A guerra na Ucrânia está influindo nas atividades de descomissionamento de plataformas de petróleo e gás. Que efeito isso está tendo no descomissionamento planejado?
A Associação de Portos Offshore de Amsterdã (AYOP) perguntou a participantes do mercado. "A ideia de que nossas plataformas holandesas eram supérfluas, está sendo revisada. Tudo o que você coloca no mar tem que ser limpo. Os produtores de petróleo e gás sabem que terão que desmantelar suas antigas plataformas no Mar do Norte quando não tiverem mais valor econômico”.
O descomissionamento estava no planejamento de tarefas por anos, entretanto, a guerra na Ucrânia o levou para um adiamento. Porque se ainda houver um pouco de petróleo ou gás no campo, reiniciar a plataforma nesses tempos de preços de petróleo sem precedentes, pode ser interessante.
Esta é a conclusão tirada, após análise sobre o impacto da guerra na Ucrânia no descomissionamento/desmantelamento das plataformas existentes. A AYOP falou com seus membros: BK Ingenieurs, Seafox, Boskalis Offshore & HeavyLifting e Port of Amsterdam, e eles estão aguardando para ver que efeito esta situação terá no mercado de transição energética, bem como impacto no descomissionamento e desmantelamento/reciclagem de plataformas
O contexto é de aguardar os acontecimentos
Neste momento, temos que olhar para o cronograma de descomissionamento dos produtores de petróleo e gás sob uma ótica diferente”, diz Michael Tetteroo, diretor de atividades comerciais na Europa da Seafox. “Durante anos, foi previsto um pico no número de projetos de descomissionamento no Mar do Norte. Mas tudo isso está sendo reorganizado”
Michael está se referindo aos produtores que estão atrasando o descomissionamento de plataformas devido aos altos preços atuais do petróleo “Ouvimos de nossos operadores que o próximo ano será diferente. Muitas plataformas ainda estão produzindo. Ou plataformas que antes eram colocadas em fundeio, agora estão sendo reiniciadas, desde que os poços ainda estejam operacionais”. Grandes investimentos estão sendo planejados e disponibilizados para esta atividade para o segundo semestre deste ano e para 2023.
O campo geopolítico deverá ser alterado por esta guerra.
Há uma estratégia em curso de ninguém querer depender do gás russo, e acho que isso está claro. A situação atual pode ser um impulso perfeito para a transição energética. Mas a realidade é que isso não acontecerá em um período de 10 a 20 anos, pois ainda precisaremos de petróleo e gás por um longo período.
Tarefas adiadas
O Porto de Amsterdã também está sendo impactado com as consequências da guerra na Ucrânia, afirmou o gerente comercial de offshore Allard Klinkers. “Desde 17 de abril, o porto está fechado ao transporte russo, com exceção de navios que transportam bens essenciais. Isso foi decidido pela União Europeia”.
O Porto de Amsterdã desempenha principalmente um papel facilitador no mercado, uma vez que as empresas que descomissionam plataformas trabalham em um raio de 20 quilômetros do porto. Atualmente, estas tarefas estão sendo adiadas.
Devido ao aumento dos preços do petróleo, os produtores têm muito recursos no banco, mas não pretendem gastá-los imediatamente; pois preferem ver quais investimentos podem trazer retorno mais imediato e quais serão os recursos a serem investidos em energias renováveis.
Além dos preços do petróleo, os preços do aço também estão elevados. Como muito aço reutilizável é liberado quando uma plataforma é desmantelada e reciclada, isso seria um incentivo para as empresas acelerarem seus planos. Em paralelo, leva um ano para preparar uma plataforma para ser descomissionada, desmantelada e reciclada, e não se pode colocar esse aço no mercado de imediato.
Este contexto deverá acelerar a transição energética, pois ficou muito claro o que significa ser dependente de um único fornecedor, como é o caso da Europa.
Eng. Prof. Ronald Carreteiro, M.SC, é CEO da RONA ASSESSORIA e Diretor da Sociedade Brasileira de Engenharia Naval (Sobena)
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