado. “O absorvente tem um biorremediador que quebra a cadeia hidrocarbônica, fazendo com que o produto possa ser novamente disposto ao solo sem que você precise incinerá-lo ou coprocessá-lo”, explica Pinho.
As soluções próprias são desenvolvidas na fábrica da empresa, instalada em Itatiba, no estado de São Paulo. Barreiras de contenção, skimmers e rolos absorventes são alguns dos itens confeccionados na unidade. Além disso, a empresa também mantém parcerias com empresas estrangeiras para vender seus produtos no país, como bombas e skimmers hidráulicos. Neste mesmo segmento de equipamentos, a Ecosorb estuda uma parceria com uma empresa russa. Segundo Maria Tereza, em função do pré-sal e da crise vivenciada pela Europa, as empresas da área offshore estão vindo para o Brasil em busca de alianças. “Antigamente tínhamos que ir lá fora mostrar o Brasil e a nossa empresa. Hoje estamos numa posição inversa, eles é que nos procuram”, garante.
A Hidroclean, por exemplo, é representante há alguns anos no país de equipamentos da empresa americana InterOcean Systems. Entre os equipamentos oferecidos aos clientes está o Slick Sleuth, que consiste em um dispositivo de sensoriamento remoto para detecção da poluição por hidrocarbonetos na água em tempo real. O produto, segundo Boeckh, tem tido uma boa receptividade pelo mercado. “É um produto inovador, que tem sido muito bem comercializado no Brasil”, diz. A companhia também tem disponíveis barreiras de contenção, barreiras absorventes, mantas e skimmers. Entre seus clientes estão a Brasil Supply, Camorim, Transpetro, os estaleiros Eisa, Aliança e os portos de Suape, de Recife e de São Francisco do Sul.
Tanto os casos recentes de vazamento de óleo, como aqueles históricos de grandes proporções — como o do Golfo do México, em 2010 e o da Chevron, no ano passado, — geram uma maior movimentação no mercado de tecnologias de combate à poluição marinha. Assim, as companhias estão otimistas em relação ao faturamento nos próximos anos. “Nossas vendas aumentaram cerca de 50% de 2010 para 2011 e nossa expectativa é de que esse aumento continue. Esperamos um crescimento da ordem de 25% a 30% para este ano”, estima Boeckh.
As expectativas da Ecosorb também são as melhores possíveis. Para Pinho, com a entrada no Brasil de empresas do segmento de óleo e gás, o mercado de serviços emergenciais está cada vez mais efervescente. “No ano passado, atingimos um crescimento de dois dígitos e isso foi muito importante, porque cada vez mais o mercado se conscientiza da utilização dos nossos produtos e serviços e consequentemente as vendas crescem. A companhia também deve receber em breve novos aportes de investimentos do Fundo de Investimento Stratus.”
Sem revelar valores, Maria Tereza destaca que a companhia vai se fortalecer ainda mais no mercado. “Temos um objetivo bem agressivo para 2012 com metas tangíveis mas com planejamento estratégico muito bem alinhado para que possamos cumprir com isso. A Ecosorb vai dar uma sacudida no mercado e, para 2013, a previsão é nós sermos a potência neste segmento”, anima-se.
Se os vazamentos de óleo são uma ameaça à vida oceânica, a água de lastro, utilizada para compensar a perda de peso proveniente do desembarque de cargas de um navio, é igualmente um perigo à biodiversidade marinha. Diversas espécies diferentes de micróbios, bactérias, plantas, além de ovos e larvas de animais marinhos podem ser levados de um porto a outro. Quando descartadas em novos ambientes, esses organismos podem romper o equilíbrio ecológico do novo habitat, causando impactos nocivos para a economia local e a disseminação de enfermidades.
A fim de fornecer soluções para ajudar a proteger os ecossistemas marinhos, a Alfa Laval desenvolveu um sistema livre de produtos químicos que, segundo a companhia, colocarão um final definitivo nas espécies invasoras na água de lastro. Já comercializado há cerca de dois anos pela empresa, o sistema ainda não foi fornecido no Brasil, mas as negociações já foram iniciadas.
