Porto de Montevidéu briga para crescer no centro da cidade e Nova Palmira, no marco zero do Rio da Prata, cresce 70% sobre 2009
É fevereiro, mês de alta temporada, e um enorme navio de passageiros está ancorado no Porto de Montevidéu, capital do Uruguai. Ao descer, os turistas dão de cara com a cidade velha, um dos principais pontos turísticos da capital. Cafés, restaurantes, ruas de pedestres e prédios antigos e bem preservados estão a uma rua do barco.
Se olharem para o mar (em Montevidéu os habitantes costumam chamar o Rio da Prata de mar), esses mesmos turistas vão notar, ao longe, pelo menos dez navios de carga parados, esperando sua vez de atracar. Tudo se passa no mesmo espaço. A cidade cresceu, o país mudou, veio o boom de exportações e o maior porto do Uruguai se viu sufocado.
Em 2010, o Porto de Montevidéu movimentou 10,7 milhões de toneladas, aumento de 21% sobre o ano anterior. Nas exportações, os principais produtos são madeira e cereais. Apesar do crescimento, a movimentação ainda corresponde a uma pequena fatia do Porto de Santos, em São Paulo, que fechou o ano passado com recorde de 96 milhões de toneladas, alta de 15,4% sobre 2009.
Para tentar driblar a falta de espaço, já que é impensável uma desapropriação do centro histórico da cidade, a Administração Nacional de Portos (ANP) se desdobra para conseguir cumprir uma lista com pelo menos dez projetos de melhorias. Lourdes Manzur, economista da ANP, diz que cinco deles são prioritários e vão custar cerca o equivalente a R$ 330 milhões. A ideia é fazer de Montevidéu um centro de transporte na região do Rio da Prata. Em Santos, o projeto de expansão foi anunciado em 2010 e pretende fazer com que, até 2024, a capacidade de movimentação de carga seja ampliada para 230 milhões de toneladas.
Em Montevidéu, as obras principais são a dragagem do canal de acesso dos barcos e a construção de novos cais, que permitirão a chegada de navios maiores. “Com o desenvolvimento da logística, as embarcações vão ficando maiores e os portos precisam ser mais profundos”, diz. A profundidade inicial do Porto de Montevidéu era de nove metros. “O ideal é chegar a 12 metros. Já dragamos muitas áreas, mas precisamos fazer mais.”
Para executar o trabalho, foi fechado um contrato com a companhia chinesa Shangai Dredging Company. Serão 24 semanas de obras que se dividem em duas etapas, com investimento de cerca de R$ 12 milhões.
A ANP também quer descongestionar o Porto de Montevidéu com a construção de um novo cais público. “Um barco esperando na água significa um custo de R$ 68 mil a R$ 85 mil por dia”, diz Lourdes. Para a obra, a administração conseguiu um financiamento de R$ 136 milhões do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
Para peixes e madeira
Outro projeto que faz parte da tentativa de liberar espaço é o terminal pesqueiro. “O tipo de embarque da pesca é muito intenso, diferente dos demais. Como o porto ficou pequeno, estamos criando unidades especializadas”, afirma. As obras terão dois módulos, um nacional e outro internacional, por meio de concessão. Para a construção desta segunda parte, a ANP vai abrir uma licitação no fim de abril, ao custo de R$ 85 milhões. A finalização do módulo nacional está prevista para o fim de 2012.
Outro projeto importante para desafogar a entrada em Montevidéu é o chamado “Acesso Norte”, que terá custo de R$ 17 milhões. “Já nos cansamos de ver a fila de caminhões esperando para buscar mercadoria no Porto”, diz Lourdes. “Por isso é prioridade finalizar as obras de acesso por outra região.” Com as obras, os caminhões não precisam chegar ao centro para o carregamento. Uma área mais ao norte do porto foi preenchida com água, o que deixou o mar mais perto de um novo acesso.
O ultimo projeto teve licitação em 2004 e está orçado em R$ 93 milhões. A companhia uruguaia Obrinel Christophersen apresentou oferta para construir o complexo, que inclui um terminal florestal e de granéis no porto.
Nova Palmira, a menina dos olhos das exportações
Enquanto o Porto de Montevidéu se esforça para crescer, Nova Palmira, situado no chamado marco zero do Rio da Prata, é o que mais vem colhendo os bons ventos do boom de exportações do país. Segundo a ANP, o porto movimentou 2,1 milhões de toneladas em 2010, aumento de 70% sobre 2009 e número recorde nos últimos cinco anos. Os principais produtos transportados foram trigo (39% do total) e soja (37%).
O porto tem três terminais, um público, da Associação Nacional de Portos (ANP) e dois privados. Um deles, o Navios Terminals Operations, pertence a Ruben Martínez. Ele afirma que o desenvolvimento de Nova Palmira está intimamente ligado ao do Brasil, sobretudo à produção de Corumbá (MS). “Meu terminal, por exemplo, começou a operar há 50 anos para escoar o manganês da região”, diz.
Segundo Martínez, Nova Palmira tem a vantagem de estar na desembocadura da hidrovia Paraguai Paraná, que compara à movimentação no rio Mississippi, nos Estados Unidos. Para ele, as duas hidrovias são equivalentes tanto em relação à extensão de seus rios, quanto à área de plantações no entorno. Mas a hidrovia Paraná não tem eclusas, possui navegação natural e melhorias não requerem grandes obras de engenharia.
O terminal de Martínez tem uma agenda de investimentos de R$ 42 milhões. A ideia é aumentar a capacidade e também melhorar o manejo de caminhões. “Esses projetos não estão isolados”, acrescenta. “Toda a região de Nova Palmira tem obras em andamento. Também surgem novos terminais privados, como um especializado no embarque de celulose.”
Fonte:Grande Prêmio/Aline Cury Zampieri, enviada a Montevidéu
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