A C40 Cities, organização que reúne representantes de cerca de 100 cidades de diversos países e é voltada para ações de combate às mudanças climáticas, a Corporação Financeira Internacional (IFC) e a Associação Internacional de Portos e Terminais (IAPH) anunciaram uma parceria que visa desbloquear crédito para infraestrutura portuária sustentável.
A proposta é uma parceria concebida para desbloquear investimentos maciços em infraestrutura portuária sustentável e acelerar a transição do setor marítimo para emissões líquidas zero. O anúncio ocorreu na última terça-feira (4), no Rio de Janeiro, durante a Cúpula Mundial de Prefeitos da C40, a Iniciativa Global de Empréstimos Vinculados à Sustentabilidade Portuária (SLL, na sigla em inglês). O encontro dos prefeitos é um dos preparatórios para a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP 30).
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O transporte marítimo movimenta mais de 80% das mercadorias globais e é responsável por aproximadamente 3% das emissões globais de CO₂. De acordo com a C40 Cities, os portos precisam receber investimentos estimados entre um e dois trilhões de dólares até 2050 para eletrificação, infraestrutura de abastecimento de combustíveis alternativos e equipamentos de movimentação de carga com emissão zero. Mas, segundo a entidade, cerca de 200 bilhões de dólares em capital vinculado à sustentabilidade permanecem inexplorados devido a barreiras técnicas, financeiras e regulatórias enfrentadas pelas autoridades portuárias.
O objetivo anunciado da parceria é superar esses obstáculos aos financiamentos a partir de estruturas padronizadas de empréstimos sustentáveis vinculados a indicadores-chave de desempenho de sustentabilidade, reduzindo custos de transação e aumentando a confiança dos investidores. Além disso, programa apoio técnico consultivo para auxiliar as autoridades portuárias na estruturação de projetos para receber investimentos e ter acesso a uma rede global de bancos de desenvolvimento e instituições financeiras comerciais.
Prevê ainda a criação de mecanismos mistos de financiamento envolvendo fundos climáticos concessionais, capital de bancos de desenvolvimento e investimento comercial para reduzir os riscos de tecnologias verdes em estágio inicial, programas de capacitação, incluindo oficinas regionais e Academias de Empréstimos Sustentáveis para portos, voltados para participantes do Sul Global. A iniciativa, segundo o comunicado, estabelece a primeira estrutura global especificamente adaptada para a implementação de empréstimos vinculados à sustentabilidade para projetos de descarbonização portuária em todo o mundo.
Ao combinar a rede da C40, composta por quase 100 cidades e dezenas de portos, a experiência da IFC na estruturação de transações de financiamento climático e a aliança global da IAPH, com 201 portos, a parceria visa oferecer orientação abrangente sobre o mercado, programas de capacitação e acesso direto a financiamento para autoridades portuárias, especialmente no Sul Global, onde as barreiras de financiamento têm dificultado a implementação de infraestrutura verde.
Os resultados esperados são a preparação de mais de 50 projetos portuários e de transporte marítimo com emissão zero para receberem investimentos até 2030, mobilizar financiamento para infraestrutura marítima resiliente e sustentável de pelo menos 1 bilhão de dólares em três anos, alavancando a capacidade de mobilização da IFC, redução das emissões marítimas e portuárias nas cidades participantes de 25% a 40% até 2035, gerar até 4 milhões de novos empregos até 2050 por meio da descarbonização marítima, com concentração significativa em cidades portuárias do Sul Global.
Além disso, os parceiros se comprometem a apoiar o cumprimento do compromisso das cidades da C40 de impulsionar a criação de 50 milhões de bons empregos verdes até 2030 e facilitar o acesso equitativo a financiamento competitivo para infraestrutura para portos membros da IAPH no Sul Global e em pequenos Estados insulares.
A iniciativa baseia-se em extenso trabalho de campo, incluindo avaliações de mercado abrangentes e contato com 30 bancos comerciais, confirmando forte apoio a estruturas padronizadas de empréstimos portuários. A parceria formaliza o Memorando de Entendimento assinado entre a IFC e a C40 em setembro de 2024, indo além do compartilhamento de informações para uma liderança conjunta ativa na mobilização financeira em todo o setor.
A parceria fornecerá apoio às autoridades portuárias do Sul Global, que movimentam mais da metade das exportações marítimas e 60% das importações e enfrentam desafios agudos, incluindo espaço fiscal limitado, maior percepção de risco de investimento e classificações de crédito fracas que elevam os custos de empréstimo. Os próximos passos da parceria incluem oficinas regionais e programas de capacitação, com início em 2026.
Andrea Fernandez, diretora executiva de Financiamento Climático, Conhecimento e Parcerias da C40 Cities, explicou que os portos são portas de entrada para o comércio internacional, e esta estrutura global estabelece um novo precedente, enviando sinais claros ao mercado e acelerando o ritmo e a escala do financiamento climático para investimentos cruciais em infraestrutura portuária com emissão zero.
Segundo Andrea, a iniciativa Global Port SLL apresenta argumentos convincentes para intensificar a descarbonização marítima e acelerar a resiliência climática, protegendo as pessoas e os lugares. “Essa iniciativa conjunta traz muitos benefícios: reduz os riscos dos investimentos comerciais em infraestrutura portuária e combustíveis verdes, promove uma transição justa ao permitir que os portos, principalmente no Sul Global, enfrentem desafios fiscais e também aprimora a assistência técnica e os programas de capacitação”, disse.
O diretor-geral da IAPH, Patrick Verhoeven, reforçou, dizendo que a parceria representa importante passo para a maior colaboração entre portos, instituições financeiras e reguladores. “Esses investimentos em terra podem financiar infraestrutura de longo prazo e apoiar acordos de fornecimento de combustíveis marítimos com baixo ou zero carbono e transporte de granéis líquidos”, ressaltou.
Ele previu que o acesso ao financiamento pode equipar os portos com a infraestrutura necessária para lidar com as futuras moléculas de energia com baixo ou zero carbono produzidas a partir de fontes de energia renováveis. E explicou que a iniciativa complementa o trabalho da IAPH na Clean Energy Marine Hubs (CEM HUBS), que visa importar, exportar, abastecer e, quando viável, produzir fontes de energia limpa e combustíveis com emissão zero ou quase zero. “Aguardamos com expectativa uma maior colaboração com a C40 Cities e a IFC para mobilizar essa estrutura junto dos nossos membros portuários, a fim de promover a descarbonização marítima”, afirmou.

















