Se saírem do papel, os projetos de ferrovias em Santa Catarina influenciarão diretamente a produção de aves do Estado. O aumento nos custos de produção tem levado as agroindústrias a investirem no Centro-Oeste, onde há oferta de milho em abundância.
— Dá para contar nos dedos os investimentos de grandes frigoríficos em Santa Catarina nos últimos anos — alerta o presidente do Sindicato das Indústrias de Carnes e Derivados de Santa Catarina, Clever Pirola Ávila.
Segundo Ávila, o Estado importa anualmente cerca de 2,5 milhões de toneladas do cereal, situação que se agrava em períodos de estiagem.
Para trazer a carga são necessárias 66 mil viagens de caminhão, calcula o presidente da Aurora Alimentos e vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc), Mário Lanznaster. O presidente da Organização das Cooperativas do Estado, Marcos Zordan, lembra que as indústrias costumavam buscar o que faltava no Paraná.
Mas como o estado vizinho também passou a transformar seu milho em carne, inclusive ultrapassando Santa Catarina no ranking da produção de aves, os catarinenses tiveram de buscar milho no Centro-Oeste e até no Paraguai.
A carga, transportada por caminhões, aumenta ainda mais o custo da cadeia produtiva. Em algumas situações, o frete chega a custar mais caro do que o próprio produto.
No ano passado, quando houve escassez de milho no mercado interno, as agroindústrias nacionais chegaram a pagar até R$ 35 pela saca de 60 quilos do produto, enquanto que o normal seria um investimento em torno de R$ 25.
Com este cenário, agroindústrias estão diante de um verdadeiro impasse: ou vem a ferrovia, ou os investimentos vão para o Centro-Oeste. A Aurora ainda mantém investimentos na região em respeito à maioria dos associados, que estão em SC. Mas já está ampliando a produção também na planta de São Gabriel do Oeste (MS) pois também não quer perder competitividade em relação às outras indústrias.
Uma dívida com o Estado
O Estado tem 10 mil avicultores e foi líder na criação e exportação de aves gerando 40 mil empregos diretos e 80 mil indiretos, mas acabou sendo ultrapassado pelo Paraná na produção de frangos. Nos suínos, chegou a ter a liderança ameaçada.
Para o presidente do Sindicato das Indústrias de Carne e Derivados de Santa Catarina, Clever Pirola Ávila, o Estado é modelo nacional mas está ameaçado pela infraestrutura deficiente. Por isso, a ferrovia é vista como uma alternativa para revitalizar a produção estadual.
— A ferrovia é uma dívida que o Brasil tem com Santa Catarina — argumenta.
O deputado federal Pedro Uczai (PT) afirma que os chineses têm interesse nos grãos brasileiros. Porém, o Brasil precisa transformar a proteína vegetal em animal e exportar a carne para que, assim, exista maior valor agregado nos produtos nacionais.
Por isso, além da Ferrovia Leste-Oeste, de Itajaí até Dionísio Cerqueira, Uczai defende que as férreas tragam os grãos do Centro-Oeste para Santa Catarina. Na avaliação dele, a ferrovia Norte-Sul é uma possibilidade não só de trazer matéria-prima para as groindústrias catarinenses, mas também de levar os produtos de Santa Catarina para outras regiões do país.
Motivos para implantar o modal ferroviário
- O desafogamento das rodovias: 66 mil caminhões
- 30% do custo com matéria-prima para a produção de carnes são com logística
- 4% de queda do custo total da cadeia produtiva poderão ocorrer com a ferrovia.
- 8% da produção nacional de carnes de aves e suínos poderiam ser transportados pela Ferrovia do Frango.
- 4 mil caminhões: é a estimativa da frota que a Ferrovia Leste-Oeste irá retirar das BRs 282 e 470.
- 36% a 40% mais ecômico do que o transporte rodoviário, esta é a estimativa do presidente da Frente Parlamentar das Ferrovias do Congresso, Pedro Uczai.
Fonte: Diário Catarinense/Darci Debona
PUBLICIDADE