A prática de demurrage no contexto do transporte marítimo emerge como um mecanismo usado para assegurar a ininterrupção e eficiência nas operações portuárias, incidindo sobre atrasos na carga e descarga de mercadorias.
Também conhecida como sobre-estadia, esta taxa é devida nas hipóteses em que há a retenção do contêiner por tempo superior ao contratado e convencionado com o transportador, ou seja, quando o prazo de isenção chamado de free time é ultrapassado.
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Este conceito, fundamentado em uma complexa malha de normativas e acordos internacionais, objetiva indenizar os transportadores pelos prejuízos resultantes de tais atrasos.
Em um contexto jurídico, a demurrage encontra-se ancorada em diversos instrumentos legais, como o Código Civil e o Código Comercial, além de ser minuciosamente regulamentada nos contratos de frete.
A natureza jurídica deste custo, frequentemente interpretada como indenizatória, reflete sua função de compensar os transportadores pela retenção da unidade de carga após o término do prazo acordado para devolução, conforme estabelecido em contrato. Tais prazos e responsabilidades são claramente definidos em cláusulas contratuais, garantindo que as partes envolvidas tenham suas expectativas e obrigações formalmente acordadas.
Em tempos de conflitos globais, os desafios enfrentados pelo transporte marítimo se intensificam, afetando rotas comerciais e potencializando a incidência de demurrage.
Analisado o cenário recente, onde verificam-se os ataques a navios mercantes no Mar Vermelho, é possível visualizar os impactos palpáveis dessas situações, ressaltando a importância de uma gestão de risco e de planejamento estratégico eficazes para mitigar consequências adversas. As crises requerem uma interpretação cuidadosa dos contratos marítimos, particularmente no que diz respeito às cláusulas que emergem de custos indenizatórios.
A adoção de estratégias legais adaptáveis e a conformidade com boas práticas internacionais são cruciais para resolver futuros litígios de maneira justa, minimizando impactos financeiros e operacionais para todas as partes envolvidas.
Para amenizar os efeitos da taxa de sobre-estadia, recomenda-se a negociação detalhada dos termos contratuais, o uso de tecnologias para o monitoramento eficiente das cargas e a preparação para contingências.
A arbitragem marítima, neste contexto, destaca-se como uma solução eficaz e imparcial para a resolução de possíveis disputas.
Em suma, a gestão eficaz da demurrage é indispensável para a manutenção da eficiência no comércio global, exigindo um profundo entendimento de suas bases legais e operacionais, além da implementação de estratégias proativas para enfrentar os desafios impostos por conflitos globais e garantir um fluxo comercial estável.
Thallitta Luna é especialista em Direito Marítimo, Portuário e Aduaneiro na Nelson Wilians Advogados