A observação do noticiário internacional apresenta o aumento de variáveis para o preço do barril de petróleo. Historicamente guerras, a geopolítica e a demanda baseada na expansão das economias eram os principais fatores. Agora devemos acrescentar a transição energética, a pressão das populações contra investimentos em combustíveis fósseis e a maior taxação dos governos sobre lucros das empresas petrolíferas. Esses novos fatores apresentam uma carga de incerteza elevada. Não se sabe ao certo como medir seus impactos.
O relatório da OPEP de novembro de 2022 apresenta preços por barril de US$ 93,59 para o Brent e US$ 87,03 para o WTI. A tendência de queda, em relação aos US$ 100 por barril, prossegue nos preços futuros de US$ 79,40 em fevereiro de 2023 para o Brent, e de US$ 74,25 para o WTI em janeiro de 2023. A Petrobras, no Plano Estratégico 2023-2027, estima os preços do barril do Brent em queda de US$ 85 em 2023 para US$ 65 em 2027. Pode ser argumentado que a Petrobras está considerando um cenário muito rigoroso. A OPEP diz que serão necessários US$ 12,1 trilhões em investimentos nas próximas duas décadas para atender à demanda por hidrocarbonetos até 2050.
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A IEA (Internatinal Energy Agency) vê a crise energética global acelerando o uso de energia renovável em todo o mundo. Com sua participação na matriz dobrando nos próximos cinco anos e ultrapassando o carvão como a maior fonte de geração de eletricidade. A visão da OPEP contrasta com previsões de que previram a demanda por petróleo atingirá um platô antes mesmo de 2030, já que a energia renovável e os carros elétricos estão prontos para crescer em um ritmo mais rápido. O relatório da OPEP reconhece o papel crescente das energias mais limpas ou renováveis, que devem complementar os hidrocarbonetos, principalmente energia solar, eólica e geotérmica, com expansão de 7,1% ao ano, em média, mais rápido do que qualquer outra fonte.
A OPEP registra que a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos estão investindo pesadamente na expansão de produção de petróleo nos próximos anos. A Saudi Aramco expande sua produção para 13 milhões de bpd até 2027, a Adnoc aumentará a sua para 5 milhões de bpd, já em 2025. Iraque e Kuwait, também traçaram planos de longo prazo para aumentar sua produção de petróleo. A realidade é de retirar o petróleo do subsolo antes de sua queda de valor.
Países com maiores reservas de petróleo (bilhões de barris)
1 – capacidade de produção declinante para falta de investimentos. 2 – sanções.
A tabela só considera reservas tradicionais de petróleo, o que deixa de fora reservas de areias betuminosas do Canadá. Mesmo assim a situação da Venezuela chama atenção. A produção, que já foi acima de 3,5 milhões de barris/dia, atualmente é estimada em 1,5. No final de novembro, os EUA informaram a permissão para a Chevron retomar a produção, desde que as receitas do petróleo produzido sejam para pagar os débitos da Venezuela com a empresa e os pagamentos de impostos e royalties sejam aplicados em projetos de educação e saúde, através de um fundo fiscalizado por organismos internacionais e representantes da oposição.
As notícias também mostram que Qatar Energy e a ConocoPhillips assinaram acordo para fornecimento de gás natural para a Alemanha por 15 anos. Anteriormente um acordo da Qatar Energy foi assinado com a China para 27 anos de fornecimento. O que mostra a China diversificando suas opções fornecimento além da Rússia. A China Merchants Financial Leasing, informou, em dezembro, a aquisição de participação minoritária no FPSO "Cidade de Ilha Bela", da SBM, produzindo no campo de Sapinhoá, operado pela Petrobras, no pré-sal. A China Offshore Oil Corporation, em novembro, comprou 5% da participação da Petrobras no campo de Búzios, por US$ 1,9 bilhão.
Em novembro a Shell informou o adiamento de 12 a 24 meses da decisão final de investimento no campo de Gato do Mato. O motivo pode ser o mesmo que levou a adiar decisões no Reino Unido, rumores de impostos extras sobre lucros. No Brasil, a Petrobras pisa no pedal de investimentos. O Plano Estratégico informa CAPEX (Capital Expenditures) em US$ bilhões, de 2023 a 2027 de 16,18, 18,14 e 13, respectivamente. Lançou, em outubro, a licitação para contratar mais 20 navios de apoio marítimo, podendo chegar à contratação de até 50 navios até 2023. Em dezembro a Petrobras contratou por US$ 1 bilhão as sondas de perfuração da Transocean "Deepwater Corcovado" e "Deepwater Orion", por quatro e três anos respectivamente.
O mercado mundial de sondas de perfuração offshore está em expansão com o surgimento de um novo mercado no Gabão, Senegal, Guiana, Trinidad & Tobago e Egito. Além dos mercados já tradicionais do Oriente Médio e da África (Nigéria e Angola). Recentemente, a Somália aprovou a exploração offshore pela Coastline Exploration, dos EUA. Uma decisão amparada por diversos departamentos do governo e pelo presidente do país. Mesmo assim, área total concedida para exploração de petróleo, no mundo, é de 320 mil quilômetros quadrados, a menor desde 2000, segundo a Rystad Energy.
Ivan Leão é diretor da Ivens Consult