Apesar da expectativa de uma produção elevada de soja nesta safra, agricultores de Mato Grosso não devem enfrentar problemas com armazenagem dos grãos. A venda do estoque de milho com os leilões do governo e a comercialização antecipada da soja liberou espaço nos silos. Mesmo assim o assunto preocupa os produtores.
Na propriedade de Guilherme Lawish não deve faltar espaço para armazenar a soja. A comercialização antecipada chegou a 80%, impulsionada pelas boas cotações do grão. Dos 5,5 mil hectares, 500 já foram colhidos.
– Muitas vezes a gente já vende e as empresas já retiram do armazém. Com isso só estocamos o que vai ficando por último, o que a gente vai deixando pra vender no final por causa do preço. A preocupação mesmo é sempre com o estoque do milho, que a gente fica segurando bastante por causa dos preços – comenta o produtor rural.
Apesar da aparente tranquilidade, o assunto preocupa. De acordo com o Imea, a capacidade estática de armazenagem em Mato Grosso é de pouco mais de 25 milhões de toneladas. A previsão é de que nesta safra, só as lavouras de soja produzam mais de 19 milhões de toneladas. Esta relação ajustada não representaria problemas se a circulação dos produtos fosse regular. Só que nem sempre é assim, e quando os preços oferecidos pelos grãos não são motivadores, a apreensão com os estoques aumenta.
Nas duas últimas safras foi justamente isso o que aconteceu com o milho. As baixas cotações provocaram uma lentidão nas vendas. Os armazéns ficaram cheios e faltou espaço para guardar o restante da produção. O jeito foi estocar os grãos a céu aberto, sem proteção nenhuma contra eventuais alterações climáticas.
O produtor rural Nélio Piva sentiu na pele esta situação. O agricultor conta que apesar de construir dois silos na fazenda, ainda faltou espaço para armazenar os grãos.
– A situação foi complicada, tivemos que tirar o milho da lavoura e como os armazéns estavam cheios, tivemos que colocar o milho no chão. Deixei nove mil toneladas no chão. Ficou 60 dias na roça, tomando chuva, tivemos que correr pra cobrir com lona, uma situação complicada – afirma.
Este ano ele espera não passar por isso novamente. Já vendeu mais da metade da soja que será colhida e com os bons preços pagos pelo milho, também deve apostar na negociação antecipada do cereal. Mesmo assim admite: se tivesse condições investiria na construção de novos silos na propriedade.
– A hora que tiver condições de fazer armazém, faremos mais um “graneleiro”, com certeza. Pra não termos que passar novamente por situações como esta, de ter que jogar milho no chão – diz Nélio Piva.
Segundo o agricultor, para construir um armazém com capacidade para estocar 150 mil sacas, são necessários pelo menos dois milhões de reais. Enquanto nem todos os produtores têm condições de realizar este investimento, o jeito é torcer para a permanência dos bons preços e para a liquidez da soja. Só assim os agricultores poderão dizer que a preocupação com os estoques ficou para segundo plano.
Em Mato Grosso, quase 66% da produção do grão já foi comercializada.
Fonte: Só Notícias
PUBLICIDADE