A V.Ships, maior empresa de gestão de navios do mundo, recebeu a comunidade marítima, em evento no Copacabana Palace, no Rio. O diretor executivo do grupo, Robert M. Bishop, ao lado do presidente no Brasil, Eduardo Bastos, manteve contatos com o mercado local. A esta coluna, Bishop declarou que jamais o mercado de fretes irá se aproximar dos altos níveis verificados antes da crise de 2008.
– Naquela época, o comércio crescia muito, e a frota era limitada. Hoje, o mundo cresce menos, a frota internacional é maior e ainda há muitos navios em construção. Não vejo, no horizonte, possibilidade de retorno aos altos níveis de fretes praticados até a crise de 2008, embora nada impeça alguma alta moderada. Definitivamente, estamos em período de baixos lucros para as empresas de navegação.
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Segundo ele, uma exceção é o mercado específico para atendimento a plataformas de petróleo, o chamado offshore. “É a jóia da coroa”, afirma o escocês, que, a propósito, informa ser absolutamente contrário à saída da Escócia do Reino Unido. “Seria loucura”, diz. Destaca que, em navegação, como em todo negócio, é essencial a credibilidade e que o Brasil conta com empresas sérias atuando nessa área.
A V.Ships se instalou no Brasil em 1984 e hoje conta com inúmeros clientes, entre os quais a estatal Transpetro. Há três anos, foi criada a V.Ships Brasil Offshore, que já controla nove embarcações, sendo que duas com gestão total e, nas demais, atua na área de pessoal, com recrutamento e controle da operação. No mundo, a empresa gere nada menos de 1.200 navios, o que engloba 30 mil tripulantes. A maioria é de filipinos, seguindo-se pessoal da ex-União Soviética – russos, croatas etc. – e indianos.
Comenta Bishop que, no Brasil e no mundo, um dos desafios é atrair gente para o mar. Admite que o charme da profissão não é o mesmo de antes. Mesmo assim, a empresa usa sua rede mundial para recrutar pessoal especializado e colocá-lo da melhor forma possível na frota que gere. Em relação a poluição, afirma que o problema não está no mar, mas em terra.
– A navegação é um meio barato e seguro. Nos últimos tempos, os navios de petróleo, por exemplo, passaram a dispor de excelentes meios para evitar poluição, o que inclui, é claro, pessoal treinado.
Sobre a possibilidade de o Brasil criar sua própria frota de navios porta-contêineres, como vem sendo discutido, Bishop afirma ser um direito absoluto do país, mas ressalta dois entraves: a queda nos níveis de fretes, que afasta novos investidores e o Custo Brasil. “A gente sente o Custo Brasil não apenas na navegação, mas no dia a dia. Grande parte das atividades apresenta um valor superior ao de outros países em desenvolvimento e até mesmo de nações plenamente desenvolvidas”, diz. Em relação à possibilidade de o Brasil obrigar armadores estrangeiros a se registrarem no país, Bishop considera isso irrelevante e custoso:
– Os navios movimentam importação e exportação brasileira. Qualquer obstáculo representaria aumento de custos, que acabaria sendo repassado aos clientes. Os Estados Unidos impõem uma série de obstáculos à navegação, que, no fundo, só fazem aumentar o custo para movimentação de suas cargas, especialmente na cabotagem.
Desde 2010, a V.Ships tem 75% de suas ações de posse do fundo canadense de investimentos Omners – com o restante na mão dos executivos que fundaram o grupo. A sede técnica é em Glasgow e as principais unidades administrativas estão em Londres e Mônaco. Sobre o setor de apoio marítimo, o diretor Comercial, Leonardo Freitas, frisa que o crescimento da nova subsidiária tem sido intenso. Dos nove barcos hoje geridos pelo grupo, um deles é uma espécie de hotel flutuante, um flotel, com capacidade para 450 pessoas, além dos 42 tripulantes. Esse flotel em geral passa seis meses ligado a uma plataforma da Petrobras e, no momento, se encontra acoplado à P-39, na Bacia de Campos.
Para Leonardo Freitas – que passou quatro anos e meio se especializando em Glasgow – no momento há menos dificuldade para se contratar marítimos do que há um ano e meio. No Brasil, a V.Ships Brasil é responsável pela gestão do trabalho de 2.600 marítimos. Dos marítimos contratados pela V.Ships no Brasil, cerca de 400 são estrangeiros, o que está de acordo com a legislação brasileira.
Fonte:Monitor Mercantil/Sergio Barreto Motta