“De maneira geral, os shipowners e as operadoras do Brasil só vão se posicionar e começar realmente a demandar produtos quando ocorrer a regulamentação de forma global. Mas estamos próximos de esse ano ainda ter embarcação, talvez não com o equipamento instalado, mas já com pedido do sistema para tratamento de água de lastro”, conta o gerente de Divisão da Alfa Laval, Carlos Funes.
Em fevereiro de 2004, a International Maritime Organization (IMO) adotou a Convenção Internacional para Controle e Gerenciamento da Água de Lastro e Sedimentos de Navios, cujo objetivo é prevenir, minimizar e eliminar os riscos da introdução de organismos aquáticos nocivos e agentes patogênicos existentes na água de lastro dos navios. A Convenção entrará em vigor 12 meses após a ratificação por, pelo menos 30 países, que deverão representar, no mínimo, 35% da tonelagem mercante mundial. Segundo dados do Sindicato Nacional das Empresas de Navegação Marítima (Syndarma), 30 estados membros já assinaram a Convenção. Funes explica que o Panamá, que é um país chave e decisivo em função do volume de embarcações que adentram no canal, está prestes a assinar.
De acordo com a convenção, os navios deverão possuir a bordo um Plano de Gerenciamento e um Livro de Registro da Água de Lastro. Além disso, deverão seguir padrões de troca de água e de performance de água, que determina o nível mínimo de eficiência que os sistemas de tratamento deverão atender.
Segundo Funes, o equipamento da Alfa Laval trabalha por feixes de luz. Denominado PureBallast 2.0, o equipamento já está na segunda geração do já aprovado sistema de tratamento de água de lastro e é equipado com a tecnologia de oxidação avançada (AOT) mais eficiente em termos energéticos. Segundo a companhia, o sistema reduz os microorganismos da água de lastro para 10 indivíduos por mililitro e usa 40% menos energia do que seu antecessor.
— Quando você vai coletar a água de um lugar onde está o navio, ela vai passar pelo equipamento, que mata todos os tipos de bactérias. No momento de descarregar ou carregar essa água em outro local, ela passa novamente no equipamento para que se tenha um alto índice de certeza de que você não vai gerar impacto ao transportar bactérias de um lugar para outro — explica Funes.
Segundo informações do Syndarma, a Câmara Internacional de Navegação sugere que, por dia, mais de 20 embarcações precisarão ter sistemas instalados para atender à Convenção, uma vez que, em meados de 2017 todos os navios deverão estar equipados com sistemas de gestão da água de lastro. Funes destaca que muitos projetos de embarcações que não estão considerando o equipamento para tratamento de lastro podem enfrentar dificuldades quando a regulamentação for homologada.
“Qualquer navio hoje é projetado com a sala de máquinas restrita em termos de espaço. Então se você não parte de um projeto, pelo menos considerando um certo espaço para isso, no momento da adaptação vai se criar um problema. Vão precisar de mais tempo e dinheiro para se adaptar à legislação”, lembra ele, destacando que em países como Coreia e China, em que a demanda por navios é grande, o espaço para o sistema tem sido levado em conta, mesmo que ainda não seja considerada a instalação do equipamento.
Com o número de embarcações que deverão ser docadas, fica a pergunta: os fornecedores de equipamentos conseguirão atender a demanda crescente que está por vir? A Alfa Laval, segundo Funes, já está produzindo uma quantidade de equipamentos grande e a base instalada da companhia também está em expansão. “Vivemos um momento onde a água começa a ferver e a expectativa é a melhor possível. Entendemos que esse assunto vai dominar o mercado de forma ampla e vai criar muitas possibilidades nos próximos anos”, acredita.
Alguns países já se anteciparam à regulamentação e instalaram sistemas de tratamento de água de lastro em suas embarcações. No Brasil, porém, Funes acredita que a implantação do equipamento só será efetivamente iniciada quando for compulsória. “A visão do mercado é de aguardar a obrigatoriedade. Os clientes não vão investir neste tipo de tecnologia. Eles não farão isso antes que ocorra a homologação da IMO.” n