A Uniduto Logística anunciou ontem a decisão de construir um porto offshore (afastado da costa) na cidade de Praia Grande (litoral Sul de São Paulo) com capacidade para movimentar 9,4 milhões de toneladas de etanol por ano. Orçado em R$ 300 milhões, o empreendimento integrará o Projeto Uniduto, que prevê a construção de um corredor dutoviário de 612,4 quilômetros interligando 46 municípios do Estado até o terminal portuário. O sistema como um todo demandará investimentos de R$ 3 bilhões e terá capacidade para escoar 13,1 milhões de toneladas de álcool.
No fim de julho a empresa entregou o Estudo de Impacto Ambiental e o Relatório de Impacto Ambiental (EIA/Rima) à Secretaria de Meio Ambiente do Estado e estima que a licença prévia deva sair entre o fim deste ano e começo de 2011. A previsão é que as obras fiquem prontas em 2013.
A Uniduto foi criada em 2008 pelos maiores produtores de etanol do Brasil, que respondem juntos por um terço da produção nacional, dentre os quais: Copersucar, Cosan, São Martinho, Santa Cruz, São João e Bunge. As empresas buscavam uma saída logística independente e mais eficiente para levar o etanol dos centros produtores até o embarque no navio. Hoje, 97% da carga produzida no Brasil é transportada por rodovia. "Esse é um dos grandes benefícios do projeto. Falando da Baixada Santista, milhares de caminhões deixarão de circular na região", diz o presidente da empresa, Sergio Van Klaveren.
O terminal em Praia Grande será do tipo de uso privativo misto, modalidade que dispensa licitação e habilita a Uniduto a movimentar carga própria e de terceiros. Originalmente, destaca Klaveren, pelo menos 60% do etanol operado no terminal será produzido pelos sócios.
Mantidas as perspectivas atuais, a projeção é que o sistema alcance as 13,1 milhões de toneladas de capacidade entre 2022 e 2025. "O Brasil passa por uma situação em que o crescimento do etanol é uma certeza. Hoje, mais de 40% da frota interna de veículos leves é flex e mais de 90% da produção nacional de carros também. Nos próximos 10 a 15 anos provavelmente esses atuais 40% se transformarão em quase 100%. Imagine o que isso representará", diz o executivo. Soma-se a isso o fato de países da Europa e os Estados Unidos acenarem com apostas em uma matriz mais limpa. "Nesse sentido o etanol é um grande candidato."
No primeiro ano de operação o sistema deverá movimentar 5,5 milhões de toneladas. Cerca de 70% desse volume será destinado à exportação; o restante será redirecionado para o mercado doméstico, por meio da navegação de cabotagem (transporte marítimo realizado entre portos do mesmo país). "Hoje existe potencial de se mandar o etanol para o Norte, o Nordeste e o Sul do país por cabotagem, modal ainda pouco utilizado", destaca Klaveren.
A captação da carga será feita basicamente em quatro centros: Anhembi, Botucatu, Serrana (ao lado da região de Sertãozinho e Ribeirão Preto) e Santa Bárbara d'Oeste, que também concentrará o etanol. O corredor terá ainda dois terminais de distribuição para o mercado interno em Paulínia e em Caieiras (Região Metropolitana de São Paulo).
Em Praia Grande será construída uma instalação na retroárea de 200 mil metros quadrados com capacidade para armazenar 260 mil metros cúbicos. Os dutos avançarão enterrados pelo leito marinho até emergirem numa monoboia - dispositivo flutuante que abastecerá os navios.
O equipamento ficará distante 13 quilômetros da costa, onde a profundidade é superior a 20 metros e permite, portanto, o carregamento de superpetroleiros, "o que não deve ser o caso por enquanto", salienta Klaveren, pois o sistema será destacado para movimentar etanol.
Hoje, o álcool produzido no Estado é embarcado no porto de Santos, que perderá parte dessa carga - no primeiro semestre do ano, o complexo escoou 4 milhões de toneladas de etanol. "Mas temos de lembrar que essas empresas não trabalham só com o álcool hidratado e anidro", destaca Klaveren, citando os tipos que serão operados no Projeto Uniduto.
Fonte: Valor Econômico/ Fernanda Pires, para o Valor, de Santos
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