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Artigo - Navios rumo à cidade portuária sustentável

"Gabriel e Cora, podem desenhar um navio?” E lá vem um grande barco, com fumaça e buzina. Esse navio do nosso imaginário infantil é ainda presente na paisagem de cidades portuárias. Se a buzina ressoando é nostálgica, a fumaça nem tanto.

A fumaça, cujo nome técnico é “gases de exaustão'', é um resíduo resultante da queima nos motores, caldeiras e/ou outros equipamentos da embarcação da mistura ar e combustível fóssil. A transformação da energia química em energia mecânica aparece para a cidade ao ser lançada na atmosfera, geralmente, pela chaminé da embarcação.


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Dentre os componentes dos gases de exaustão (ou da fumaça), os que trazem as maiores preocupações para o binômio cidade portuária e navio são: o monóxido de carbono (CO), o dióxido de carbono (CO2), o óxido nitroso (NOx), o óxido de enxofre (SOX) e os materiais particulados (PM). Os gases de maior preocupação quanto às emissões são os oriundos da combustão não estequiométrica — aquela onde há tantos gases que não conseguimos equilibrá-los quimicamente —, tipo de combustão que traz a nostalgica fumaça preta.

No contexto da cidade portuária, os gases tóxicos que a afetam diretamente são o CO, o NOx e o SOx. E como eles chegam às cidades portuárias? O SOx se dá pela presença do enxofre(S) no combustível do navio e, assim, quanto mais enxofre no combustível maior será a emissão de SOx. Já o NOx e o CO estão ligados à queima no motor; logo, quanto menor a carga de trabalho do motor maior a presença destes elementos nos gases de emissão.

O princípio da redundância tem como cerne conduzir as manobras com maior segurança, ou seja, manobras em canal requerem mais disponibilidade de motores. Como os motores estão com menor carga, temos muita queima de combustível com pouco ar e, assim, o aumento da probabilidade da presença de fumaça preta característica da paisagem urbano-portuária.

Conclusão, é justo nas manobras de atracação e desatracação que temos os maiores índices de consumo de combustível e a maior liberação dos gases de exaustão tóxicos. O problema da fumaça preta para a cidade portuária vai bem além da paisagem. A questão é que o Nox, SOx e o CO são nocivos à saúde. Lugares com navegação costeira e com rotas de cabotagem precisam considerar os impactos dos navios nas cidades portuárias.

Reconhecer os impactos negativos da atividade marítimo-portuária é o primeiro passo para a construção de impactos positivos e valores compartilhados. A indústria naval é tão variada que leva 10 vezes mais tempo para inserir as medidas de controle de emissão do que a indústria aeronáutica. A notícia boa é que, ainda assim, o setor marítimo é de vanguarda, tem avançado na criação e uso de novas tecnologias, inovação energética e descarbonização. Vários avanços têm acontecido rumo à harmonização da atividade portuária com os objetivos de desenvolvimento sustentável — os ODS.

Quem sabe, num futuro próximo, ao pedir aos nossos filhos para desenharem um navio, sairá um navio com velas de asa telescópica, ou com saídas para alimentação elétrica ou mesmo um navio em uma cidade portuária cujo destaque remete à harmonia entre atividade portuária e vida urbana. Sustentabilidade é um caminho de cooperação a ser trilhado de forma colaborativa entre navio, porto e cidade.

Flavia Nico e Luciana SumanFlavia Nico é doutora em Ciências Sociais, membro do Comitê Executivo da Wista Brazil, consultora no iPORTS Consultoria e Treinamentos, fundadora do Observatório Cidade e Porto/UFES e pesquisadora associada no LabPortos/UFMA

Luciana Suman é oficial de máquinas da marinha mercante, engenheira mecânica, engenheira de segurança, mestre em ciência e tecnologia dos materiais e está doutorando em engenharia naval e oceânica. É Diretora Técnica na Marmec Engenharia, Consultoria e Treinamentos e membro da Wista Brazil.






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